Rodrigo Ratier

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Reportagem

Foto inédita de 2013 mostra autor de atentado como chaveiro pacato em SC

Quando Álvaro Azevedo Diaz viu na TV a imagem de Francisco Wanderley Luiz, autor do atentado na praça dos Três Poderes na quarta-feira (13), junto com as informações de que se tratava de um chaveiro de Santa Catarina, não teve dúvida: na hora, se lembrou da foto feita em 2013.

Fotógrafo há 45 anos, Álvaro rodou o estado por três anos, entre 2011 e 2014, retratando trabalhadores do setor de comércio em seus locais de trabalho. Francisco foi um de seus personagens.

A imagem, inédita até hoje, mostra o autor dos atentados como um pacato chaveiro em sua loja no centro de Rio do Sul, cidade de 72 mil habitantes a 199 km de Florianópolis. A cena traz Francisco de óculos, pose séria, mãos espalmadas sobre o balcão diante de um claviculário com algumas centenas de chaves. À direita no balcão há uma copiadora de chaves. Ao centro, por entre os braços do chaveiro, uma sineta.

A jornada do fotógrafo cobriu 23 cidades. O périplo gerou o catálogo Retratos do Comércio, um álbum com fotos de comerciantes publicado em 2014, com apoio do Sesc-SC e recursos do Prêmio Elisabete Anderle de Artes Visuais, da Fundação Catarinense de Cultura.

Francisco Wanderley Luiz, que morreu ao explodir uma bomba no STF, em foto de 2013
Francisco Wanderley Luiz, que morreu ao explodir uma bomba no STF, em foto de 2013 Imagem: Álvaro Azevedo Diaz

O fotógrafo se lembra da boa acolhida dos mais de 300 retratados. Para cada comerciante, uma única imagem — em pose fotográfica, numa câmera de chapa, com revelação artesanal.

"O projeto desde o início se propôs a investigar a pose dos trabalhadores do comércio em um dos estados mais ricos da federação e oferecer um entendimento mais amplo dessa atividade no mundo contemporâneo", escreveu Álvaro na revista Punctum, da UFSC. "Por trás das imagens, há um contexto de globalização, tecnologia da informação, mídia, do deslocamento dos trabalhadores do campo para a cidade e outros fatores determinantes para uma compreensão mais abrangente do presente e do futuro desse segmento."

A lembrança sobre Francisco é de um profissional conhecido na cidade. "Havia um roteiro prévio feito pelo Sesc que incluía a foto com o chaveiro. Localmente, ele era conhecido, Rio do Sul é uma cidade pequena e todos se conhecem."

A radicalização política não estava no radar. 2013, ano da foto com o chaveiro Francisco, é considerado, com suas "jornadas de junho", o grau zero para o nascimento da nova e extremada direita brasileira.

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"Na época do lançamento, comentei: 'Olha, acho que fiz o livro no tempo certo. Se tivesse que começar a fazer agora [a partir de 2015], talvez não tivesse a mesma receptividade dos comerciantes. Até então, Bolsonaro era só um deputado que havia sido expulso do Exército."

Para o fotógrafo, se há algo a se extrair da comparação entre passado e presente, é quanto ao "efeito acachapante" da radicalização de extrema direita. "Aconteceu em muito pouco tempo."

"Eu e Francisco éramos da mesma geração. Eu tenho 60, ele tinha 59. Nossa geração cresceu diante de um período de exceção. Vejo uma associação da época em que éramos jovens com a ditadura. É um saudosismo equivocado, o contexto não tem nada a ver com a juventude. Mas a extrema direita tem capturado esse imaginário".

No catálogo de Álvaro, só houve espaço para 30 fotos. A foto de Francisco passou pela primeira peneira, mas acabou de fora da edição final. O chaveiro passará à posteridade pelas lentes que registraram seu corpo estirado no chão diante do STF, em Brasília.

Corpo de Wanderley Luiz em frente ao prédio do STF após explosões nesta quarta-feira (13)
Corpo de Wanderley Luiz em frente ao prédio do STF após explosões nesta quarta-feira (13) Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

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