Caso "Rasputina" e indignação popular abalam imagem da presidente Park
Atahualpa Amerise.
Seul, 26 dez (EFE).- A Coreia do Sul viveu em 2016 uma forte convulsão política e social pelo escândalo da "Rasputina", que gerou as maiores manifestações da história do país e deu origem a um processo de destituição da presidente, Park Geun-hye.
Choi Soon-sil, uma mulher de 60 anos sem cargo público algum, supostamente teve influência em políticas do governo, extorquiu as maiores empresas do país e inclusive impulsionou ilicitamente a carreira esportiva e acadêmica de sua filha.
Tudo isto foi feito, segundo os promotores, com a cumplicidade de Park, sua amiga íntima há décadas, o que despertou uma revolução política e social sem precedentes até o ponto de iniciar um processo de destituição da primeira mulher chefe de Estado da jovem democracia sul-coreana.
A indignação popular com o caso se traduziu em grandes mobilizações e a cada sábado centenas de milhares de pessoas protagonizaram protestos maciços - o maior delas em 26 de novembro em Seul com mais de 1,5 milhão, segundo os organizadores - para pedir a renúncia da chefe de Estado.
Os primeiros indícios do escândalo são de outubro, quando veículos de imprensa locais divulgaram que a jovem Chung Yoo-ra tinha obtido privilégios acadêmicos na prestigiada Universidade Feminina de Ewha graças às conexões de sua mãe com a Casa Azul, a então desconhecida "Rasputina".
Aquele incidente relativamente menor começou a gerar interesse sobre esta misteriosa figura próxima à presidente, até que no final do mesmo mês a emissora local "JTBC" - uma das mais críticas de Park - detonou uma bomba midiática.
Jornalistas do canal conseguiram ter acesso a um "tablet" pertencente a Choi Soon-sil e publicaram seu conteúdo: discursos políticos da chefe de Estado amplamente editados por sua amiga com dias de antecedência, algo ilícito por ser informação confidencial.
A revelação gerou ferozes críticas em veículos de imprensa e redes sociais, o que obrigou a presidente a pedir perdão publicamente argumentando que só buscava "o conselho de uma amiga".
De pouco serviu a desculpa, e a bola de neve seguiu crescendo com a revelação de que Choi tinha acesso ilimitado à Casa Azul sem credenciais e inclusive decidia sobre o guarda-roupa de Park Geun-hye, a quem chamava habitualmente de "irmã".
Os sul-coreanos começaram a questionar se realmente a presidente estava à frente do país ou era sua amiga quem manejava os fios condutores e até que ponto tinha ditado políticas em segredo, nomeado ou demitido altos funcionários do governo ou aumentado fortunas usando sua privilegiada relação.
A sensação generalizada de que a chefe de Estado era uma marionete nas mãos de sua misteriosa confidente adquiriu ainda mais transcendência devido ao cenário familiar de Choi Soon-sil, filha de Choi Tae-min, fundador e líder da seita religiosa "Igreja da Vida Eterna", falecido em 1994.
O líder da seita - um estranho culto que mistura várias religiões - aparentemente se tornou mentor de Park após convencê-la de que era capaz de se comunicar com sua mãe assassinada em 1974, segundo antigos documentos publicados pelo Wikileaks e relatórios de inteligência.
A imprensa e os internautas não duvidaram em qualificar a influência de Choi sobre Park como "xamânica" e a popularidade da presidente desabou de mais de 50% até 5%, o número mais baixo de um líder sul-coreano na história.
Por outro lado, procuradores descobriram que as maiores empresas do país (entre elas Samsung e Hyundai) tinham doado dezenas de milhões de dólares a duas fundações controladas pela "Rasputina", e investigaram se houve extorsão ou troca de favores.
A presidente, que está no quarto de seus cinco anos de mandato, demitiu parte de sua equipe, delegou várias funções ao novo primeiro-ministro, Hwang Kyo-ahn, e pediu desculpas em vários discursos, embora tenha continuado no poder.
A Assembleia Nacional (parlamento) aprovou em 9 de dezembro uma moção para iniciar um processo de destituição, o que tirou de Park provisoriamente todos seus poderes como chefe de Estado, desde o controle do Exército até o direito a veto ou decisões sobre política externa.
O controle do governo ficou provisoriamente em mãos do primeiro-ministro até que o Tribunal Constitucional dê seu veredicto final sobre o resultado da votação parlamentar.
Para que o "impeachment" seja efetivo, é necessário o voto de seis dos nove juízes do Constitucional, que conta com um período de avaliação de até seis meses.
De dar o sinal verde ao processo, a primeira mulher chefe de Estado da Coreia do Sul também passaria à história como a primeira a não completar seu mandato de cinco anos.
Seul, 26 dez (EFE).- A Coreia do Sul viveu em 2016 uma forte convulsão política e social pelo escândalo da "Rasputina", que gerou as maiores manifestações da história do país e deu origem a um processo de destituição da presidente, Park Geun-hye.
Choi Soon-sil, uma mulher de 60 anos sem cargo público algum, supostamente teve influência em políticas do governo, extorquiu as maiores empresas do país e inclusive impulsionou ilicitamente a carreira esportiva e acadêmica de sua filha.
Tudo isto foi feito, segundo os promotores, com a cumplicidade de Park, sua amiga íntima há décadas, o que despertou uma revolução política e social sem precedentes até o ponto de iniciar um processo de destituição da primeira mulher chefe de Estado da jovem democracia sul-coreana.
A indignação popular com o caso se traduziu em grandes mobilizações e a cada sábado centenas de milhares de pessoas protagonizaram protestos maciços - o maior delas em 26 de novembro em Seul com mais de 1,5 milhão, segundo os organizadores - para pedir a renúncia da chefe de Estado.
Os primeiros indícios do escândalo são de outubro, quando veículos de imprensa locais divulgaram que a jovem Chung Yoo-ra tinha obtido privilégios acadêmicos na prestigiada Universidade Feminina de Ewha graças às conexões de sua mãe com a Casa Azul, a então desconhecida "Rasputina".
Aquele incidente relativamente menor começou a gerar interesse sobre esta misteriosa figura próxima à presidente, até que no final do mesmo mês a emissora local "JTBC" - uma das mais críticas de Park - detonou uma bomba midiática.
Jornalistas do canal conseguiram ter acesso a um "tablet" pertencente a Choi Soon-sil e publicaram seu conteúdo: discursos políticos da chefe de Estado amplamente editados por sua amiga com dias de antecedência, algo ilícito por ser informação confidencial.
A revelação gerou ferozes críticas em veículos de imprensa e redes sociais, o que obrigou a presidente a pedir perdão publicamente argumentando que só buscava "o conselho de uma amiga".
De pouco serviu a desculpa, e a bola de neve seguiu crescendo com a revelação de que Choi tinha acesso ilimitado à Casa Azul sem credenciais e inclusive decidia sobre o guarda-roupa de Park Geun-hye, a quem chamava habitualmente de "irmã".
Os sul-coreanos começaram a questionar se realmente a presidente estava à frente do país ou era sua amiga quem manejava os fios condutores e até que ponto tinha ditado políticas em segredo, nomeado ou demitido altos funcionários do governo ou aumentado fortunas usando sua privilegiada relação.
A sensação generalizada de que a chefe de Estado era uma marionete nas mãos de sua misteriosa confidente adquiriu ainda mais transcendência devido ao cenário familiar de Choi Soon-sil, filha de Choi Tae-min, fundador e líder da seita religiosa "Igreja da Vida Eterna", falecido em 1994.
O líder da seita - um estranho culto que mistura várias religiões - aparentemente se tornou mentor de Park após convencê-la de que era capaz de se comunicar com sua mãe assassinada em 1974, segundo antigos documentos publicados pelo Wikileaks e relatórios de inteligência.
A imprensa e os internautas não duvidaram em qualificar a influência de Choi sobre Park como "xamânica" e a popularidade da presidente desabou de mais de 50% até 5%, o número mais baixo de um líder sul-coreano na história.
Por outro lado, procuradores descobriram que as maiores empresas do país (entre elas Samsung e Hyundai) tinham doado dezenas de milhões de dólares a duas fundações controladas pela "Rasputina", e investigaram se houve extorsão ou troca de favores.
A presidente, que está no quarto de seus cinco anos de mandato, demitiu parte de sua equipe, delegou várias funções ao novo primeiro-ministro, Hwang Kyo-ahn, e pediu desculpas em vários discursos, embora tenha continuado no poder.
A Assembleia Nacional (parlamento) aprovou em 9 de dezembro uma moção para iniciar um processo de destituição, o que tirou de Park provisoriamente todos seus poderes como chefe de Estado, desde o controle do Exército até o direito a veto ou decisões sobre política externa.
O controle do governo ficou provisoriamente em mãos do primeiro-ministro até que o Tribunal Constitucional dê seu veredicto final sobre o resultado da votação parlamentar.
Para que o "impeachment" seja efetivo, é necessário o voto de seis dos nove juízes do Constitucional, que conta com um período de avaliação de até seis meses.
De dar o sinal verde ao processo, a primeira mulher chefe de Estado da Coreia do Sul também passaria à história como a primeira a não completar seu mandato de cinco anos.
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