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As 'cicatrizes' ainda visíveis do 1º teste submarino de bomba atômica, 73 anos depois

A explosão do teste Baker - Comando de História e Patrimônio Naval
A explosão do teste Baker Imagem: Comando de História e Patrimônio Naval

Jonathan Amos - Correspondente de Ciência da BBC em São Francisco

10/12/2019 15h52

Setenta e três anos após a primeira explosão nuclear subaquática, os cientistas retornam para mapear o local.

A data era 25 de julho de 1946. A localização, o Atol de Bikini. O evento, a quinta explosão da bomba atômica e a primeira detonação na água.

As fotos que todos nós vimos: uma nuvem gigante de cogumelo saindo do Pacífico, varrendo navios que foram deliberadamente deixados ali para mostrar do que a guerra nuclear era capaz.

Agora, 73 anos depois, os cientistas voltaram a mapear o fundo do mar.

Uma cratera ainda está presente; também os restos retorcidos de todas essas embarcações.

"Bikini foi escolhido devido à sua distância e à sua grande lagoa de fácil acesso", explica o líder da equipe de pesquisa, Art Trembanis, da Universidade de Delaware.

"Na época, (o famoso comediante americano) Bob Hope brincou: 'assim que a guerra terminou, encontramos o único local na Terra que não havia sido tocado pela guerra e o explodimos'."

Dois testes americanos, Able e Baker, foram conduzidos no atol, no que ficou conhecido como Operação Crossroads. O dispositivo Baker era uma bomba de 21 quilotons e foi colocado 27m abaixo da superfície do Pacífico.

A explosão arremessou dois milhões de toneladas de água, areia e coral pulverizado pelos ares.

Depressão bem definida

Apesar da extraordinária liberação de energia, o Dr. Trembanis pensou que grande parte do fundo do mar já estaria coberta de sedimentos.

Mas sua equipe interdisciplinar de oceanógrafos, geólogos, arqueólogos e engenheiros marinhos encontrou uma depressão bem definida.

Usando sonar, eles mapearam uma estrutura de 800m de diâmetro por cerca de 10m de relevo.

"Parece que o Capitão Marvel deu um soco no planeta e fez um estrago nele", disse Trembanis a repórteres na reunião da União Geofísica Americana, onde ele está apresentando as investigações da equipe.

"Queríamos puxar a cortina e poder realmente revelar essa cena", disse ele à BBC News.

"Só no final dos anos 80, início dos anos 90, os mergulhadores puderam entrar na área. E naquela época, eles só podiam dar uma olhada limitada em alguns destroços. Mas nós usamos tecnologia avançada de sonar; pudemos retratar a cena inteira. É um pouco como visitar o Grand Canyon com uma lanterna, em vez de passar no meio do dia e iluminar toda a área."

"Pudemos começar a ver a posição dos navios, ver como eles estavam alinhados um com o outro e pudemos ver que essa cratera ainda permanece - a natureza ainda está nos mostrando essa ferida que recebeu da bomba."

A cratera tem uma estrutura ondulada que parece um pouco com pétalas de rosa. É uma evidência de todo o material lançado inicialmente no céu, que caiu de novo por meio da coluna d'água, se espalhando pelo fundo do mar.

Parte da motivação para a pesquisa foi entender melhor os impactos ambientais. Embora os níveis de radiação sejam muito reduzidos, há um problema contínuo de poluição vinda dos navios.

Esses navios - unidades antigas das marinhas americana, japonesa e alemã - não estavam preparados para se tornarem recifes artificiais. Se essa fosse a intenção, eles teriam sido esvaziados.

Mas a ideia era que eles fossem deixados em posição como se estivessem operacionais. Isso significava que estavam abastecidos e até tinham munições a bordo.

"Enquanto estávamos fazendo o mapa, eu soube sem olhar quando estávamos perto do Saratoga (porta-aviões dos EUA), porque sentíamos o cheiro do combustível", diz Trembanis.

"O Nagato - que era a nau capitânia japonesa em que (o almirante Isoroku) Yamamoto usou para planejar o ataque a Pearl Harbor - tinha uma faixa de combustível saindo dele por muitos quilômetros."

À medida que os navios continuam a se desintegrar na água, essa poluição pode se tornar um problema muito maior, disse Trembanis.