O que é um kibutz, alvo de massacre do Hamas em Israel
Comunidade agrícola com administração coletiva, o kibutz há muito tempo faz parte da identidade de Israel.
Foi justamente em kibutzim, que é o plural de kibutz, onde estavam as primeiras vítimas dos ataques do grupo extremista Hamas iniciados no sábado passado (7) nas imediações da Faixa de Gaza.
Nessas comunidades pacíficas, o inimaginável aconteceu: tomadas de reféns, sequestro e assassinatos.
Kibutz tem história centenária
Comunidades rurais. Os kibutzim estão concentrados no sul de Israel, justamente na fronteira do país com a Faixa de Gaza. Alguns desses grupos têm até cerca de 800 habitantes.
Grupos centenários. O conceito de kibutz nasceu há mais de cem anos - portanto, surgiu antes da fundação do Estado de Israel, em 1948. Além dos arredores de Gaza, também há kibutzim na Cisjordânia, ocupada por Israel, e nas Colinas da Golã, área anexada a sudoeste da Síria.
Coletivismo. Os kibutzim seguem um estilo de vida coletivista, baseado em princípios como justiça social e apoio mútuo. Apesar de muitos terem sido privatizados e de apenas 4% dos israelenses viverem atualmente neles, os kibutzim ainda geram uma parcela significativa da produção agrícola do país
Aumento populacional. Segundo Micky Drill, gerente de projetos da Fundação Friedrich Ebert, o movimento kibutz hoje está em ascensão no sul de Israel. "Em sua maior parte, essa área é composta por kibutzim e teve um aumento populacional impressionante nos últimos anos, apesar da ameaça militar. São comunidades fortes, com muita natureza e um padrão de vida muito diferente das cidades."
Adaptação contra ataques terroristas. O estilo de vida rural e pacato dos kibutzim convive com a ameaça de ataques, com alertas antimísseis constantes. Dependendo do local, a população tem apenas 15 segundos para procurar abrigo. "Lá, a infraestrutura foi adaptada. Todas as casas são protegidas com tetos de concreto. O que aconteceu agora, porém, é uma questão completamente diferente", explica Drill.
Tomada de reféns e imagens aterrorizantes
"É uma catástrofe. E ainda não acabou", diz Drill. Há relatos de combates no kibutz Magen, a apenas quatro quilômetros da fronteira com a Faixa de Gaza. Atualmente morando ao sul de Tel Aviv, Drill viveu por dez anos exatamente no local onde os combates ocorrem neste momento.
Cenas chocantes. Conforme relatos, estima-se que até 300 militantes do Hamas entraram em Israel nas primeiras horas da manhã do último sábado. Vídeos nas mídias sociais mostram cenas chocantes de civis mortos, prédios em chamas e reféns expostos.
Ninguém imaginava que iriam romper a cerca de proteção com uma escavadeira, entrar nos kibutzim, massacrar as pessoas e levar as famílias e as crianças de suas camas para Gaza"
Micky Drill, gerente de projetos da Fundação Friedrich Ebert
'11 de Setembro de Israel'
Tragédia para o país. A Onu se refere ao surpreendente ataque do Hamas como o "11 de Setembro de Israel", uma tragédia para o país. Para os moradores dos kibutzim, avalia Drill, o ataque também significa uma "enorme quebra de confiança", inclusive em relação ao próprio Exército e ao governo de Israel.
Segurança da comunidade em risco. Devido ao sistema de defesa antimísseis e túneis para fuga, os moradores dos kibutzim viviam com uma sensação de aparente segurança, apesar da proximidade geográfica de grupos extremistas islâmicos como o Hamas. Contudo, essas proteções não evitaram os ataques.
Decepção com o exército
Demora para reação. Agora, muitos moradores de kibutzim estão decepcionados com o governo israelense e com as Forças Armadas do país, que teriam levado muito tempo para socorrerem as vítimas.
No kibutz Be'eri, quase 50 foram bloqueados como reféns por horas, até o exército conseguir dar fim ao sequestro. "Os terroristas sabem exatamente onde estão os pontos fracos, onde os kibutzim estão protegidos ou mesmo se estão protegidos", diz Drill.
Uma das primeiras e mais proeminentes vítimas dos ataques de 7 de outubro é Ofir Liebstein, líder regional e porta-voz de longa data do kibutz Kfar Aza. Ele já se manifestou a favor da paz, descrevendo a vida na fronteira como "99% um paraíso: "Mas 1% do tempo é um inferno, e esse inferno pode se liberar a qualquer momento."