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Canadá retorna à cena internacional em primeiro ano do governo de Trudeau

27/12/2016 14h36

Julio César Rivas.

Toronto, 27 dez (EFE).- A volta ao poder do Partido Liberal do Canadá por meio de Justin Trudeau, após quase dez anos na oposição, significou também o "retorno" do país ao cenário internacional após uma década de progressivo isolamento.

No começo de dezembro de 2016, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, viajou a Ottawa para se despedir antes de deixar definitivamente a Casa Branca.

Durante o jantar oferecido por Trudeau a Biden, o vice-presidente declarou que "o mundo vai passar muito tempo observando, primeiro-ministro, à medida que são gerados mais e mais desafios à ordem internacional liberal como nunca desde o final da Segunda Guerra Mundial".

Biden terminou seu discurso com um efusivo "Viva o Canadá, porque precisamos muito de vocês, muito de verdade".

As palavras de Biden resumem o sentimento do mundo liberal em relação a Canadá e Trudeau, especialmente após dez anos de governos do ex-primeiro-ministro conservador Stephen Harper e com a iminente chegada à Casa Branca do republicano Donald Trump.

Seja em questões como a mudança climática, a crise de refugiados sírios ou a crescente popularidade de políticas protecionistas no mundo ocidental, em seu primeiro ano de governo, Trudeau e seu Partido Liberal cumpriram a promessa de que o Canadá retornaria ao cenário internacional.

A promessa foi feita por Trudeau imediatamente após ganhar as eleições gerais de 19 de outubro de 2015 e pôr fim a quase uma década do governo de Harper, caracterizada pelo paulatino isolamento do Canadá dos fóruns internacionais.

Uma das primeiras medidas de Trudeau após formar governo foi a de impulsionar a chegada ao Canadá de refugiados sírios em um momento no qual muitos países europeus estavam fechando suas portas perante as ondas de pessoas que fugiam da guerra civil na Síria.

Em uma cena que foi emitida de forma incessante pelas televisões de todo o mundo, na noite de 10 de dezembro de 2015 Trudeau foi ao aeroporto de Toronto para receber pessoalmente o primeiro grupo de refugiados sírios.

Acompanhado de alguns de seus principais ministros, Trudeau deu as mãos aos recém-chegados, pegou crianças sírias no colo e as ajudou a colocar seus primeiros casacos.

Em 10 de dezembro, em um evento realizado para comemorar a chegada dos primeiros refugiados, o ministro de Imigração canadense, John McCallum, declarou que "em um momento no qual muitos países fecharam suas portas aos refugiados, no Canadá dissemos 'venham, vocês são bem-vindos".

No total, o Canadá recebeu 36 mil refugiados sírios em 2016 e outros 23 mil poderiam chegar nos próximos meses.

E seu modelo de amparo de refugiados, no qual cidadãos e organizações privadas patrocinam a chegada de refugiados, está sendo estudado por muitos países que querem repeti-lo em suas fronteiras.

O "retorno" do Canadá ao cenário internacional também foi claro durante o último ano na luta contra a mudança climática.

Em uma decisão sem precedente na história canadense, em 2010 Harper retirou o Canadá do Protocolo de Kyoto para poder explorar sem limites as jazidas petrolíferas do país.

O governo canadense anterior também se destacou por apresentar impedimentos a acordos ambientais em fóruns internacionais.

Uma das primeiras grandes medidas de Trudeau foi chegar a um acordo nacional sobre mudança climática, que impõe um preço às emissões de carbono, e defender de forma vigorosa a necessidade de lutar contra a mudança climática.

As decisões sobre a mudança climática foram tão notáveis que, durante a mencionada visita de Biden a Ottawa, o vice-presidente americano afirmou que o primeiro-ministro canadense era uma das figuras fundamentais para conseguir avanços na matéria.

"Vai haver progresso, mas vai ser necessário que pessoas como o senhor, primeiro-ministro, que entendem que tem que se enquadrar no contexto de um ordem econômica liberal, um ordem internacional liberal", disse Biden.

E Biden, assim como muitos outros americanos, têm suas esperanças postas em que Trudeau, como expressou até agora de forma pública, sirva de contrapeso ao futuro presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no que diz respeito a políticas comerciais protecionistas, defendidas pelo magnata nova-iorquino.

Canadá, Estados Unidos e México formam o chamado Tratado de Livre-Comércio da América do Norte (NAFTA).

Trump defendeu na campanha eleitoral a renegociação do NAFTA, o que no Canadá é visto com temor, já que o tráfego bilateral de mercadorias supera os US$ 1,5 bilhão por dia.

Em novembro, o primeiro-ministro do Canadá afirmou em Lima, após a Cúpula de Líderes do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), que trabalhará para demonstrar a Trump os benefícios do livre-comércio para ambos os países.