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Quem é Otávio de Noronha, presidente do STJ que concedeu prisão domiciliar a Queiroz

O ministro João Otávio de Noronha, do STJ, concedeu prisão domiciliar a Fabrício Queiroz nesta quinta-feira (9) - STJ-Lucas Pricken
O ministro João Otávio de Noronha, do STJ, concedeu prisão domiciliar a Fabrício Queiroz nesta quinta-feira (9) Imagem: STJ-Lucas Pricken

09/07/2020 19h29

O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio de Noronha, concedeu nesta quinta-feira (9) prisão domiciliar a Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro preso preventivamente em junho. O benefício também foi concedido para a mulher de Queiroz, Márcia Aguiar, embora ela esteja foragida da Justiça.

No pedido pela prisão domiciliar, os advogados destacaram que Queiroz está com câncer. Devido a essas "condições pessoais de saúde", Noronha considerou que o caso de Queiroz se enquadra nas recomendações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para prisão domiciliar durante a pandemia de coronavírus.

"O mesmo vale para sua companheira, Márcia Aguiar, por se presumir que sua presença ao lado dele seja recomendável para lhe dispensar as atenções necessárias, visto que, enquanto estiver sob prisão domiciliar, estará privado do contato de quaisquer outras pessoas (salvo de profissionais da saúde que lhe prestem assistência e de seus advogados)", informou o STJ, ao divulgar a decisão.

Noronha determinou que ambos sejam monitorados eletronicamente e proibiu o casal de usar telefones, computadores e tablets.

Queiroz e sua mulher tiveram a prisão preventiva decretada pelo juiz Flávio Itabaiana, que entendeu haver indícios suficientes de que o casal estaria tentando atrapalhar as investigações que buscam apurar um esquema de desvio de recursos do antigo gabinete de deputado estadual de Flávio Bolsonaro.

Presidente Bolsonaro: 'amor à primeira vista' por Noronha

A análise do recurso coube a Noronha porque, como presidente da Corte, é ele o responsável pelo plantão do STJ durante o recesso de julho do Poder Judiciário.

O presidente do STJ tem boa relação com o presidente Jair Bolsonaro, pai de Flávio Bolsonaro.

Noronha é apontado como um dos nomes cotados para ser indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF) por Bolsonaro. O presidente terá direito a nomear um ministro para a Corte em novembro, quando Celso de Mello se aposenta, e outro em julho de 2021, quando será a vez de Marco Aurélio Mello se aposentar.

No final de abril, a proximidade de Noronha com o presidente ficou pública quando Bolsonaro o cumprimentou, durante a posse de André Mendonça como ministro da Justiça.

"Prezado Noronha, permita-me fazer assim, presidente do STJ. Eu confesso que a primeira vez que o vi foi um amor à primeira vista. Me simpatizei com Vossa Excelência", disse Bolsonaro na ocasião.

Dias depois, em 8 de maio, o presidente do STJ derrubou decisões judiciais de primeira e segunda instância que obrigavam o presidente a divulgar seus exames de coronavírus para comprovar que os testes haviam dado negativo.

"Não é porque o cidadão se elege presidente ou e ministro que não tem direito a um mínimo de privacidade. A gente não perde a qualidade de ser humano por exercer um cargo de relevância na República", chegou a defender Noronha, em entrevista, antes da decisão.

O presidente acabou obrigado a divulgar os exames logo depois por determinação do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Após apresentar sintomas de covid-19 no último fim de semana, Bolsonaro fez novo exame, que dessa vez deu positivo para a doença.

Outra decisão favorável aos interesses do presidente ocorreu em fevereiro, quando Noronha também derrubou decisões contrárias das instâncias inferiores e autorizou que Sérgio Camargo fosse empossado presidente da Fundação Palmares, órgão cuja missão é "promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira".

A escolha de Camargo para comandar o órgão foi questionada judicialmente devido a suas várias declarações minimizando o racismo no país.

Mineiro, Noronha quer novo TRF em MG

Noronha foi nomeado ministro do STJ em 2002, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.

Mineiro, ele tem como uma das suas principais bandeiras à frente do STJ a campanha pela criação de um novo Tribunal Regional Federal em Minas Gerais, o TRF-6.

Hoje, o país tem cinco tribunais desse tipo e os processos iniciados na primeira instância da Justiça Federal de Minas Gerais são julgados pelo TRF-1, que abrange ainda mais 12 Estados (AC, AM, AP, BA, DF, GO, MA, MT, PA, RO, RR, TO).

Opositores à criação de um novo TRF argumentam que o país vive uma crise fiscal, não havendo recursos para criar a nova corte.

"Não é a falta de recursos que nos levará à omissão. Ao contrário, é hora de avançarmos nas nossas propostas buscando soluções inovadoras e otimizando recursos. A criação do TRF-6 é um projeto inteligente e corajoso que vai descongestionar e redistribuir os processos que hoje estão parados no Tribunal Regional Federal da 1ª Região", argumentou Noronha, no início do ano.

Próximos passos das investigações contra Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz

O Ministério Público do Rio de Janeiro investiga um possível esquema de "rachadinha" no antigo gabinete de deputado estadual de Flávio Bolsonaro, que seria operado por Fabrício Queiroz. A suspeita é que funcionários do gabinete repassavam parte de seus salários de volta a Queiroz e Flávio Bolsonaro, num sistema de desvio de recursos públicos - algo que Flavio nega.

Na semana passada, uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou que o caso, que tramitava na primeira instância da Justiça do Rio, passasse para sua jurisdição. Nessa decisão, os desembargadores determinaram que Flávio Bolsonaro, hoje senador, ainda teria direito ao foro especial garantido a deputados estaduais.

O Ministério Público recorreu e a expectativa é que em agosto o STF analise o caso e determine seu retorno à primeira instância. Isso porque o Supremo já tem outras decisões que não reconhecem a continuidade do foro privilegiado após o fim do mandato. Como o crime em investigação não tem relação com o mandato atual de senador de Flávio, a jurisprudência do STF também não lhe dá direito ao foro de parlamentar federal nesse caso.

Após esse julgamento do STF, o Ministério Público deve concluir a investigação e decidir se apresenta ou não denúncia contra Flávio Bolsonaro e os demais investigados.