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Terremoto: Por que há pessoas que morrem logo depois de serem resgatadas?

Equipes de resgate e civis sob os escombros de prédios desabados em Kahramanmaras, no sul da Turquia - ADEM ALTAN/AFP
Equipes de resgate e civis sob os escombros de prédios desabados em Kahramanmaras, no sul da Turquia Imagem: ADEM ALTAN/AFP

Julia Vergin

14/02/2023 11h55

Muitos dos sobreviventes do terremoto na Síria e na Turquia passaram dias sob os escombros, mas morreram pouco depois do resgate. As causas para mortes pouco após o socorro vão da temperatura sanguínea à depressão.

Esse é o caso de Zeynep, que ficou mais de 100 horas presa sob os destroços de uma casa desmoronada, antes que forças de resgate pudessem libertá-la. Pouco mais tarde, porém, ela morreu.

"No caminho para o hospital, ela ainda riu", conta o socorrista Bastian Herbst, da ISAR Germany (International Search And Rescue).

Um dos motivos para a morte de Zeynep pode ter sido a chamada morte pós-resgate, que pode ter três principais causadores neste caso.

Hipotermia

Sob as temperaturas frias na área do desastre, os vasos sanguíneos se estreitam. Desse modo, o organismo assegura que o mínimo possível do precioso calor interno se perca no ambiente através da pele ou das extremidades.

Nessas partes do corpo, a temperatura do sangue baixa, enquanto no núcleo físico o sangue quente garante o funcionamento dos órgãos vitais.

O salvamento de Zeynep, no entanto, foi complicado. "Tivemos que movê-la muito para poder libertá-la", recorda Herbst.

Os vasos se dilatam neste processo e o sangue frio flui para os órgãos internos, provocando distúrbios do ritmo cardíaco e consequente morte.

Lesões

O socorrista alemão conta que as pernas de Zeynep estavam soterradas sob pedras e escombros. Ela ainda conseguia mover os pés, mas é possível que os tecidos dos membros estivessem lesionados.

Lesões musculares liberam a proteína mioglobina, responsável pelo transporte de oxigênio dentro das células do tecido.

Quando o acidentado fica livre, o sangue volta a circular subitamente. Isso inunda o organismo com mioglobina e pode causar falência dos rins e consequente elevação dos níveis de potássio.

O excesso desse mineral provoca fibrilação ventricular, com risco de morte especialmente alto para portadores de enfermidades cardíacas.

Morrer na praia

Outra causa é o proverbial "morrer na praia", como conta Herbst:

Conhecemos isso dos naufragados: no momento em que veem a equipe de resgate, não conseguem mais e se afogam.

Os hormônios do estresse cuidam para que as funções corporais se mantenham, mas, quando essa tensão cede, a consequência pode ser uma queda radical da pressão sanguínea.

Motivos psicológicos

Também pode se crer em motivos psicológicos para uma morte pós-resgate. Zeynep perdeu o marido e os filhos no abalo sísmico.

Talvez ela tenha se dado conta do que aconteceu, e isso a privou da vontade de viver. Bastian Herbst