Desigualdade na China: a jovem que se alimentou só de arroz e pimenta por 5 anos
Durante cinco anos, ela viveu com 2 yuans por dia (cerca de R$ 1,15), comendo apenas arroz e pimenta enquanto lutava para continuar estudando e sustentando seu irmão doente.
Quando veio à tona, o caso da estudante Wu Huayan, 24, causou comoção na China. E também revolta contra autoridades, por não terem identificado antes o quadro de dificuldade e desnutrição e prestado ajuda.
As reportagens sobre o caso da jovem, que acabou hospitalizada, geraram uma onda de doações que já totalizam o equivalente a quase R$ 450 mil.
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Mas como Wu Huayan chegou a esse ponto trágico?
Impacto nos rins, pulmões e coração
Segundo a mídia chinesa, no início do mês uma garota deu entrada no hospital com dificuldade para respirar.
Ela tinha apenas 1,35m, e pouco mais de 20 kg.
A equipe médica identificou que ela tinha problemas no coração e nos rins por causa de sua alimentação desequilibrada. A jovem afirmou às autoridades que ela precisava economizar dinheiro para sustentar seu irmão doente.
Wu Huayan perdeu sua mãe quando tinha quatro anos, e o pai quando ainda estava na escola.
Ela e seu irmão foram sustentados por uma avó, e depois por tios que só podiam ajudá-los com 300 yuans por mês (cerca de R$ 170).
Grande parte dessa quantia era gasta em despesas médicas de seu irmão mais novo, que tem problemas de saúde mental.
Para ela, sobravam apenas 2 yuans por dia, suficiente para comprar arroz e pimenta.
Os irmãos são de Guizhou, província com o maior nível de pobreza rural do país, que afeta 2,95 milhões de pessoas, ou 7% da população.
Quais foram as reações ao caso?
O caso da jovem com quadro de desnutrição gerou ondas de comoção, solidariedade e revolta.
Para além das doações em plataformas de vaquinha online, seus professores e colegas de sala doaram o equivalente a quase R$ 23 mil, e vizinhos arrecadaram outros R$ 17 mil.
Segundo as autoridades, a jovem vinha recebendo a subvenção mínima do governo, entre R$ 170 e R$ 400 por mês, e agora terá acesso a um recurso emergencial de quase R$ 11,3 mil.
"Nós continuaremos acompanhando o caso dessa determinada e amável jovem", afirmou o poder público da cidade Tongren.
Quão grave é a pobreza na China?
O caso de Wu Huayan traz ecos da história do garoto que chegou à escola com os cabelos congelados em 2018, e também gerou comoção, doações e surpresa sobre o nível de pobreza de parte da sociedade chinesa.
Se por um lado a economia da China deslanchou nas últimas décadas, a pobreza não desapareceu e a desigualdade aumentou.
Uma das principais razões é o abismo socioeconômico entre zonas rurais e urbanas.
Segundo dados oficiais, a renda domiciliar per capita média na capital Pequim foi de 57.229 yuans (o equivalente a R$ 32.480, ou US$ 8.090) em 2017. Na região rural de Guizhou, onde vivem Wu e seu irmão, a renda média naquele ano foi de 16.703 yuans (cerca de R$ 9.482).
A China passou de "moderadamente desigual em 1990 para se tornar hoje um dos países mais desiguais do mundo", segundo um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) em 2018.
Em 2017, 30,5 milhões de pessoas que moravam na zona rural da China ainda viviam com renda menor que a linha de pobreza, de US$ 1,90 ao dia (cerca de R$ 7,60), segundo o Departamento Nacional de Estatísticas.
A China anunciou que pretende "erradicar" a pobreza do país em 2020.
Entre 1990 e 2015, o número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza caiu de 1,9 bilhão para 735 milhões. Isso significa que a parcela da população global considerada pobre, por essa definição, caiu de 36% para 10% no mesmo período.
No Brasil, que possui um programa bem-sucedido de transferência de renda, a pobreza caiu de 21,6% em 1990 para 2,8% em 2014, mas subiu para 4,8% (afetando 10 milhões de pessoas) em 2017.
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