'O que fizeram para merecer isso?': as crianças que morreram no conflito entre Israel e palestinos
A violência entre israelenses e palestinos continua aumentando e sem dar sinais de que vai parar, apesar dos apelos internacionais para o fim das hostilidades.
Após semanas de tensão em Jerusalém Oriental, confrontos entre palestinos e a polícia israelense eclodiram no início de maio na Esplanada das Mesquitas (ou Monte do Templo), um local sagrado para judeus e muçulmanos.
Diante da dura repressão israelense que deixou centenas de feridos palestinos, o grupo armado Hamas começou a lançar foguetes em massa da Faixa de Gaza contra Israel. As forças militares israelenses responderam com bombardeios em Gaza.
Das 219 pessoas que morreram como resultado dos ataques na Faixa de Gaza, pelo menos 63 são crianças, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, comandado pelo Hamas. Além disso, cerca de 1,5 mil pessoas ficaram feridas.
Entre as 10 pessoas que morreram em Israel, duas eram crianças.
Aqui, contamos a você as histórias de alguns dos menores que morreram no conflito.
Crianças da família Al Kawalek, de 5 a 17 anos
Acredita-se que pelo menos 13 membros da família Al Kawalek morreram enterrados nos escombros de sua própria casa quando um ataque israelense atingiu a rua Al Wihda no centro da cidade de Gaza na manhã de domingo,
Muitas das vítimas eram crianças e uma tinha apenas seis meses de idade, segundo relatos da mídia local.
"Não vimos nada além de fumaça", disse um dos sobreviventes da família, Sanaa al Kawalek, ao jornal palestino Felesteen Online. "Eu não conseguia ver meu filho perto de mim. Eu o estava abraçando, mas não conseguia ver nada."
As IDF(Forças Armadas de Israel) descreveram o bombardeio como "anormal" e disseram que as mortes de civis não foram intencionais.
Um porta-voz disse que os ataques aéreos causaram o desabamento de um túnel e de casas.
Entre os mortos da família Al Kawalek estão as irmãs Yara, de 9 anos, e Rula, de 5.
Ambas recebiam tratamento para traumas do NRC (Conselho Norueguês para Refugiados).
As Al Kawalek eram meninas educadas que sempre faziam seus deveres de casa na hora certa, disse um de seus professores, que não quis ser identificado, à BBC.
Crianças da família al Hadidi, de 6 a 13 anos
Na sexta-feira, a esposa e os filhos de Muhammad al Hadidi - Suhayb, 13; Yahya, 11; Abderrahman, 8; Osama, 6; e Omar, de cinco meses -vestiram suas melhores roupas e foram visitar seus primos próximos no campo de refugiados de Shati, fora da Cidade de Gaza, para celebrar o Eid al Fitr, que marca o fim do Ramadã.
"As crianças vestiram suas roupas de Eid, pegaram seus brinquedos e foram para a casa do tio para comemorar", disse o pai, de 37 anos, aos repórteres.
"Mais tarde eles ligaram e pediram para passar a noite e eu aceitei", disse ele.
No dia seguinte, o prédio onde estavam hospedados foi atingido por ataques israelenses.
Omar, de apenas cinco meses, sobreviveu após ser resgatado dos escombros em que estava ao lado de sua mãe morta.
"Eles não carregavam armas, não estavam disparando foguetes", disse al Hadidi sobre seus filhos. "O que eles fizeram para merecer isso? Nós somos civis."
Em meio aos escombros estavam brinquedos infantis, um jogo de Banco Imobiliário e, no balcão da cozinha, pratos inacabados de comida do Eid.
"Quando meus filhos foram dormir, eles esperavam que tudo acabasse quando acordassem. Mas agora eles se foram. Só tenho a memória e o cheiro deles em minha casa", disse al Hadidi ao jornal The Times de Londres.
Hamza Nassar, 12 anos
Hamza Nassar havia deixado sua casa em Gaza na noite de quarta-feira passada para comprar alguns legumes para que sua mãe pudesse preparar uma refeição para quebrar o jejum do Ramadã. Mas ele nunca foi capaz de voltar para casa.
O menor foi morto nos ataques israelenses naquela noite, que começaram perto do cemitério de Abu al Kas, de acordo com a rede Al Jazeera.
Hamza era um garoto legal e um excelente aluno, disse seu pai à Al Jazeera.
Ido Avigal, 5 anos
Acredita-se que a vítima mais jovem do lado israelense seja Ido Avigal, um menino de 5 anos que morreu na última quarta-feira na cidade de Sderot, no sul do país.
Ido morreu dentro de um aposento reforçado contra ataques, no que o exército israelense descreveu como um incidente "incrivelmente raro".
Sua mãe o trouxe para a sala especial quando as sirenes do foguete soaram na quarta-feira à noite em Sderot, de acordo com o The Times of Israel.
Estilhaços de um foguete atravessaram a placa de metal protetora usada para cobrir a janela do quarto em que eles estavam e também feriram a mãe e sua irmã de 7 anos. Ido morreu várias horas depois devido aos ferimentos.
"Os estilhaços chegaram em um ângulo muito específico, em uma velocidade muito específica e em um ponto muito específico", disse o porta-voz do IDF, Hidai Zilberman, sobre o incidente.
"Estávamos em casa e as crianças estavam um pouco entediadas, então minha esposa Shani foi com eles para a casa da irmã dela, a dois edifícios de distância", disse o pai de Ido, Asaf Avigal, ao Canal 13 de Israel.
"Lamento não ter sido eu quem foi atingido pelos estilhaços, no lugar dele", disse Avigal no funeral do filho. "Há alguns dias, você me perguntou: 'Pai, e se a sirene tocar enquanto estivermos do lado de fora?' Eu disse que, enquanto você estivesse comigo, você estaria protegido. Eu menti."
Avigal e sua esposa falaram sobre a inteligência de Ido, que às vezes parecia um adulto de 50 anos no corpo de um menino de 5. Frequentemente, ele pedia ao pai que desligasse o computador e passasse mais tempo com ele. "Chega de telas, fique comigo", dizia.
A mãe de Ido está no hospital.
* Com reportagens de Jack Hunter, Alexandra Fouché, Angy Ghannam Ahmed Nour, Tala Halawa, Dana Doulah e Joana Saba, da BBC News.
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