O que está por trás da dramática foto de afegãos amontoados em avião
Centenas de afegãos amontoados em um avião militar de carga dos Estados Unidos para fugir de Cabul: uma imagem que ficará para a história. A foto, uma das mais impressionantes da tomada do Afeganistão pelo Taleban, registrou uma cena que aconteceu no domingo (15/8), e circulou em sites de notícias e redes sociais no dia seguinte.
Os rostos olham para a câmera — suas expressões uma mistura de ansiedade e cansaço. São homens, em sua maioria, mas há também algumas mulheres e crianças — até um bebê com uma mamadeira. Eles estão dentro de um avião que normalmente transporta tropas e cargas pelo mundo.
A imagem foi obtida inicialmente pelo site de análise de defesa dos EUA, Defense One, mas foi divulgada pelo escritório de relações públicas do Comando de Mobilidade Aérea dos EUA na terça-feira (17/8).
No domingo (15/8), civis subiram a rampa de carregamento semiaberta do avião em pânico, informou o Defense One citando um oficial dos EUA. A tripulação decidiu que era melhor decolar do que forçar os afegãos a sair do avião. Segundo este oficial, havia aproximadamente 640 civis afegãos no avião. O voo foi de Cabul, capital do Afeganistão, para uma base americana no Catar, onde eles desembarcaram com segurança.
O número de passageiros está entre os mais altos já registrados nesse tipo de avião, um C-17 Globemaster.
É próximo do recorde de pessoas transportadas por qualquer avião — um Boeing 747 israelense que transportou mais de 1.000 migrantes judeus da Etiópia em 1991.
Esse foi um dos vários voos que conseguiram retirar centenas de afegãos de Cabul — embora a maior parte dos que tentavam sair não tenha tido o mesmo êxito.
Nos últimos dias, milhares de afegãos desesperados correram para o aeroporto em uma tentativa frenética de fugir. O espaço aéreo comercial permaneceu fechado durante um período, e tropas estrangeiras têm lutado para manter o aeroporto de Cabul funcionando em meio ao caos.
Evacuações de estrangeiros e alguns afegãos com ligações com governos e organizações estrangeiras estão acontecendo, mas passageiros disseram que rumores se espalharam de que mesmo aqueles sem visto estavam sendo autorizados a viajar.
Um vídeo obtido pela mídia afegã mostrou centenas de afegãos correndo ao lado do mesmo tipo de avião em movimento, alguns agarrados à lateral, em outra imagem histórica que denota o completo desespero dos afegãos nesse momento. Outro vídeo parece mostrar homens caindo de um avião que havia decolado.
De fato, três pessoas teriam morrido após cair da parte de baixo de um avião ao qual estavam se agarrando logo após a decolagem. Além disso, o Exército dos EUA disse que os soldados atiraram em dois homens armados.
À medida que grandes multidões chegavam, forças dos EUA teriam atirado para o ar para dispersar as pessoas que tentavam forçar o caminho para os aviões.
Mais tarde, naquela segunda-feira (16/8), um porta-voz do Pentágono disse que todos os voos foram interrompidos "por precaução". O aeroporto foi reaberto por volta de meia-noite do mesmo dia.
Embora os transportes aéreos tenham conseguido transportar alguns, os números podem ser uma gota no oceano para aqueles que se sentem compelidos a partir com medo do Taleban.
Refugiados
A agência de refugiados da ONU, a Acnur, estima que 550 mil afegãos tenham sido deslocados internamente pelo conflito desde o início do ano.
Acredita-se que entre 20 mil e 30 mil fujam pelas fronteiras todas as semanas, disse a representante do Acnur no Afeganistão, Caroline Van Buren, à CNN. E os números do governo sugerem que 120 mil se mudaram para Cabul quando as forças do Taleban se aproximaram.
Muitos dos que temem por suas vidas trabalharam com forças lideradas pelos Estados Unidos, principalmente como tradutores ou terceirizados. O tratamento dado pelo Taleban às mulheres durante seu governo anterior, na década de 1990, e seu uso de punições bárbaras é outro grande incentivo para sair.
Os EUA e outros países estão correndo para remover funcionários e aliados do país.
No início de agosto, a Casa Branca anunciou um plano para permitir que milhares de afegãos com ligações com os EUA se instalassem lá. Na segunda-feira, o presidente Joe Biden anunciou US$ 500 milhões (R$ 2,6 bilhões) em ajuda aos refugiados afegãos.
Os EUA realocaram cerca de 2 mil afegãos sob um esquema de Visto Especial de Imigrante, dizem as autoridades, e planeja transportar outros milhares.
Outros países também estão ajudando. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse que o país pode precisar evacuar cerca de 10 mil pessoas, incluindo 2.500 funcionários de apoio.
O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, Dominic Raab, disse à BBC que 150 cidadãos britânicos foram levados num avião no domingo e confirmou que mais 350 cidadãos britânicos e afegãos que trabalharam com as tropas britânicas seriam evacuados "nos dias que virão".
Na semana passada, o Reino Unido já havia extraído 289 afegãos.
O Reino Unido deve enviar mais 200 soldados a Cabul. Um total de cerca de 900 soldados do Reino Unido patrulharão o aeroporto após as cenas caóticas como parte dos esforços para garantir voos de evacuação.
Segundo Raab, o Reino Unido está considerando quantos refugiados afegãos receberá. Mais de 3 mil intérpretes afegãos, funcionários e suas famílias já foram aceitos para emigrar para o país.
A turbulência no Afeganistão aumentou o temor na Europa de um novo influxo de migrantes. Um exemplo claro é a decisão da Turquia de aumentar a segurança em sua longa fronteira com o Irã, onde a Turquia está construindo um muro de concreto.
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