Topo

México reforça fronteira com a Guatemala para evitar tarifas americanas

6.jun.2019 - Um agente da polícia federal procura por pessoas sem documentos em um posto de checagem nos arredores de Tapachula, no estado de Chiapas, no México - Pedro Pardo/AFP
6.jun.2019 - Um agente da polícia federal procura por pessoas sem documentos em um posto de checagem nos arredores de Tapachula, no estado de Chiapas, no México Imagem: Pedro Pardo/AFP

07/06/2019 06h11

O governo mexicano anunciou a mobilização de 6 mil membros da Guarda Nacional para a fronteira com a Guatemala a fim de conter o fluxo de migrantes centro-americanos. A medida é uma tentativa de evitar a imposição de tarifas alfandegárias americanas.

A decisão, anunciada ontem em Washington pelo ministro das Relações Exteriores do México, Marcelo Ebrard, junta-se a outras medidas destinadas a aliviar as tensões com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O líder americano acusa o México de tomar pouca ou nenhuma atitude para travar migrantes da América Central que têm se movido em grandes grupos pelo país rumo aos Estados Unidos - Trump ameaçou retaliar com a imposição de tarifas alfandegárias a partir da próxima segunda-feira.

As autoridades mexicanas já tinham ordenado, por exemplo, o bloqueio das contas bancárias de 26 pessoas alegadamente envolvidas em tráfico de migrantes, além do regresso de cerca de 100 hondurenhos ao país de origem e a detenção de ativistas que defendem os direitos de migrantes.

Forças de segurança travaram nesta semana uma caravana de cerca de 1.200 migrantes, a maioria hondurenhos, que tinham acabado de entrar no México a partir da Guatemala.

O vice-presidente americano, Mike Pence, afirmou que os EUA estão se sentindo "motivados" pelas mais recentes propostas avançadas pelo México para controlar o fluxo migratório, mas que Washington mantém a intenção de aplicar tarifas alfandegárias a partir de segunda-feira "caso não se virem os resultados que se pretendem".

Sem um entendimento entre os dois governos, as primeiras taxas alfandegárias começam a ser aplicadas às importações provenientes do México no próximo dia 10, com o valor de 5%, podendo ser aumentadas até 25%. O ministro mexicano das Relações Exteriores segue em Washington para tentar convencer a Casa Branca de desistir da ideia de impor as tarifas.

Autoridades mexicanas e americanas estiveram reunidas na quarta-feira para debater as questões migratórias na fronteira entre os dois países e ainda as taxas que poderão ser impostas a todos os produtos mexicanos nos Estados Unidos.

Apesar de ambos os lados afirmarem que houve avanços nas negociações ocorridas na Casa Branca, Trump reiterou que ainda há "muito progresso" a ser feito para suspender as taxações previstas sobre os produtos mexicanos.

Trump renovou sua ameaça ao publicar no Twitter, durante sua viagem pela Europa, que as negociações em Washington continuariam "com o entendimento de que, se nenhum acordo for alcançado, as tarifas de 5% começarão na segunda-feira, com aumentos mensais conforme o cronograma" já definido.

"Estamos tendo uma ótima conversa com o México", disse o presidente. "Vamos ver o que acontece. Mas algo muito dramático pode acontecer. Dissemos ao México que as tarifas continuariam. E eu estou falando sério também. E estou muito feliz com isso."

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, defendeu que seja mantida a "amizade" com o povo americano, mas anunciou que visitará no sábado a fronteira com os Estados Unidos a fim de "defender a dignidade" de seu país.

"Esta viagem à cidade fronteiriça de Tijuana visa defender a dignidade do México", disse Obrador em coletiva de imprensa ontem. "Estamos analisando todas as opções [diante das ameaças americanas], mas a nossa posição é manter, acima de tudo, a amizade com o povo dos Estados Unidos."

Segundo o governo mexicano, 300 mil migrantes já chegaram ao país a partir da Guatemala somente neste ano, e as autoridades detiveram 51 mil deles - isso representa um aumento de 17% em relação ao mesmo período de 2018. A fronteira do México com o país vizinho ao sul mede 1.138 quilômetros de comprimento, sendo grande parte de campos abertos e selva.

O Departamento de Segurança Interna dos EUA, por sua vez, comunicou que a quantidade de pessoas detidas na fronteira entre o país e o México subiu, em maio, para o número mais alto em uma década: 132.887 pessoas. Desse total, 11.507 eram crianças que viajavam desacompanhadas.