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Temer já enfrenta maior resistência no Congresso

Jean-Philip Struck

24/05/2017 10h59

Em meio à crise gerada pelas delações, estratégia do governo de mostrar "normalidade" e avançar com reformas enfrenta dificuldades. Na Câmara e no Senado, há sinais de radicalização da oposição e instabilidade na base.Terminou em confusão a primeira tentativa do governo Michel Temer de mostrar "normalidade" após a nova enxurrada de escândalos que implica diretamente o presidente.Desde que vieram à tona as gravações do empresário Joesley Batista, o Planalto vem tentando retomar sua agenda de reformas e passar a ideia de que o Congresso está funcionando e disposto a apoiar Temer, uma forma de mostrar que nem tudo está paralisado. O primeiro teste ocorreu na terça-feira (23/05), dia de retomada dos trabalhos do Legislativo, durante a leitura do relatório da reforma trabalhista pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.Leia também:Até onde Temer pode se segurar?Leia também:A guerra em torno do áudio de TemerO controverso projeto, uma das vitrines das reformas de Temer, já foi aprovado pela Câmara, mas precisa passar mais uma vez pelo crivo dos senadores para finalmente ser submetido a sanção presidencial.Mas se o governo queria demonstrar que ainda tem fôlego, a oposição que deseja a saída de Temer pretendia atrapalhar a leitura e escancarar que o governo não consegue mais controlar os acontecimentos. No final, a comissão foi tomada por cenas de xingamentos, bate-bocas acalorados e empurra-empurra entre senadores.Logo após o início da sessão, opositores conseguiram colocar em votação um requerimento para adiar a sessão - uma estratégia típica para atrasar o andamento. A votação do requerimento teve apoio de Renan Calheiros (PMDB-AL), o influente cacique colega de partido de Temer e crítico do andamento das reformas. Desafeto do presidente, Renan aproveitou os trabalhos da comissão para afirmar que Temer deveria deixar o cargo."O ideal seria conversar com o presidente para fazer uma transição rápida e negociada”, disse. Apesar disso, ele rechaçou a ideia de um impeachment, e defendeu novas eleições indiretas.Os oposicionistas acabaram sendo derrotados na votação pelo adiamento por 13 votos a 11. Depois disso, tentaram interromper a sessão na marra.Quando o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), o presidente da CAE, passou a palavra para o relator Ricardo Ferraço (PSDB-ES), o responsável pela leitura do documento, começou a confusão. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) foi até a mesa e disse que a oposição não iria permitir a leitura. Foi o início dos empurrões e gritaria entre oposicionistas e governistas.Outros parlamentares se dirigiram à mesa e fizeram um cordão para impedir a leitura. No meio da confusão, os senadores Lindbergh Farias e Ataídes Oliveira (PSDB-TO) tiveram que ser contidos por seguranças e colegas. Ataídes se envolveu ainda em um bate-boca com Randolfe Rodrigues (Rede-AP). O senador da Rede chegou a subir em cima de uma mesa quando Ataídes o chamou de "moleque".Algumas pessoas que acompanhavam a sessão do setor reservado ao público começaram a gritar palavras contra o governo Temer como "Fora, Jucá!" e "Abaixo das reformas!".A sessão acabou sendo suspensa por uma hora. Depois da retomada e mais confusão, o senador Jereissati declarou o relatório como lido - apesar de o processo não ter sido efetivamente concluído. No final, nem a oposição nem o governo conseguiram cumprir seus objetivos. O Planalto avançou com o andamento da reforma, mas ao preço de uma série de cenas de confronto. Já a oposição demonstrou, em parte, que a falta de controle dos aliados de Temer, mas também não conseguiu para a tramitação.Dificuldades também CâmaraParalelamente ao que ocorria no Senado, a Câmara também teve seu episódio que exemplificou as dificuldades enfrentadas pelo governo no Congresso. Durante os trabalhos da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), os papéis entre oposição e governistas se inverteram. Neste caso, os governistas agiram como minoria para obstruir a votação da proposta de emenda constitucional (PEC) das eleições diretas (que vem avançando na Casa).A proposta em discussão, de autoria do deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), prevê a convocação de eleições diretas em caso de vacância do cargo de presidente da República, exceto nos seis últimos meses do mandato.Na tentativa de impedir a votação, os deputados governistas só passaram a registrar presença depois que parlamentares da oposição conseguiram garantir o quórum mínimo para dar início à reunião.Logo depois, deputados governistas apresentaram um requerimento para adiar a votação, mas acabaram sendo derrotados em uma votação simbólica. Antes que uma segunda votação, desta vez nominal, fosse feita, o presidente da Câmara e aliado de Temer, Rodrigo Maia (DEM-RJ), abriu os trabalhos do Plenário com apenas 50 deputados presidentes, adiando as atividades da comissão. Pelo regimento da Câmara, quando o plenário começa a votação da pauta, comissões não podem deliberar sobre nenhuma matéria.O fato de que a base do governo tentou usar um recurso típico de minorias que não tem poder - e teve que contar em último caso com o poder de Maia - foi apontado por alguns deputados como uma demonstração das dificuldades enfrentadas pelo Planalto.Nesta quarta-feira, o presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), retirou a PEC da pauta, adiando mais uma vez a possibilidade de uma votação. Se a proposta passar na comissão, será criada uma comissão especial para analisar o mérito do texto.