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O que significam as fotos de Kim Jong-un cavalgando em monte sagrado na Coreia do Norte

Kim Jong-un estava acompanhado por sua esposa e altos oficiais militares - AFP/KCNA
Kim Jong-un estava acompanhado por sua esposa e altos oficiais militares Imagem: AFP/KCNA

Da BBC

04/12/2019 16h53

A Coreia do Norte divulgou fotos de seu líder, Kim Jong-un, andando mais uma vez a cavalo no sagrado Monte Paektu. O movimento é cheio de simbolismo: as viagens anteriores até a montanha precederam grandes anúncios.

É a segunda vez em menos de dois meses que o líder norte-coreano é visto sobre um cavalo branco na montanha. Nas imagens mais recentes, ele aparece acompanhado por sua esposa e altos oficiais militares.

O último passeio a cavalo ocorreu quando a mídia estatal informou que haveria uma rara reunião dos líderes do partido no final deste mês para discutir "questões cruciais" sobre "a situação alterada internamente e no exterior". Não foram divulgados mais detalhes sobre o que seria discutido.

Kim estabeleceu um prazo até o fim do ano para os EUA oferecerem mais concessões para salvar as negociações sobre o programa nuclear norte-coreano. Em um comunicado divulgado na terça-feira (03/12), o governo da Coreia do Norte disse que cabe aos EUA escolher o "presente de Natal" que quer receber de Pyongyang.

O que sabemos sobre a viagem?

A Agência Central de Notícias da Coreia (KCNA), que é estatal, divulgou na quarta-feira várias fotos de Kim, sua esposa e altos oficiais militares montando cavalos brancos no Monte Paektu, coberto de neve.

A agência informou que Kim visitou os "locais de batalhas revolucionárias" perto da montanha antes de chegar ao cume.

Antes, ele havia informado que subiu o pico de 2.750 metros a cavalo em meados de outubro.

Na última viagem, ele lembrou aos norte-coreanos "sempre viverem e trabalharem no espírito aguerrido de Paektu", segundo a agência. Kim disse que isso é importante no momento em que "os imperialistas e inimigos de classe fazem uma tentativa mais frenética de minar as posições ideológicas, revolucionárias e de classe do nosso partido".

Divulgação de imagens do líder cavalgando no Monte Paektu costumam preceder anúncios importantes - KCNA/AFP - KCNA/AFP
Divulgação de imagens do líder cavalgando no Monte Paektu costumam preceder anúncios importantes
Imagem: KCNA/AFP

"É a determinação e a vontade consistentes de nosso partido de defender e levar por toda a eternidade as gloriosas tradições revolucionárias que têm suas raízes no Monte Paektu", acrescentou.

Qual é o simbolismo?

O Monte Paektu tem um lugar especial na identidade do país: um vulcão ativo, é considerado o local de nascimento do pai de Kim, Kim Jong-il, e serviu como uma base militar importante para seu avô Kim Il-sung, o líder fundador da Coreia do Norte.

O pico da montanha, situado na fronteira com a China, é considerado um lugar sagrado no folclore coreano. Acredita-se que é o local de nascimento de Dangun, o fundador do primeiro reino coreano há mais de 4.000 anos.

Kim Jong-un no Mount Paektu em outubro - AFP - AFP
Kim Jong-un no Mount Paektu em outubro
Imagem: AFP

Isso também é parte da propaganda que glorifica a família Kim, que se diz descendente de uma "linhagem do Monte Paektu".

Michael Madden, especialista em Coreia do Norte, disse à BBC que "cavalos e as cavalgadas têm um grande simbolismo na cultura coreana em geral e na cultura política (da Coreia do Norte) em particular".

Os cavalos aparecem na mitologia coreana por meio de Chollima, um cavalo com asas que percorre pelo menos 400 km por dia, e Mallima, um cavalo que pode percorrer longas distâncias a velocidades extremamente rápidas. Referências a ambos foram usadas na condução de construções econômicas no país, disse Madden.

Ele acrescentou que, andando a cavalo, Kim também estava aludindo às "origens de Kim Il-sung como um combatente da guerrilha, que é uma maneira de evidenciar as referências 'antiimperialistas'."

O que isso poderia significar?

Analistas dizem que a visita ao monte pode sinalizar os preparativos para uma postura mais conflituosa.

"A mensagem está pronta, 'será um grande ano para nós'", avaliou o professor John Delury, da Universidade Yonsei, em Seul, em entrevista à agência de notícias Reuters. "Não será um ano de diplomacia e cúpula, mas sim de força nacional."

Ele acrescentou que a reunião dos líderes do partido também foi significativa. "Esta não é uma reunião padrão", disse ele, explicando que foi a primeira vez que esse encontro ocorreu duas vezes em um ano durante a gestão de Kim.

Rachel Minyoung Lee, analista do site de monitoramento NK News, disse que a decisão de realizar a reunião antes do fim do ano "indica sua forte determinação".

"Considerando o anúncio da plenária do partido e a visita ao Monte Paektu juntos, a 'resolução' parece ser que a Coreia do Norte não vai ceder aos EUA e que continuará resistindo apesar das dificuldades", disse ela à Reuters.

As negociações nucleares entre a Coreia do Norte e os EUA foram paralisadas, com Pyongyang buscando mais concessões para voltar à mesa. Pyongyang deu aos EUA até o final do ano para acabar com sua "política hostil" ou disse que seguiria um "novo caminho".

Donald Trump esteve com Kim Jong-un na zona desmilitarizada que separa as duas Coreias neste ano - Reuters - Reuters
Donald Trump esteve com Kim Jong-un na zona desmilitarizada que separa as duas Coreias neste ano
Imagem: Reuters

Os EUA pediram a Pyongyang que se desfaça de uma porção significativa de seu arsenal nuclear antes que as sanções econômicas sejam flexibilizadas.

Especialistas disseram que é improvável que os EUA façam novas propostas que satisfaçam a Coreia do Norte.

Na terça-feira, o presidente dos EUA, Donald Trump, pediu que Kim desnuclearize o país.

"Agora, temos as forças armadas mais poderosas que já tivemos, e somos de longe o país mais poderoso do mundo, e esperamos não precisar usar isso. Mas, se precisarmos, vamos usar", disse, de acordo com a Associated Press.

Quais foram as outras vezes em que Kim subiu a montanha?

Kim teria subido a montanha várias vezes no passado, muitas vezes antes de fazer grandes anúncios. Isso inclui uma viagem à montanha em 2017, que ocorreu algumas semanas antes do discurso de seu ano novo, em que ele sugeriu uma suavização diplomática com a Coreia do Sul.

No ano seguinte, ele fez uma visita conjunta à montanha com o presidente sul-coreano, Moon Jae-in.

A visita de dois meses atrás provocou especulações de uma mudança na estratégia de negociação nuclear de Pyongyang.