Topo

Ex-governista, Massa joga fichas em 2º turno para chegar à Casa Rosada

Natacha Pisarenko/AP
Imagem: Natacha Pisarenko/AP

Mar Centenera

Em Buenos Aires

22/10/2015 20h49

"Sou o único que pode ganhar do kirchnerismo no segundo turno", repete como um mantra, em busca do voto útil antikirchnerista, o candidato presidencial Sergio Massa, de passado neoliberal, ex-membro do governo e agora líder do peronismo dissidente.

A pouco dias das eleições, as pesquisas outorgam a este advogado de 43 anos o terceiro lugar, atrás do governista Daniel Scioli e do conservador Mauricio Macri, mas Massa não joga a toalha.

Nascido na periferia de Buenos Aires, ele ingressou na política aos 17 anos como militante da liberal União do Centro Democrático, que no início dos anos 90 foi absorvida pelo peronismo no governo Carlos Menem.

Após a severa crise econômica que afetou a Argentina em 2001, ele foi designado diretor-executivo da Administração Nacional da Seguridade Social (Anses), responsável pelo sistema previdenciário, pelo então presidente Eduardo Duhalde (2002-2003) e se manteve no cargo quando assumiu seu sucessor, Néstor Kirchner (2003-2007).

Em dezembro de 2007, ele foi eleito prefeito do município de Tigre, de 400 mil habitantes, mas deixou o cargo provisoriamente sete meses depois para ocupar a Chefia de Gabinete da presidente Cristina Kirchner, em meio a um forte confronto com o setor agrário.

O idílio durou exatamente um ano: em julho de 2009, Massa deixou o governo após a derrota do kirchnerismo nas eleições legislativas e retornou à prefeitura de Tigre, de onde começou a planejar a ascensão à primeira linha política.

O primeiro passo foi a fundação da Frente Renovadora como um espaço de "coração peronista e cérebro modernista", com a qual foi vencedor do pleito legislativo de 2011 com mais de 44% dos votos.

Com seu discurso de "manter o bom e acabar com o ruim", o candidato conquistou aqueles eleitores que aprovavam as conquistas sociais dos últimos 12 anos, mas buscavam um perfil "com menos arrogância, com menos jactância" que as referências kirchneristas, segundo Orlando D'Adamo, codiretor do Centro de Opinião Pública da Universidade de Belgrano.

Massa promete aumentar as aposentadorias e melhorar os salários com a eliminação de impostos, mas por sua vez adverte que retirará os planos sociais "dos vagabundos" e pede rigidez no combate a corruptos, ladrões e narcotraficantes.

"Eu tento aprender com todos, e nesse sentido não tenho reservas. Diria que sou uma esponja", definiu-se o aspirante à presidência pela coalizão Unidos por uma Nova Alternativa (UNA).

A insegurança, um dos temas que mais preocupam a sociedade argentina, se transformou em uma das pedras fundamentais de sua campanha, e ele promete combatê-la "com móveis, câmeras e alertas populares", inspirando-se no sistema de vigilância eletrônica que aplicou na cidade de Tigre.

Entre suas propostas mais polêmicas estão a de incluir as Forças Armadas na luta contra o narcotráfico, seja nas fronteiras argentinas ou em áreas carentes, e deportar estrangeiros que cometam crimes.

A UNA obteve 20,5% dos votos nas eleições primárias de 9 de agosto, dez pontos percentuais a menos que o também opositor Macri e longe dos 38,1% do kirchnerista Scioli, mas as últimas pesquisas mostram uma redução da distância entre os candidatos opositores de três a seis pontos.

Encorajado pelas pesquisas, Massa reforçou suas críticas contra Macri e contra os que o acusam de ser linha auxiliar do kirchnerismo por aumentar as possibilidades de que Scioli seja eleito no primeiro turno, missão para a qual precisaria obter mais de 45% dos votos ou 40% e 10 pontos de vantagem sobre o segundo colocado.

"Macri vinha falando de mudança, mudança, mudança, mas quem mudou foi ele", disse quando o prefeito de Buenos Aires apoiou medidas kirchneristas como manter a titularidade pública da companhia petrolífera YPF e da Aerolíneas Argentinas.