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Comunidade internacional acolhe o acordo de paz na Colômbia

23/09/2016 18h12

Ovidio Castro Medina.

Bogotá, 23 set (EFE).- O processo de paz da Colômbia tem na comunidade internacional uma aceitação poucas vezes vista, traduzido em apoio político e econômico e na presença de pelo menos 14 presidentes e outros líderes mundiais como "padrinhos" da histórica assinatura que acontecerá na próxima segunda-feira em Cartagena das Índias.

A aposta do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, em dar um caráter internacional para uma negociação interna, com forte apoio regional, foi uma maneira de garantir que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), sob nenhuma circunstância, deixariam a mesa de diálogo em Havana pelo impacto negativo que uma decisão desse tipo teria diante dos olhos do mundo.

Em 2010, quando começaram os contatos secretos para um diálogo de paz, foi decisiva a influência do então presidente venezuelano, Hugo Chávez, na opinião do diretor do Centro de Pensamento e Acompanhamento do Diálogo de Paz da Universidade Nacional, Alejo Vargas.

"Chávez foi o único que convenceu as Farc a iniciarem conversas com o governo de Santos, um presidente a quem eles (a guerrilha) viam como um continuador das políticas de Álvaro Uribe, e que, naquele momento, era visto como o principal exemplo da influência externa da política americana na América do Sul", afirmou Vargas à Agência Efe.

A aprovação unânime da comunidade internacional é um dos argumentos utilizados por Santos para defender o acordo de paz com as Farc e contrasta com a polarização que existe no país, que está dividido entre partidários e críticos do pacto com a guerrilha.

"Hoje, em nome de aproximadamente 50 milhões de colombianos, quero expressar, do fundo do coração, nossa gratidão para a comunidade internacional por seu contínuo e permanente apoio ao processo de paz na Colômbia", manifestou Santos nesta quarta-feira ao discursar na Assembleia Geral da ONU.

A importância que o mundo dá ao fim do conflito de 52 anos com as Farc se reflete no fato de que a ONU está participando ativamente do processo com uma Missão de Verificação, enquanto os Estados Unidos e a União Europeia (UE) designaram Bernard Aronson e Eamon Gilmore como enviados especiais para a paz.

Em seu discurso na ONU, Santos lembrou que Cuba, "o país anfitrião dos diálogos", foi, ao lado da Noruega, o mediador das conversas, enquanto Chile e Venezuela "acompanharam todo o processo".

O presidente colombiano terá a oportunidade de agradecer pessoalmente ao mundo o apoio na próxima segunda-feira quando vários líderes mundiais estarão em Cartagena como testemunhas da assinatura do acordo de paz.

Entre os que confirmaram sua presença estão os presidentes de Cuba, Raúl Castro; Venezuela, Nicolás Maduro, e Chile, Michelle Bachelet, países diretamente envolvidos no processo.

Também estarão presentes o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o presidente do Banco Mundial (BM), Jim Yong Kim, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, e o secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, entre outros.

Além disso, a assinatura do pacto será acompanhada pelos líderes de México, Argentina, Guatemala, Honduras, El Salvador, Panamá, Costa Rica, Equador, Peru, Paraguai e República Dominicana.

Também é relevante a presença do secretário de Estado americano, John Kerry, cujo país tem a Colômbia como principal aliado na região e o apoiou através de programas como o Plano Colômbia, que chegou a seu fim após 15 anos de ajudas milionárias no âmbito militar, que serviu para a luta contra o narcotráfico e as guerrilhas.

Além disso, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, administra no Congresso mais de US$ 450 milhões como parte do plano "Paz Colômbia", uma nova fase na assistência ao país, condicionada ao acordo com as Farc e que incluirá também ajuda para a remoção de minas anti-pessoais.

A Colômbia espera receber também US$ 87 milhões prometidos pela comunidade internacional para a remoção das minas, uma iniciativa liderada por EUA e Noruega.

Além do apoio político, a União Europeia contribuiu com mais de US$ 612 milhões em projetos de construção da paz na Colômbia, que abrangem atendimento a deslocados, desenvolvimento rural e remoção de minas, entre outros.

Após a assinatura do acordo de paz, a UE destinará outros US$ 102 milhões através de um fundo fiduciário e por volta de US$ 445 milhões em créditos com o Banco Europeu de Investimentos (BEI).

Isto não inclui os mais de US$ 1,012 bilhão fornecido ao país pelos Estados-membros da UE entre 2010 e 2015, recursos que sempre estiveram destinados à construção da paz.