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Nova direita alemã aposta em "patriotismo sem complexos"

30/04/2016 14h39

Gemma Casadevall.

Stuttgart (Alemanha), 30 abr (EFE).- Representada pelo partido Alternativa pela Alemanha (AfD), a nova direita alemã intensificou neste sábado seu discurso em prol de um "patriotismo sem complexos", desafiador por seu crescimento nas urnas e em meio a violentos protestos de rua de manifestantes de esquerda.

Stuttgart, capital do próspero estado federado de Baden-Württemberg, foi palco, na abertura do congresso da AfD, de duas formas de radicalização de linhas contrárias: a do populismo direitista emergente e a dos que pretendiam impedi-lo à força.

A jornada teve saldo de 500 detidos temporariamente, de um total de 1,5 mil manifestantes, barricadas com pneus em chamas e grupos tentando abrir caminho rumo ao local onde acontecia o evento.

As autoridades locais tinham montado um cordão de isolamento nas imediações do pavilhão do congresso da AfD, destinado a impedir distúrbios entre os cerca de 2 mil participantes do evento e os esquerdistas.

Os esforços de bloqueio começaram no começo da manhã, e ao meio-dia a situação parecia sob controle, enquanto no local do evento as duas alas do partido, a mais ou menos moderada e a radical, faziam uma queda de braço para definir a linha do partido. A AfD representa a um "patriotismo sem complexos", disposto a "apresentar resistência à chegada incontrolada de imigração de outras culturas" e, como proclamou seu copresidente, Jörg Meuthen, a impedir que, "em poucos anos, acabemos não reconhecendo nosso país".

O idioma alemão sofre "violações linguísticas", à mercê das distorções utilizadas nas redes sociais e da presença desses imigrantes, acrescentou, entre frenéticos aplausos.

Meuthen foi a voz da ala radical, que defende a proibição dos símbolos do islã - desde minaretes à burca - por considerá-lo uma "ideologia anticonstitucional, enquanto o líder e rosto mais midiático do partido, Frauke Petry, fazia um apelo em prol da coesão.

Os 2 mil delegados, reunidos em uma sala cuja capacidade não dava para acolher todos - nem a maciça presença dos veículos de imprensa -, ovacionaram o primeiro e com menos complacência o segundo.

No meio ocorreram discursos como o do eurodeputado Marcus Pretzell, que leu uma mensagem solidária do ultradireitista FPÖ austríaco - "partido do futuro presidente da Áustria", disse, por sua vez, Norbert Hofer, ganhador do primeiro turno das eleições presidenciais.

Pretzell anunciou sua entrada na bancada do partido francês Frente Nacional na Eurocâmara e defendeu o retorno às competências nacionais, para evitar que "gente como o (partido esquerdista) Podemos na Espanha possa acabar definindo pautas na Europa".

O congresso, que termina hoje, é marcado pela euforia de um partido que em 2013, seu ano de fundação, parecia agônico, após não conseguir assentos no Bundestag (parlamento federal) por ter ficado abaixo da cláusula de barreira.

A AfD está agora maior, escorada no voto de protesto contra a chegada de refugiados à Alemanha - o país recebeu em 2015 1,1 milhão de peticionários de asilo - e devido ao desgaste dos grandes partidos da coalizão da chanceler Angela Merkel.

Atualmente a legenda tem dois deputados no Parlamento Europeu, cadeiras em 6 das 16 câmaras regionais alemãs e, em março, obteve 24% dos votos no estado federado da Saxônia-Anhalt, assim como 15% no de Baden-Wüttemberg.

O congresso foi aberto com mais de uma hora de atraso, atribuído aos esforços de bloqueio esquerdistas. Além disso, houve outros atrasos por problemas de procedimento e caos na resolução das múltiplas moções dos delegados, por vaias e por uma resolução para dissolver a delegação claramente ultradireitista do estado federado do Sarre.

Da tribuna de oradores foram lançafas ironias em direção aos manifestantes esquerdistas - "eles também são uma forma de vida humana" -, e alusões hostis à imprensa, como o termo "Lügenpresse" - "imprensa mentirosa" -, cunhado pelo movimento islamofóbico "Pegida".