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A suposta festa de Natal durante lockdown que abala governo britânico

Evento teria acontecido na casa e escritório de primeiro-ministro Boris Johnson; governo britânico nega - Adrian Dennis/AFP
Evento teria acontecido na casa e escritório de primeiro-ministro Boris Johnson; governo britânico nega Imagem: Adrian Dennis/AFP

08/12/2021 17h12Atualizada em 08/12/2021 17h16

Uma suposta festa de Natal ocorrida no ano passado, quando o Reino Unido estava sob confinamento total, se tornou o mais novo escândalo a abalar o governo do primeiro-ministro do país, o conservador Boris Johnson.

Fontes ouvidas por vários veículos de comunicação, incluindo a BBC, alegam que a confraternização ocorreu em 10, Downing Street — a casa e o escritório do premiê, em dezembro do ano passado.

Johnson não estava presente na suposta festa e, nos últimos dias, vem reiterando que nenhum evento ocorreu.

Na ocasião, as regras do coronavírus na Inglaterra estipulavam que reuniões não eram permitidas. Por causa das medidas então em vigor, milhares de pessoas não puderam se encontrar com família e amigos durante as festividades de fim de ano.

Mas, recentemente, um vídeo obtido pela emissora britânica ITV, que mostra assessores de Johnson rindo e brincando sobre o assunto, reforçou para muitos a certeza de que a festa de fato aconteceu.

Nas imagens gravadas enquanto a equipe ensaiava para uma coletiva em dezembro do ano passado, Allegra Stratton, então secretária de imprensa de Johnson, é questionada por colegas que fingem ser jornalistas.

Um deles lhe pergunta sobre rumores de uma suposta festa ocorrida na "sexta-feira à noite" em Downing Street.

Em tom brincalhão, ela responde: "Fui para casa" e então faz uma pausa.

Outro colega então a questiona se o primeiro-ministro "toleraria" uma festa de Natal, ao que Stratton rebate: "Qual é a resposta?"

Um terceiro membro da equipe intervém e diz que "não foi uma festa, foi queijos e vinhos", ela ri e pergunta "Queijos e vinhos, certo?", acrescentando: "Essa festa fictícia foi um encontro de negócios e não houve distanciamento social."

Em meio às mais recentes revelações, Stratton pediu demissão de seu cargo como conselheira do governo britânico nesta quarta-feira (8).

Do lado de fora de sua casa, Stratton disse, em lágrimas, que se tornou uma distração na luta contra a covid-19 por causa de seus comentários no vídeo.

Ela disse que o povo britânico fez imensos sacrifícios e se desculpou por declarações que "pareciam fazer pouco caso das regras".

"Vou lamentar esses comentários pelo resto de meus dias e oferecer minhas profundas desculpas a todos vocês por elas", disse.

Falando no Parlamento britânico, Johnson se desculpou pelo vídeo e ordenou uma investigação, embora tenha reafirmado que foi "repetidamente assegurado de que não houve festa e nenhuma regra foi quebrada".

Ele se desculpou "sem reservas" pela ofensa causada pela gravação, alegando estar "furioso".

Johnson acrescentou que se ficar provado que as regras foram quebradas, haverá ação disciplinar para todos os envolvidos.

Mas o líder da oposição, o trabalhista Keir Starmer, acusou o premiê britânico de considerar as pessoas como "tolas" e disse que ele deveria apenas admitir o que aconteceu.

Pessoas em todo o país "seguiram as regras, mesmo quando isso significava ser separado de suas famílias", disse ele.

Starmer acrescentou: "Elas tinham o direito de esperar que o governo estivesse fazendo o mesmo. Mentir e rir dessas mentiras é vergonhoso".

"O primeiro-ministro agora precisa confessar e se desculpar. Não pode ser uma regra para os conservadores e outra para todos os demais".

O líder trabalhista questionou ainda a "autoridade moral" de Johnson para liderar o país durante a pandemia, comparando suas ações com as da Rainha.

"Sua Majestade, a Rainha, sentou-se sozinha para marcar o falecimento do homem com quem estava casada por 73 anos. Liderança, sacrifício — é isso que dá aos líderes a autoridade moral para liderar", disse o líder trabalhista.

"O primeiro-ministro acha que tem autoridade moral para liderar e pedir ao povo britânico que cumpra as regras?"

Parlamentares fizeram fila para criticar Johnson na sessão desta quarta-feira, quando tradicionalmente o primeiro-ministro responde a perguntas no Parlamento. Um deles chegou a perguntar como Johnson conseguia "dormir à noite".

Em resposta a parlamentar trabalhista Rosena Allin Khan, que também trabalha como médica em um hospital de Londres, o premiê disse que assumiu "total responsabilidade por tudo o que o governo fez".

A festa

Reportagens veiculadas na imprensa britânica começaram a ser publicadas na semana passada alegando que uma festa aconteceu em 18 de dezembro de 2020 em Downing Street.

Posteriormente, uma fonte disse à BBC que "várias dezenas" de pessoas compareceram ao evento.

Ali, segundo a fonte, os convidados, alguns dos quais fantasiados, participaram de um quiz, comeram e beberam. A festa teria passado da meia-noite.

A Polícia Metropolitana disse estar analisando a filmagem, relacionada a "supostas violações" dos regulamentos do coronavírus.

"É nossa política não investigar rotineiramente violações retrospectivas dos regulamentos da covid-19; no entanto, a filmagem fará parte de nossas considerações", informou a corporação por meio de um comunicado.

O escândalo não só abala o governo — existe o temor de que a população deixe de seguir as regras para combater a propagação do coronavírus, algumas das quais voltaram a ser impostas, como o uso de máscaras em ambientes fechados, devido ao surgimento da variante ômicron, inicialmente detectada na África do Sul.