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Guerra na Ucrânia: Putin precisa de algo para decretar vitória internamente, diz especialista ligado ao governo russo

Para especialista, a liderança de Putin corre risco se ele for percebido como perdedor da guerra na Ucrânia - Reuters
Para especialista, a liderança de Putin corre risco se ele for percebido como perdedor da guerra na Ucrânia Imagem: Reuters

03/03/2022 07h21Atualizada em 03/03/2022 09h10

Para que a guerra na Ucrânia chegue a um fim, o presidente russo, Vladimir Putin, vai precisar ter alguma coisa para demonstrar ao seu povo que venceu a guerra na Ucrânia.

A opinião é de Andrei Kortunov, especialista russo que ocupa o cargo de diretor-geral de um think-tank ligado ao governo russo.

"Na minha opinião, Putin vai precisar de alguma coisa para declarar vitória. Ele não pode aceitar a derrota. Porque politicamente isso é arriscado demais para ele, isso pode ter riscos muito grandes para a sua liderança. Ele precisa ter algo que permita que ele diga basicamente 'eu ganhei'", disse Kortunov em entrevista nesta quarta-feira (02/03) à BBC.

Kortunov é diretor-geral do Riac (Russian International Affairs Council), órgão de consultoria em assuntos internacionais ligado ao Ministério das Relações Exteriores e comandado por um ex-ministro de Putin.

Por anos, Kortunov apoiou diversas políticas de Putin na Rússia, mas na entrevista concedida à BBC ele critica o presidente pela condução do conflito na Ucrânia.

"A minha lógica e a lógica dos líderes russos não coincidem completamente, porque para mim é muito difícil ver qualquer benefício que a Rússia possa ter dessa operação. E, de qualquer forma, os efeitos colaterais provavelmente serão muito mais sérios do que qualquer eventual ganho", disse o especialista.

Kortunov acredita que será difícil chegar a um acordo de paz que apazigue os ânimos de Putin, da Ucrânia e da Otan (aliança militar liderada pelos Estados Unidos).

"É preciso haver algum equilíbrio. Talvez seja preciso haver formas alternativas de se criar um arranjo de segurança para a Ucrânia. Em vez de a Ucrânia entrar para a Otan, talvez ela possa se concentrar mais em entrar para a União Europeia", diz.

"Muito disso vai depender de os dois lados - e também o Ocidente, que é parte da equação - chegarem a algum tipo de solução que não será ideal, e que será criticada no campo moral, mas que pelo menos vai permitir que se ponha fim aos confrontos, que continuam a tirar vidas."

O especialista avalia que o apoio a Putin dentro da Rússia cresceu desde o começo da guerra - já que muitos russos acreditam que esta é a "guerra certa" a ser lutada.

"[A maioria dos russos acredita] que eles não estão combatendo o povo ucraniano, mas sim grupos extremistas que agora estão comandando o sistema na Ucrânia", diz.

Merkel ou Xi Jinping

Para Kortunov, não existe hoje nenhuma voz dentro do círculo de Putin que possa criticar o presidente e convencê-lo a mudar de rumo na Ucrânia.

Mas ele acredita que há vozes fora da Rússia que poderiam ser ouvidas por Putin: como a da ex-chanceler alemã, Angela Merkel, e do presidente da China, Xi Jinping.

Kortunov acredita que Putin ouviria alguém como Merkel, que tem histórico de relações pessoais com o russo - Reuters - Reuters
Kortunov acredita que Putin ouviria alguém como Merkel, que tem histórico de relações pessoais com o russo
Imagem: Reuters

"Eu acho que [para mudar a opinião de Putin] precisa ser uma voz de fora, alguma pessoa que ele respeite e com histórico de relações pessoais com Putin, uma pessoa que pudesse demonstrar um pouco de empatia e ao mesmo tempo pudesse pedir mudanças na abordagem."

"Eu pessoalmente acho que Angela Merkel [é a pessoa certa], porque ela conhece o problema ucraniano. Ela assinou o Protocolo de Minsk. Ela é respeitada na Rússia, na Ucrânia, na Europa, e ela pode ser a pessoa que pode ajudar a se encontrar essa solução. Essa seria a minha sugestão. Imagino que há outros que podem ser importantes. Talvez a China, talvez Xi Jinping."

"Mas será difícil", ele conclui.