As 'cicatrizes' ainda visíveis do 1º teste submarino de bomba atômica, 73 anos depois
Setenta e três anos após a primeira explosão nuclear subaquática, os cientistas retornam para mapear o local.
A data era 25 de julho de 1946. A localização, o Atol de Bikini. O evento, a quinta explosão da bomba atômica e a primeira detonação na água.
As fotos que todos nós vimos: uma nuvem gigante de cogumelo saindo do Pacífico, varrendo navios que foram deliberadamente deixados ali para mostrar do que a guerra nuclear era capaz.
Agora, 73 anos depois, os cientistas voltaram a mapear o fundo do mar.
Uma cratera ainda está presente; também os restos retorcidos de todas essas embarcações.
"Bikini foi escolhido devido à sua distância e à sua grande lagoa de fácil acesso", explica o líder da equipe de pesquisa, Art Trembanis, da Universidade de Delaware.
"Na época, (o famoso comediante americano) Bob Hope brincou: 'assim que a guerra terminou, encontramos o único local na Terra que não havia sido tocado pela guerra e o explodimos'."
Dois testes americanos, Able e Baker, foram conduzidos no atol, no que ficou conhecido como Operação Crossroads. O dispositivo Baker era uma bomba de 21 quilotons e foi colocado 27m abaixo da superfície do Pacífico.
A explosão arremessou dois milhões de toneladas de água, areia e coral pulverizado pelos ares.
Depressão bem definida
Apesar da extraordinária liberação de energia, o Dr. Trembanis pensou que grande parte do fundo do mar já estaria coberta de sedimentos.
Mas sua equipe interdisciplinar de oceanógrafos, geólogos, arqueólogos e engenheiros marinhos encontrou uma depressão bem definida.
Usando sonar, eles mapearam uma estrutura de 800m de diâmetro por cerca de 10m de relevo.
"Parece que o Capitão Marvel deu um soco no planeta e fez um estrago nele", disse Trembanis a repórteres na reunião da União Geofísica Americana, onde ele está apresentando as investigações da equipe.
"Queríamos puxar a cortina e poder realmente revelar essa cena", disse ele à BBC News.
"Só no final dos anos 80, início dos anos 90, os mergulhadores puderam entrar na área. E naquela época, eles só podiam dar uma olhada limitada em alguns destroços. Mas nós usamos tecnologia avançada de sonar; pudemos retratar a cena inteira. É um pouco como visitar o Grand Canyon com uma lanterna, em vez de passar no meio do dia e iluminar toda a área."
"Pudemos começar a ver a posição dos navios, ver como eles estavam alinhados um com o outro e pudemos ver que essa cratera ainda permanece - a natureza ainda está nos mostrando essa ferida que recebeu da bomba."
A cratera tem uma estrutura ondulada que parece um pouco com pétalas de rosa. É uma evidência de todo o material lançado inicialmente no céu, que caiu de novo por meio da coluna d'água, se espalhando pelo fundo do mar.
Parte da motivação para a pesquisa foi entender melhor os impactos ambientais. Embora os níveis de radiação sejam muito reduzidos, há um problema contínuo de poluição vinda dos navios.
Esses navios - unidades antigas das marinhas americana, japonesa e alemã - não estavam preparados para se tornarem recifes artificiais. Se essa fosse a intenção, eles teriam sido esvaziados.
Mas a ideia era que eles fossem deixados em posição como se estivessem operacionais. Isso significava que estavam abastecidos e até tinham munições a bordo.
"Enquanto estávamos fazendo o mapa, eu soube sem olhar quando estávamos perto do Saratoga (porta-aviões dos EUA), porque sentíamos o cheiro do combustível", diz Trembanis.
"O Nagato - que era a nau capitânia japonesa em que (o almirante Isoroku) Yamamoto usou para planejar o ataque a Pearl Harbor - tinha uma faixa de combustível saindo dele por muitos quilômetros."
À medida que os navios continuam a se desintegrar na água, essa poluição pode se tornar um problema muito maior, disse Trembanis.
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