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Após ano crítico, Haiti vislumbra novo governo

21/12/2016 22h42

Porto Príncipe, 21 dez (EFE).- O Haiti termina um ano difícil após a calamidade do devastador furacão Matthew, que deixou centenas de mortos e milhares de desabrigados, mas se os resultados preliminares das eleições forem confirmados, o país terá em 2017 um novo presidente, depois de a votação ser adiada várias vezes.

O país, o mais pobre da América, começou 2016 em meio a uma crise política, que impediu a escolha do sucessor do ex-presidente Michel Martelly, em 15 de fevereiro, o então titular do Senado, Jocelerme Privert, assumiu provisoriamente o Executivo. O estopim da crise foi o questionamento das eleições presidenciais de outubro do ano passado, cujo resultado acabou sendo invalidado em junho deste ano, colocando novamente o Haiti em uma situação de instabilidade, agravada pela crescente sensação de insegurança.

Naquelas eleições, Jovenel Moise, do Partido Haitiano Tet Kale (PHTK), o mesmo de Martelly, obteve 32,81%; e Jude Celestin, da Liga Alternativa pelo Progresso e Emancipação Haitiana (Lapeh), 25,27%. No entanto, o candidato perdedor denunciou os resultados como fraudulentos e conseguiu apoio de outros seis concorrentes, que se juntaram no chamado G-7 para pressionar até conseguir a anulação da eleição.

A Comissão de Verificação propôs o cancelamento do pleito por detectar sérias irregularidades e recomendou a realização de um novo processo eleitoral, aceito pelo Conselho Eleitoral Provisório (CEP) que convocou eleições para 9 de outubro. Quando tudo estava pronto para a nova votação, em 4 de outubro o furacão Matthew chegou ao oeste do empobrecido país deixando um rastro de morte e destruição.

O balanço oficial dá conta de 546 mortos, 128 desaparecidos e 175 mil deslocados pela passagem do furacão, que afetou diretamente, segundo dados da ONU, 1,4 milhão de pessoas, e deixou 800 mil precisando de ajuda alimentar.

Matthew provocou a pior crise humanitária depois do terremoto de 2010, que deixou 300 mil mortos, e causou um aumento do cólera, doença que chegou ao país com um contingente de boinas azuis do Nepal enviados à ilha depois do tremor. Seis anos depois da aparição do cólera no Haiti, e, 1º de dezembro, a ONU se desculpou com o país por sua responsabilidade na epidemia e pediu à comunidade internacional para enviar recursos para ajudar os afetados pela doença.

Perante a magnitude da crise causada pelo furacão, o Comitê Eleitoral Provisório (CEP) do Haiti adiou a eleição para 20 de novembro, votação que transcorreu normalmente, mas com baixa participação dos eleitores. Os resultados preliminares, divulgados uma semana depois, deram vitória com folga e sem necessidade de segundo turno a Jovenel Moise.

Conforme as primeiras apurações, Moise ganhou as eleições com 55,67% dos votos, enquanto seu oponente mais próximo, Jude Celestin, alcançou 19,52%. Os resultados definitivos serão divulgados no próximo dia 29 e, se confirmarem os preliminares, Moise, um empresário do setor agrícola, se tornará o próximo presidente do Haiti.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) afirmou que os dados oficiais "estão em linha" com os levantados pela missão de observadores que está no país o dia do pleito, mas Celestin Moise Jean-Charles, da Plataforma dos Filhos de Dessalines; Maryse Narcisse, do Famílias Lavalas, e outros dois dos 27 candidatos que concorreram, impugnaram os resultados afirmando que possuem "provas sólidas" de uma suposta fraude eleitoral. Os partidários dos três candidatos protagonizaram vários protestos que, em alguns casos, terminaram em violência.