70 Anos da Revolução Comunista na China: como país pobre e rural se tornou potência mundial em 4 décadas
Sob a ideia de um "socialismo com traços chineses", líder Deng Xiaoping rompeu com o status quo e implementou uma série de reformas econômicas, centradas na agricultura, num ambiente liberal para o setor privado, na modernização da indústria e na abertura da China para o comércio exterior.
Quando Mao Tsé Tung (ou Zedong) chegou ao poder em 1949, a China estava dominada pela pobreza e devastada pela guerra.
Nesta terça-feira (1º), quando se completam 70 anos do triunfo dos comunistas, o país está radicalmente diferente: é uma potência mundial de primeira grandeza e aspira chegar ao topo da economia global.
Mas seu "milagre econômico", único na história, não se deve necessariamente ao "Grande Timoneiro", mas a uma campanha impulsionada por outro líder comunista, Deng Xiaoping.
A chamada "Reforma e Abertura" conseguiu tirar 740 milhões de pessoas da pobreza, segundo dados oficiais.
Sob a ideia de um "socialismo com traços chineses", Xiaoping rompeu com o status quo e implementou uma série de reformas econômicas, centradas na agricultura, num ambiente liberal para o setor privado, na modernização da indústria e na abertura da China para o comércio exterior.
Esse percurso afastou o país do comunismo de Mao Tsé Tung e "rompia as correntes" do passado, nas palavras do atual presidente chinês, Xi Jinping.
Um país pobre
A mudança de curso começou em 1978.
À época, a China era uma nação bastante diferente do que vemos hoje, em que equipara-se ao nível dos Estados Unidos e da União Europeia.
Era um país pobre, com um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 150 bilhões e uma população de 800 milhões de pessoas. Hoje, são 1,38 bilhão de habitantes e um PIB de US$ 12 trilhões, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).
Mao, o histórico fundador da República Popular da China, havia morrido anos antes das mudanças de Xiaoping, deixando um controverso legado.
Entre seus grandes projetos estão o Grande Salto Adiante (1958-62), que buscava transformar a economia agrária do país e provocou uma escassez de alimentos que levou à morte de ao menos 10 milhões de pessoas (fontes independentes falam em até 45 milhões de mortos); e a Revolução Cultural (1966-76), uma campanha de Mao contra os partidários do "capitalismo", que também levou a milhões de mortos e paralisou a economia nacional.
Foi nesse cenário de pobreza e fome que Deng Xiaoping, então secretário-geral do Partido Comunista da China), propôs suas reformas.
Nova fórmula
Xiaoping optou pelas chamadas "quatro modernizações" e uma evolução da economia na qual o mercado teria um protagonismo crescente.
Para ele, não importava se o sistema econômico chinês era comunista ou capitalista, mas sim se funcionava. "Não importa se o gato é preto ou branco desde que cace ratos", afirmou o chinês em um discurso na conferência da Liga da Juventude Comunista da China.
Seu programa foi ratificado em 18 de dezembro de 1978 por parte do comitê central do Partido Comunista da China e tornou a modernização econômica sua principal prioridade.
Nos anos seguintes, foram colocadas em prática mudanças que até então eram consideradas bastante ambiciosas e enfrentaram resistência da ala mais conservadora do partido no poder.
O setor agrícola, por exemplo, abandonou progressivamente o sistema maoísta de economia rural planificada, que permitiu incrementar a produtividade e tirar regiões do país da pobreza, fomentando a migração de mão de obra para zonas urbanas.
Também floresceram as cadeias do setor privado e, pela primeira vez desde a criação da República Popular em 1949, o país se abriu para investimentos estrangeiros.
Se na economia planificada o Estado determina o tipo, a quantidade e o preço das mercadorias que serão produzidas, na economia de mercado são as forças da oferta e da demanda que estabelecem o que é comprado e vendido.
Em sua cruzada para modernizar e fazer crescer a economia, o líder chinês incentivou sua equipe a aprender com as potências ocidentais.
Foram criadas também zonas econômicas especiais, como a da cidade de Shenzhen, que sofreu uma transformação incrível e hoje é conhecida como o Vale do Silício chinês.
Essa abertura ao exterior contribuiu para aumentar a capacidade produtiva da China e fomentar novos métodos de gestão.
Depois de um longo processo, as mudanças permitiram que a China conseguisse entrar na Organização Mundial do Comércio em 2001, ingresso que lhe abriu definitivamente as portas para a globalização e catalisou seu progresso econômico.
Assim, em 2008, quando a crise econômica global estourou e o Ocidente saiu em busca de novos mercados, a China conseguiu se destacar entre todos os outros e se converteu na "fábrica do mundo".
Apesar do boom econômico, a China luta agora para se descolar dessa função: quer deixar a manufatura para trás e se tornar um país conhecido pela inovação.
À medida que o gigante asiático amadureceu, o crescimento do seu PIB desacelerou significativamente.
Se em 2007 era de 14,2%, em 2018 esse percentual de expansão foi reduzido para 6,6%.
Mas se olharmos mais para trás, desde 1980, o tamanho da economia chinesa foi multiplicado por 42.
Até 2030, os economistas estimam que o crescimento do país será reduzido a aproximadamente um terço do percentual atual.
Mas ainda assim seria suficiente para superar os Estados Unidos como a maior economia do mundo.
E as mudanças políticas?
A despeito do progresso econômico, as reformas trouxeram também consequências negativas para o país, como a alta desigualdade social e a grave contaminação do ar em diversas cidades chinesas.
Mas, segue intacto o rígido sistema de governo de partido único no país inaugurado com a revolução.
Críticos e ativistas denunciam uma crescente repressão dos direitos humanos e uma concentração de poder ainda maior em torno do atual presidente Xi Jinping, responsável por restringir ainda mais as liberdades da população.
Desde que ele aboliu o limite temporal de sua Presidência, no ano passado, as notícias sobre descontentamentos com o governo cruzaram as fronteiras chinesas.
Seus críticos o acusam de concentrar ainda mais o poder e de promover uma campanha de culto a sua personalidade em nível inédito desde os tempos de Mao.
O mandatário também tem estado sob a mira da comunidade internacional por conta das denúncias sobre sistemas de vigilância massiva da população, de queixas de trabalhadores por jornadas laborais desmedidas e de detenções de membros da minoria muçulmana em campos de detenção na região de Xinjiang.
No aniversário de 40 anos da "Reforma e Abertura", em dezembro passado, o mandatário chinês enfatizou a importância da "liderança" do Partido Comunista Chinês em seu discurso no Grande Palácio do Povo de Tiananmen, praça de Pequim onde o Exército reprimiu com violência manifestações a favor de reformas políticas, deixando um número desconhecido de mortos.
Esse obscuro capítulo da história recente da China segue sendo um tabu, como qualquer crítica ao sistema político chinês.
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