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Egito: perfil do país árabe onde reinaram os faraós

08/11/2022 10h11

Saiba mais sobre o país das pirâmides que se tornou a maior nação árabe, sendo palco de guerras e revoluções

Conhecido mundialmente por sua antiga civilização, o Egito é o maior país árabe. Como tal, teve um papel central no cenário político do Oriente Médio desde meados do século 20.

A independência egípcia, após longo período de dominação otomana e décadas de ocupação britânica, veio em 1922. Nos anos 1950, o presidente Gamal Abdul Nasser lançou e liderou o nacionalismo árabe e o movimento dos não alinhados.

Seu sucessor, Anwar Sadat, fez porém um acordo de paz com Israel e voltou a se alinhar com as potências ocidentais. Sadat acabou sendo assassinado por um grupo de militantes islamistas, fato que expôs a gravidade do movimento jihadista no país e levou o governo a aumentar a vigilância e o controle sobre a vida da população.

As grandes cidades do país - e quase toda sua atividade agrícola - estão concentradas nas margens do rio Nilo e em seu delta, já que a maior parte do território egípcio é tomada por desertos. A economia depende significativamente da agricultura, do turismo e do envio de recursos por egípcios que vivem no exterior, principalmente na Arábia Saudita e em países do Golfo Pérsico.

No entanto, o rápido crescimento populacional e a restrita oferta de terras cultiváveis têm colocado pressão sobre os recursos e a economia do Egito.

A instabilidade política frequentemente tem paralisado os esforços do governo para enfrentar tais problemas.

Depois de uma breve experiência democrática após os protestos da Primavera Árabe, em 2011, o Egito voltou a ser governado por um regime autoritário, dessa vez comandado pelo marechal Abdel al-Sisi. A alegada necessidade de combater movimentos jihadistas voltou a dificultar a adoção de um sistema democrático, com governantes escolhidos pela população.

O Egito possui algumas das mais conhecidas atrações turísticas do mundo, como as pirâmides de Giza, próximo ao Cairo, as tumbas de faraós no Vale dos Reis e o litoral do Mar Vermelho na Península do Sinai. As crises políticas e a ação de grupos extremistas, no entanto, levaram a uma redução no número de visitantes estrangeiros a partir de 2011.

FATOS

LÍDER

Presidente: Abdel Fattah al-Sisi

O marechal aposentado Abdel Fattah al-Sisi foi eleito presidente egípcio em maio de 2014, quase um ano depois de ter participado do golpe militar que removeu seu eleito antecessor, Mohammed Morsi, da Irmandade Muçulmana.

Sisi havia servido como chefe das Forças Armadas no governo Morsi e se tornou a figura central no governo interino que assumiu depois da derrubada do presidente.

Alguns egípcios celebraram a possibilidade de que Sisi trouxesse estabilidade a um país que passava por uma situação tumultuada desde a queda de Hosni Mubarak durante a Primavera Árabe, em 2011. Outros, porém, temiam que o marechal representasse a volta ao Estado autoritário que prevaleceu nos 29 anos de Mubarak na Presidência.

Desde que o marechal assumiu o comando do país, Sisi obteve um segundo mandato em março de 2018, numa eleição em que teve apenas um adversário, Moussa Mustafa Moussa. O advogado de direitos humanos Khalid Ali e o ex-primeiro-ministro Ahmad Shafiq retiraram-se da disputa, e o ex-chefe das Forças Armadas Sami Anan foi preso.

Os principais desafios de Sisi na Presidência têm sido uma economia em dificuldades e uma insurgência islamista na fronteira entre o Egito e a Faixa de Gaza e Israel.

MÍDIA

O Egito é um importante mercado regional de mídia. Suas indústrias de televisão e cinema produzem grande parte do conteúdo consumido no Mundo Árabe, e sua imprensa é bastante influente.

A TV é o meio de comunicação preferido dos egípcios, e existem vários importantes atores nesse mercado, incluindo a empresa pública de radiodifusão.

Nos últimos anos, as autoridades aumentaram o controle sobre a mídia tradicional e também sobre a digital, incluindo as mídias sociais, num nível nunca visto antes. Segundo a entidade Repórteres Sem Fronteiras, o Egito é "uma das maiores prisões do mundo" para jornalistas.

RELAÇÕES COM O BRASIL

As relações oficiais entre Brasil e Egito só iniciaram após a independência egípcia, já no século 20, mas contatos iniciais já haviam sido feitos no século 19. Em 1863, o Brasil nomeou um cônsul-geral honorário para a cidade de Alexandria, e em 1871, o imperador Dom Pedro 2º faria sua primeira viagem ao Egito, para onde voltaria em 1876.

O Brasil reconheceu a independência do Egito no mesmo ano em que ela foi obtida, 1922, e dois anos depois as relações diplomáticas entre Rio de Janeiro e Cairo foram estabelecidas.

A primeira visita de um presidente brasileiro, porém, só ocorreu no século 21, quando Luiz Inácio Lula da Silva esteve no país árabe, em 2003. Apenas dez anos depois um chefe de Estado egípcio visitou o Brasil: Mohammed Morsi fez a viagem em 2013.

Mais recentemente, os dois países se aproximaram mais na economia, graças à nova relação entre o Cairo e o Mercosul.

Em 2017, o Egito assinou um acordo de livre-comércio com o bloco sul-americano, o que rapidamente levou a um aumento da interação comercial entre os dois países. Em 2019, o comércio bilateral foi de US$ 2,15 bilhões, com um superávit brasileiro de US$ 1,5 bilhão.

LINHA DO TEMPO

Importantes datas na história do Egito:

Cerca de 3000 a.C. - Os reinos do Alto e do Baixo Egito unem-se. Sucessivas dinastias desfrutam de um comércio crescente, de prosperidade e do desenvolvimento de grandes tradições culturais.

332 a.C. - Alexandre, o Grande, da antiga Macedônia (território da atual Grécia), conquista o Egito e funda a cidade de Alexandria. Uma dinastia macedônia governa o Egito até o ano de 31a.C.

31 a.C. - O Egito é conquistado por Roma. A rainha Cleópatra se suicida depois que o Exército do líder Otávio Augusto, primeiro imperador romano, derrota suas forças.

33 d.C. - O cristianismo chega ao Egito - e, por volta do século 4, já havia praticamente substituído a religião egípcia.

Séculos 4 a 6 - A província romana do Egito torna-se parte do Império Bizantino, também chamado de Império Romano do Oriente.

642 - Os árabes conquistam o Egito.

1517 - O Egito é absorvido pelo império Turco Otomano.

1805 - O comandante otomano albanês Muhammad Ali estabelece uma dinastia que governa o Egito até 1952, embora na maior parte desse período ainda nominalmente como parte do Império Otomano.

1869 - O Canal de Suez é concluído. O empreendimento, junatamente a outros projetos de infraestrutura, no entanto, quase levam o país à falência, levando à gradual tomada do controle pelos britiânicos.

1882 - O Reino Unido assume o controle do Egito.

1922 - Fuad 1º torna-se rei, e o Egito conquista sua independência, embora a influência britânica continue significativa até meados dos anos 1950.

1948 - Egito, Iraque, Jordânia e Síria atacam o recém-criado Estado de Israel.

1952 - Golpe de Estado leva Gamal Abdel Nasser ao poder. Ele coloca o Egito em oposição às monarquias conservadoras árabes do Golfo Pérsico e aos interesses das potências ocidentais no Oriente Médio.

1956 - O Reino Unido, a França e Israel invadem o Egito como reação à nacionalização do Canal de Suez por Nasser, mas se retiram após pressão dos Estados Unidos.

1958 - Nasser avança em seu movimento em favor do Pan-arabismo e une o Egito à Síria na chamada República Árabe Unida. A união dura apenas até 1961.

1967 - Guerra dos Seis Dias envolvendo Egito, Jordânia e Síria contra Israel. Após um período de tensão entre os vizinhos, as forças israelenses atacaram o Egito de forma antecipada, bombardeando suas aeronaves ainda no solo, deixando o país praticamente sem força aérea. Em menos de uma semana Israel sagrou-se vencedor do conflito, tendo tomado a Península do Sinai do Egito, as Colinas de Golã da Síria e a Cisjordânia da Jordânia, incluindo o lado oriental de Jerusalém.

1970 - Setembro - Morre Abdel Nasser, que nunca havia recuperado seu papel de liderança entre os Estados árabes depois da derrota na guerra de 1967. Nasser é sucedido por seu vice, Anwar al-Sadat.

1971 - A barrage de Aswan é concluída, com financiamento soviético. A obra tem um enorme impacto positivo na irrigação, agricultura e indústria do Egito.

1972 - O presidente Sadat expulsa conselheiros soviéticos e reorienta o Egito na direção do Ocidente, enquanto lança uma tentativa - que acabaria fracassando - de abrir a economia a forças do mercado e ao investimento estrangeiro.

1973 - Outubro - Egito e Síria travam nova guerra contra Israel, numa tentativa de recuperar os territórios pedidos em 1967. Conhecida como Guerra do Yom Kippur, ela começou com um ataque surpresa dos dois países árabes no dia mais sagrado do judaísmo, o Yom Kippur, contra posições israelenses. Após a guerra, o Egito começa negociações para o retorno da Península do Sinai.

1975 - O Canal de Suez é reaberto pela primeira vez desde a guerra de 1967.

1977 - Presidente Sadat visita Israel e inicia o processo que leva ao tratado de paz de 1979, com a devolução da Peníncula do Sinai ao Egito. O país é suspenso da Liga Árabe até 1989. O Egito passa a ser um grande beneficiário de ajuda financeira dos Estados Unidos.

1981 - O presidente Sadat é assassinado por extremistas islamistas num impressionante atentado durante um desfile militar. O ataque ocorreu pouco depois da repressão do governo à imprensa privada e a grupos de oposição, em meio a protestos contra o regime. Sadat é substituído por seu vice, Hosni Mubarak, que ficara ferido no atentado.

2011 - Levante popular, como parte da chamada Primavera Árabe, provoca a queda de Hosni Mubarak.

2013 - Golpe militar derruba o presidente Mohammed Morsi, da Irmandade Muçulmana, primeiro presidente escolhido em eleições livre na história do Egito. O chefe do Exército Abdul Fattah al-Sisi assume o governo.

2014 - Sisi vence eleições presidenciais. O grupo Estado Islâmico intensifica sua insurgência na Península do Sinai.

2018 - Sisi é reeleito em pleito com apenas um adversário.

2019 - Ex-presidente Morsi, preso desde que havia sido deposto, morre durante seu julgamento. Acusado de espionagem, ele desmaiou durante uma audiência e, segundo as autoridades, morreu em seguida, de um ataque do coração.