Crise afegã deve servir de munição para ultradireita alemã
A cinco semanas das eleições parlamentares, vitória do Talibã pode dar para a ultradireita mote perfeito para tentar reverter declínio de popularidade explorando discurso de ódio contra migrantes. A crise no Afeganistão pode dar munição ao partido nacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD), a poucas semanas das eleições parlamentares alemãs. Estagnada há meses na casa dos 10% nas pesquisas nacionais de intenção de voto, abalada por brigas internas e resultados fracos nas últimas eleições regionais, a sigla pode tentar recobrar popularidade explorando eleitoralmente a catástrofe humanitária que se anuncia no país asiático.
A perspectiva de um aumento de refugiados saídos do Afeganistão pode dar ao AfD a chance de lucrar nas urnas com seu mote de campanha preferido: o combate à imigração. A própria chanceler federal alemã, Angela Merkel, alertou para uma possível alta de pedidos de refúgio após a tomada de Cabul.
A crise afegã chega em boa hora para os ultradireitistas, com popularidade em declínio após fracassarem ao centrar sua campanha no negacionismo da pandemia. Em eleições regionais alemãs realizadas em março em dois estados do sudoeste do país, a AfD perdeu um terço de seu eleitorado, despencando de 15,1% para 9,7% em Baden-Württemberg e caindo de 12,6% para 8,3% em Renânia-Palatinado. Na votação em Sachsen-Anhalt em junho, a AfD se manteve como segundo maior partido local, mas viu seu eleitorado no estado encolher 3,5 pontos percentuais.
Especialistas acreditam que as falhas na gestão da crise afegã devem fragilizar as siglas que sustentam o governo alemão às vésperas das eleições parlamentares, agendadas para 25 de setembro.
"Avaliação ruim"
"O governo alemão, começando pelo Ministério do Exterior, chefiado pelo SPD, avaliou dramaticamente mal a situação nas últimas semanas e levou muito tempo para organizar o resgate dos alemães restantes e dos colaboradores locais", criticou o cientista político Oskar Niedermayer, da Universidade Livre de Berlim, em entrevista ao jornal Handelsblatt.
O ministro do Exterior alemão, Heiko Maas, do Partido Social-Democrata (SPD), reconheceu nesta terça-feira (17/08) os erros de avaliação do governo. "Não há o que encobrir", disse, acrescentando que nem o governo alemão nem seus parceiros ocidentais, incluindo os serviços de inteligência, previram que a tomada do Afeganistão pelo Talibã ocorreria tão rapidamente.
Niedermayer acredita que a conquista vertiginosa de Cabul pelo Talibã vai afetar a União Democrata Cristã (CDU) da chanceler Angela Merkel. A chefe de governo veio a público nesta terça admitir sua responsabilidade pelo ocorrido. "Todos nós -- e eu também assumo a responsabilidade por isso - avaliamos erroneamente a situação", reconheceu. "Não foi apenas uma avaliação errada da Alemanha, mas algo generalizado."
A oposição acusou o governo alemão de um "fiasco histórico". Segundo avaliações, há cerca de 10 mil pessoas em Cabul esperando para serem transportadas para a Alemanha.
Niedermayer também lembra das falas dos candidatos governistas à sucessão de Merkel, Armin Laschet, da CDU, e Olaf Schoz, do SPD, ambos ressaltando a necessidade de se agir rápido para fornecer apoio aos cidadãos do Afeganistão.
"Prova de impotência"
A avaliação do politólogo é de que a intenção dos líderes da coalizão de governo de "ampliar o círculo dos que devem ser resgatados em tão curto tempo é mais prova de impotência do que de uma gestão de crise competente". O especialista acredita que isso "não vai ser útil à campanha eleitoral dos partidos do governo".
O cientista político Lothar Probst, da Universidade de Bremen, também acredita que o Afeganistão pode se tornar um assunto importante na campanha eleitoral alemã, caso se cumpra realmente o prognóstico do surgimento de uma onda de refugiados em direção à Europa.
"Isso poderia dar à AfD um tema de que o partido precisa para se libertar de seu declínio de popularidade", afirma, ao Handelsblatt, acrescentando que, nesse caso, o partido de Angela Merkel ganharia um problema a ser enfrentado na campanha eleitoral. "Porque isso traz lembranças de 2015", diz Probst, se referindo ao ano mercado pela entrada na Alemanha, de forma descontrolada, de centenas de milhares de migrantes.
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