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Soja, carne e poder político: o que está em jogo na viagem de Lula à China

Lula e Xi Jinping: encontro entre os líderes deve ocorrer na sexta-feira - LUDOVIC MARIN / AFP
Lula e Xi Jinping: encontro entre os líderes deve ocorrer na sexta-feira Imagem: LUDOVIC MARIN / AFP

12/04/2023 04h00

Para aprofundar os laços bilaterais, o presidente Lula (PT) embarcou nesta terça-feira para a China, acompanhado de uma comitiva de empresários, governadores, senadores, deputados e ministros.

O que está em jogo na visita?

A China é o principal parceiro comercial do Brasil, e as relações econômicas entre os dois países deverão ter um papel central na visita. O fluxo comercial entre China e Brasil totaliza atualmente 150,4 bilhões dólares por ano, tendo as exportações brasileiras para o país asiático atingido 89,7 bilhões de dólares em 2022.

A China investe em diversos setores no Brasil. Especialistas dizem que Pequim quer explorar os vastos recursos e o tamanho do mercado brasileiro.

A viagem de Lula também visa expandir ainda mais os investimentos chineses no Brasil, particularmente no setor de manufatura, segundo outros analistas.

O Brasil espera atrair empresas chinesas que possam ajudar a fomentar o crescimento em áreas como automóveis e energia verde, na opinião de Evandro de Menezes de Carvalho, professor de direito internacional da Fundação Getúlio Vargas.

O setor agrícola deve ter destaque na visita de Lula à China. A indústria de carnes, por exemplo, está especialmente ávida para obter mais acesso ao mercado chinês, já que a maior empresa mundial desse setor, a JBS, tem dez representantes na delegação brasileira, segundo informações da agência de notícias Reuters.

O Brasil tem muitos recursos que são do interesse da China, e a soja brasileira é um componente importante do pensamento global chinês sobre segurança alimentar
Margaret Myers, diretora do Programa para Ásia e América Latina no think tank Diálogo Interamericano (IAD), baseado em Washington

Lula tentará encontrar um equilíbrio entre priorizar o comércio e os investimentos chineses, ao mesmo tempo em que deve tomar uma posição firme quando se trata de questões ambientais. É o que afirma Leland Lazarus, diretor-adjunto de segurança nacional da Universidade Internacional da Flórida, nos EUA.

Lula não estará tão interessado em simplesmente ter um papel secundário. Ele provavelmente continuará buscando maneiras de aumentar as exportações de carne bovina congelada, soja, minério de ferro e petróleo bruto para o enorme mercado chinês. Ao mesmo tempo, é provável que ele exija que a China faça mais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e responsabilize as empresas estatais chinesas que operam no Brasil por prejudicar o meio ambiente
Leland Lezarus, diretor-adjunto de segurança nacional da Universidade Internacional da Flórida

O futuro do Brics

Há ainda importantes questões geopolíticas a serem discutidas quando os líderes se encontrarem. Em 2012, os dois países assinaram um plano de cooperação após Pequim ter atualizado a relação bilateral para uma "parceria estratégica global". A China também enviou o ex-vice-presidente Wang Qishan para participar da posse de Lula no início deste ano, destacando a importância do relacionamento de Pequim com Brasília.

Especialistas esperam que o presidente chinês Xi Jinping e Lula discutam o atual status e as perspectivas para a aliança, incluindo a relação próxima entre a China e a Rússia. Os países são membros do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Há ainda a expectativa de discussão entre os dois líderes sobre a guerra na Ucrânia. "A guerra surgirá num sentido muito mais pragmático, incluindo os aspectos relacionados ao Brics e as implicações do conflito para a plataforma", projeta Myers.

Xi e Lula provavelmente apresentarão o Brics como "uma estrutura bem-sucedida para a cooperação do Sul Global", na opinião de Lazarus. "Enquanto Xi possa tentar reivindicar a liderança econômica do Brics, Lula possivelmente reivindicará liderança moral quanto à proteção do clima", diz.

Agenda

Os compromissos de Lula no país asiático terão início na quinta-feira e incluirão um encontro com Xi Jinping, na sexta, e a assinatura de cerca de 20 acordos bilaterais, segundo o Itamaraty.

A visita faz parte da reconstrução das relações internacionais do novo governo brasileiro
Ministério das Relações Exteriores

A viagem foi adiada após Lula ser diagnosticado com pneumonia.