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Opinião: Schulz ainda está longe de derrotar Merkel

Sabine Kinkartz (pv)

27/03/2017 07h14

Candidato a chanceler federal, o ex-presidente do Parlamento Europeu colocou o SPD em euforia. Mas ele não faz milagres, como mostrou a eleição estadual no Sarre, opina a jornalista Sabine Konkartz.A desilusão pode se instalar rápido. Durante semanas, o Partido Social-Democrata (SPD) estava ébrio de felicidade. Na convenção nacional em Berlim, no domingo anterior, deu demonstrações de um partido unido. Delegados eufóricos elegeram Martin Schulz como novo líder com 100% dos votos. Nada parecia ser capaz de parar os social-democratas.Falou-se de um "trem avassalador" que iria atravessar desenfreado o superano eleitoral de 2017 do Sarre, via Schleswig-Holstein e Renânia do Norte-Vestfália, até a chancelaria federal. E na cabine de comando: a luz que brilha, o salvador Schulz.A primeira das três eleições estaduais, por ora, pôs um fim ao voo da esperança. Num primeiro olhar, o resultado no Sarre é um choque ao SPD. Nas pesquisas, os social-democratas se viam no Sarre à altura do seu parceiro de coalizão no governo federal, a União Democrata Cristã (DCU).No entanto, mais de dez pontos percentuais separaram os social-democratas dos democrata-cristãos no pequeno estado. Com sua principal candidata, a governadora Annegret Kramp-Karrenbauer, a CDU conseguiu até ganhar mais votos que no pleito anterior de 2012. Bem vindo à realidade, SPD!Esse é o efeito devastador dos descontrolados voos fantasiosos. A queda é dolorosa. Porém, objetivamente falando, o SPD se deu bem. Em janeiro, os social-democratas estavam com cerca de 24% dos votos, bem atrás na intenção dos eleitores. Levando isso em consideração, o resultado da eleição estadual pode ser visto como um sucesso.Mas isso não é suficiente para os partidários de Schulz. À noite, na sede do SPD em Berlim, a decepção era palpável. Perplexidade estava refletida nos rostos daqueles que, sob a sombra da grande estátua do ex-chanceler federal Willy Brandt, esperavam por uma vitória ou, ao menos, uma corrida cabeça por cabeça.Bem diferente o clima na sede berlinense da CDU, onde irrompeu grande alívio. E, claro, alegria por ser capaz de continuar no comando do governo estadual do Sarre. Os democrata-cristãos podem agora respirar fundo. Caso o SPD tivesse conseguido, uma troca de poder no Sarre não teria apenas impulsionado a caminhada triunfal do social-democratas no ano eleitoral de 2017, mas também teria mergulhado a CDU ainda mais na crise.A chanceler federal Angela Merkel está nas cordas. Com sua política de refugiados, ela se tornou vulnerável. Ela não vai se livrar desta mancha, não importa o que tentar. A suposta marcha triunfante de Schulz causou ainda mais rumores na CDU nas últimas semanas. Por que Merkel permaneceu passiva e não ativou o modo de campanha eleitoral e atacou? A inesperada vitória contundente no Sarre dá a Merkel não apenas folga, mas também deve endossar seu curso político.Além disso, a CDU fica motivada em todos os níveis. Eleitores podem ser mobilizados. Isso deve animar a campanha eleitoral em Schleswig-Holstein e Renânia do Norte-Vestfália, os outros dois estados que, neste ano, vão às urnas. No entanto, nas capitais estaduais de Kiel e Düsseldorf, ocupam os postos de governadores dois social-democratas, Torsten Albig e Hannelore Kraft, que são tão ou mais populares em seus estados como a governadora da CDU no Sarre.Geralmente, aqueles que estão no governo têm uma grande vantagem na Alemanha. Eles só perdem seus cargos quando há uma alternativa claramente melhor. Uma personalidade forte é útil, mas no final das contas o conteúdo importa mais. Enfim, o candidato desafiante precisa ter o pacote completo.O SPD também deveria respirar fundo depois da eleição no Sarre. Isso certamente iria ajudá-la a refletir. Euforia é algo bacana. Ela inspira, incita ao desempenho máximo. Mas ela também pode obscurecer a visão. É o momento de os social-democratas tirarem os ilusórios óculos cor-de-rosa. A festa acabou, agora começa o trabalho.Deve ser formado um programa em nível nacional que mostre claramente quais são os planos do SPD para o futuro. Qual é seu objetivo político, quais alternativas oferece? Com quem poderia implementar seu conteúdo? Com o Partido Verde? Com A Esquerda? Ou será que, no final das contas, tudo resultará novamente numa grande coalizão?O eleitor quer saber. Se houver uma proposta política que desperte o interesse, que prometa tornar as coisas mais interessantes, mais cidadãos irão às urnas. E isso só pode fazer bem à democracia.