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Onda de renúncias de assessores eleva pressão sobre Boris Johnson

>Martin Reynolds e Dan Rosenfield (no alto na foto, acima de Boris Johnson) são dois dos que pediram demissão do governo britânico - PA Media
>Martin Reynolds e Dan Rosenfield (no alto na foto, acima de Boris Johnson) são dois dos que pediram demissão do governo britânico Imagem: PA Media

BBC News Brasil

03/02/2022 17h59

Em meio a crescentes pressões sobre o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, quatro auxiliares de alto escalão de seu governo renunciaram nesta quinta-feira (3/2), em um intervalo de poucas horas.

O diretor de comunicações Jack Doyle confirmou sua saída pouco depois de Munira Mirza, chefe de políticas. Em seguida, foi a vez do chefe de gabinete Dan Rosenfield e o servidor sênior Martin Reynolds.

As renúncias ocorrem em um momento em que Boris Johnson enfrenta questionamentos vindos de dentro de seu próprio partido, o Conservador, depois de ter sido revelado que, nos meses de lockdown britânico durante a pandemia, foram realizadas confraternizações na sede do governo britânico (e Johnson participou de ao menos três delas). O caso foi alvo de uma investigação civil e agora é motivo de um inquérito policial.

Os auxiliares que saíram nesta quinta, porém, atribuem motivos diferentes para deixar o governo.

Doyle disse a sua equipe que "as últimas semanas (quando o governo esteve sob escrutínio) foram muito difíceis para minha vida familiar", mas agregou que já tinha intenção de sair após dois anos no cargo.

Já Mirza renunciou por conta da falsa alegação de Boris Johnson de que o atual líder da oposição trabalhista, Keir Starmer, havia fracassado em processar criminalmente o abusador sexual Jimmy Savile quando ocupava um cargo parecido ao de um procurador-geral.

O comentário, do qual Johnson mais tarde recuou, foi feito na segunda-feira, quando o premiê estava sob questionamento dos demais parlamentares por conta do relatório a respeito das festas em Downing Street.

Em comunicado oficial, o porta-voz Rosenfield ofereceu sua renúncia mas disse que permanece no governo até que um substituto seja encontrado.

Martin Reynolds afirmou o mesmo, e que regressaria para um cargo no órgão equivalente ao Ministério de Relações Exteriores britânico.

A onda de renúncias coincide com uma crescente insatisfação dentro do Partido Conservador. Segundo apuração da BBC, há ao menos 17 parlamentares do partido que submeteram cartas de não confiança em Boris Johnson - para que se abra uma votação de não confiança, porém, seriam necessários 54 pedidos do tipo.

Muitos parlamentares citam o fato de Boris Johnson ter participado de confraternizações em Downing Street em pleno lockdown como motivação para desafiar o mandato do premiê.

Outros também mencionaram os comentários de Johnson a respeito de Keir Starmer - um episódio que gerou intensos debates.

Munira Mirza e Jack Doyle, assessores Boris Johnson - PA Media - PA Media
Munira Mirza, que trabalhava com o premiê desde 2008, e Jack Doyle também renunciaram a seus postos
Imagem: PA Media

Na segunda-feira, Johnson acusou, sem provas, o líder trabalhista de ter passado "a maior parte de seu tempo" enquanto Diretor de Acusações Públicas "processando jornalistas e fracassando em processar Jimmy Savile" - em referência ao apresentador de rádio e TV da BBC que foi desmascarado como abusador sexual serial em 2011, já depois de sua morte.

Nesta quinta, Johnson mudou de tom, dizendo a repórteres que não falava do "histórico pessoal" de Keir Starmer e que entendia que "ele não tinha nada a ver pessoalmente com essas decisões".

Mas, em sua carta de renúncia, a assessora Munira Mirza afirmou que o premiê deveria ter pedido desculpas por essa afirmação.

"Você é um homem melhor do que muitos de seus detratores jamais entenderão, e por isso é desesperadamente triste que você decepcione a si mesmo fazendo acusações difamatórias contra o líder da oposição", ela escreveu a Johnson.

Em entrevista à emissora Channel 5 após a saída de Mirza (mas antes da renúncia de Doyle), Johnson afirmou lamentar perder a assessora, que trabalhava para ele desde que ele se tornou prefeito de Londres, em 2008. Mas acrescentou que não concordava com a conclusão de Mirza de que seus comentários sobre Starmer haviam sido "impróprios e partidários".

"Ninguém está comentando, muito menos eu, sobre o envolvimento pessoal do líder da oposição nesse caso. Tudo o que eu disse foi que o líder da oposição havia se desculpado pela forma como o Ministério Público lidou com a questão em seu mandato e, francamente, isso precisa ser dito".