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Irlanda celebra 100 anos da revolução que acelerou independência do R.Unido

27/03/2016 14h37

Javier Aja.

Dublin, 27 mar (EFE).- Com uma coroa de flores e diante de milhares de pessoas, o presidente da Irlanda, Michael D. Higgins, homenageou neste domingo os revolucionários que sublevaram o domínio britânico há cem anos na Páscoa, uma sangrenta revolta que acelerou a independência do país do Reino Unido.

Foi um dos momentos mais emotivos das celebrações, que reuniram mais de 250 mil irlandeses e turistas nas ruas de Dublin para lembrar um dos eventos mais decisivos da história do país.

O gesto realizado por Higgins em frente ao Escritório Geral dos Correios (GPO, na sigla em inglês) da Rua O'Connell, a principal via da seguida, foi seguido de outro tão especial quanto: a leitura do texto da proclamação da República da Irlanda.

O capitão do Exército da Irlanda Peter Kelleher repetiu hoje as palavras ditas no dia 24 de abril de 1916 pelo líder revolucionário Patrick Pearse no GPO, onde os rebeldes estabeleceram seu quartel-general e resistiram aos britânicos por quase uma semana.

No fim, exaustos e sem possibilidade de vitória, acabaram se rendendo. Mas os seis violentos dias da Semana Santa tiveram um impacto enorme sobre o até então adormecido nacionalismo irlandês.

"Irlandeses e irlandesas: Em nome de Deus e das gerações mortas das quais recebemos a velha tradição e nacionalidade, a Irlanda, através de nós, convoca seus filhos sob sua bandeira e se rebela por sua liberdade", afirmava o texto assinado pelos sete líderes da revolução.

Era um grupo de líderes que quase não tinha conhecimentos militares, composto por jornalistas, escritores, poetas e professores, que detalharam os "princípios" e "ideais" da República da Irlanda, que queiram fundar com total independência do Reino Unido, lembrou o primeiro-ministro Enda Kenny.

Após a leitura, que foi ovacionada pelo público presente, foi respeitado um minuto de silêncio em homenagem aos mortos da revolta, encerrada após a morte de 82 rebeldes, entre eles 16 executados. Por outro lado, morreram 143 soldados britânicos e 260 civis.

A banda do Exército rompeu o silêncio na Rua O'Connell, enquanto a bandeira do país era hasteada.

Durante o desfile militar, do qual participaram quase 4 mil soldados, da polícia e dos serviços de emergência, foi cantado em várias oportunidades o "Amhran na bhFiann" ("A canção dos soldados"), entoada pelos rebeldes há cem anos e transformada posteriormente no hino nacional do país.

Entre os presentes estavam vários ex-presidentes e ex-primeiros-ministros da Irlanda, assim como o embaixador do Reino Unido em Dublin, Dominick Chilcott, como uma mostra do novo clima de entendimento e amizade entre os dois países.

Também participou, representando a Irlanda do Norte, o vice-ministro e ex-comandante do já inativo Exército Republicano Irlandês (IRA), o nacionalista Martin McGuinness.

Por outro lado, Arlene Foster, chefe do governo autônomo de Belfast, de poder compartilhado entre protestantes e católicos, se negou a comparecer, pois os unionistas - partidários da permanência da Irlanda do Norte no Reino Unido - consideram que a revolta semeou as sementes do conflito que castigou a ilha durante quase todo o século XX.

A revolta resultou, após a Guerra de Independência (1919-1921), na criação em 1922 de um estado livre da Irlanda, composto por 26 condados e precursor da atual República da Irlanda, fundada em 1949.

Em troca, Dublin aceitava a divisão da ilha e deixava sob o controle de Londres seis dos nove condados do Ulster, o que passou a ser a Irlanda do Norte.

A maior parte dos historiadores reconhece que a revolta da Semana Santa despertou a consciência nacionalista na população irlandesa e encorajou outras colônias britânicas a declarar independência do Reino Unido, mas também acentuou as divisões com os protestantes-unionistas.