Sátira a Erdogan gera mal-estar entre Alemanha e Turquia
O governo da Turquia convocou o embaixador alemão em Ancara, Martin Erdmann, para protestar contra uma sátira ao presidente Recep Tayyip Erdogan exibida pela televisão alemã, afirmaram diplomatas turcos nesta terça-feira (29/03).
Segundo os diplomatas, o governo turco exigiu do embaixador que o esquete, de cerca de dois minutos, não seja mais exibido. Trata-se de uma paródia da música Irgendwie, Irgendwo, Irgendwann (de alguma maneira, em algum lugar, em algum momento), sucesso da cantora Nena, com o nome Erdowie, Erdowo, Erdogan.
A paródia afirma que, na Turquia, quando um jornalista publica algo de que Erdogan não gosta, logo vai para a cadeia. A canção também afirma que o governo turco persegue a minoria curda do país. A sátira foi exibida no programa Extra 3, da emissora pública NDR, do norte da Alemanha, em 17 de março.
A oposição alemã exige que o governo da chanceler federal Angela Merkel faça um claro protesto contra a convocação do embaixador. "O braço de Erdogan já alcança até a Alemanha. O Ministério do Exterior precisa tomar logo uma posição clara em defesa da liberdade de imprensa", afirmou a deputada Sevim Dagdelen, do partido A Esquerda. O governo alemão ainda não se manifestou.
A vice-presidente do Bundestag (Parlamento alemão), Claudia Roth, do Partido Verde, afirmou que o governo alemão se tornou dependente da Turquia por causa de sua política para refugiados. Segundo ela, essa situação deve acabar, pois, do contrário, custará caro para a Alemanha.
Em meio à controvérsia, o programa humorístico publicou uma foto de Erdogan no seu Twitter, chamando-o de "nosso funcionário do mês", e divulgou o vídeo com legendas em inglês. O editor-chefe da NDR, Andreas Cichowicz, afirmou que o protesto turco é contrário à liberdade de imprensa e de expressão.
Além da sátira, Erdogan também teria se irritado com a presença de diplomatas europeus, entre eles Erdmann, no tribunal onde estão sendo julgados jornalistas do jornal Cumhurriyet, crítico ao governo turco. Os diplomatas estavam presentes como observadores. Ao vê-los, Erdogan teria dito: "Este não é o país de vocês, esta é a Turquia".
O governo da França foi o único a reagir até o momento e afirmou que o procedimento é normal e está em conformidade com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas.
Alguns dias atrás, a revista alemã Der Spiegel afirmou que retirou seu correspondente em Ancara porque o governo turco não renovou o visto do jornalista. A publicação acusou a Turquia de desrespeitar a liberdade de expressão.
AS/afp/dpa
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