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Polícia da Papua Nova Guiné entra em campo de refugiados

23/11/2017 10h25

Acampamento na ilha de Manus foi aberto pela Austrália e oficialmente fechado há três semanas, mas migrantes se recusam a deixar local por temerem pela sua segurança.A polícia da Papua Nova Guiné entrou nesta quinta-feira (23/11) no acampamento de migrantes na ilha de Manus, gerando temores de violência e uso excessivo da força. Durante a ação, cerca de 50 pessoas concordaram em deixar o local e foram transferidas para outro centro, afirmou a polícia.

O comissário da polícia de Papua Nova Guiné, Gari Baki, afirmou que cerca de 50 policiais e agentes da imigração entraram no centro e realocaram pacificamente 50 requerentes de refúgio, entre os 378 que ali estavam, para acomodações alternativas numa cidade próxima.

Ativistas no local denunciam que algumas pessoas foram forçadas a deixar o centro. O comissário, porém, afirmou que todos os que deixaram o acampamento o fizeram voluntariamente. Ele havia assegurado que as unidades policiais destacadas para a operação não iriam recorrer à força. "Vamos pedir educadamente aos refugiados que preparem suas coisas e abandonem voluntariamente o centro", afirmou.

Mas alguns dos migrantes denunciaram nas redes sociais a truculência da polícia durante a operação. "Estamos sob ataque", relatou o iraniano Behrouz Boochani, uma espécie de porta-voz dos refugiados no centro. "Eles estão destruindo tudo. Abrigos, tanques, camas e todos os nossos pertences. Eles são muito agressivos e jogam nossas coisas no lixo. Os refugiados, ainda em silêncio, os observam muito assustados", denunciou.

Mais tarde, o ministro australiano da Imigração e Proteção de Fronteiras, Peter Dutton, disse que Boochani estava entre o "pequeno número de pessoas" presas durante a operação.

Aberto pela Austrália

Objeto de críticas por parte de organizações de defesa dos direitos humanos, o acampamento foi aberto pela Austrália e está no centro de um embate entre os migrantes e as autoridades da Papua Nova Guiné. Em 31 de outubro, o local foi oficialmente fechado após decisão do supremo tribunal do país, que o considerou inconstitucional, mas centenas de migrantes se recusam a abandoná-lo por temerem pela sua segurança.

Após a decisão, o fornecimento de eletricidade, água e alimentos foi suspenso. Mesmo assim, cerca de 400 migrantes permaneceram no local. Na véspera da intervenção, o ministro da Imigração da Papua Nova Guiné, Petrus Thomas, lembrou que um acordo bilateral responsabiliza a Austrália pelo destino dos migrantes.

Aos refugiados, que aguardam no local a tramitação de seus processos, foi oferecida a possibilidade de serem removidos para três outros centros na Papua Nova Guiné, mas a maioria rejeitou essa opção.



Tramitação em países terceiros

Em 2012, a Austrália reativou sua controversa política para a tramitação em países terceiros dos pedidos de refúgio dos migrantes que tentam chegar ao país e fechou acordos para a abertura de centros de detenção na Papua Nova Guiné e em Nauru. O governo australiano paga as duas nações para que mantenham essas pessoas em seus territórios.

A ONU e organizações de direitos humanos consideram desumanas as condições nesses locais e os abusos sofridos pelos moradores, muitos dos quais fugiram de conflitos em países como Síria, Afeganistão ou Somália. Os centros abrigam ainda membros da minoria rohingya, que fogem de perseguições em Myanmar.

Os migrantes foram transferidos para Manus e Nauru após serem capturados pelas autoridades australianas enquanto tentavam chegar à costa do país, que se nega a acolhê-los.

Os Estados Unidos, durante a presidência de Barack Obama, concordaram em acolher 1.250 migrantes de Papua Nova Guiné e Nauru, mas seu sucessor, Donald Trump, reluta em honrar o acordo. Até o momento, os EUA receberam apenas 54 refugiados.

RC/lusa/ap/rtr



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