Trump e Kim Jong-nam são nomes desconhecidos na isolada Coreia do Norte
Andrés Sánchez Braun.
Pyongyang, 26 fev (EFE).- O desconhecimento entre os norte-coreanos sobre o assassinato do irmão mais velho do líder Kim Jong-un e, inclusive, sobre o polêmico presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, são uma amostra da rigorosa censura informativa que o regime comunista ainda mantém em plena era digital.
Enquanto a novelesca trama em torno da morte de Kim Jong-nam e os supostos contatos dos assessores do novo presidente dos Estados Unidos com a inteligência russa estampavam as manchetes em meio mundo, no mesmo dia, o fechado país abriu os noticiários com a visita do líder supremo a um centro de piscicultura.
"Como se chama este novo presidente dos Estados Unidos?", foi a pergunta de um dos guias estatais, de sobrenome Baek, responsável por acompanhar um grupo de jornalistas estrangeiros em visita à Coreia do Norte.
Apesar de ter vivido vários anos fora de seu país para aprender idiomas, residir em Pyongyang - onde moram os mais privilegiados da Coreia do Norte - e de ter contato regular com estrangeiros, Baek ouviu apenas uma ou duas vezes o nome de Trump na imprensa norte-coreana, que, por aparente prudência, ainda não avaliou nenhuma de suas ações.
Por isso, Baek não sabe nada sobre as declarações ofensivas de Trump em relação às mulheres, de seu plano de construir um muro na fronteira com o México, e do veto que assinou para impedir a entrada nos EUA de cidadãos procedentes de sete países muçulmanos.
Assim é o universo paralelo norte-coreano: um buraco negro informativo que protege a ideologia stalinista nacional do contágio exterior e que sobrevive em pleno auge da internet 2.0.
Isto deixa o país no penúltimo lugar - o de número 179, atrás apenas da Eritreia - no ranking mundial sobre liberdade de imprensa que é elaborado a cada ano pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
Apesar da porosidade desta "Cortina de Ferro" ter aumentado recentemente pelo tráfico de pendrives e DVDs vindos da China, e de uma maior permissividade para certos conteúdos, como os personagens da Disney, por exemplo, a maioria dos norte-coreanos só tem acesso a informações do exterior através do filtro realizado pelo monopólio dos meios de comunicação estatais.
Há décadas o país interfere, com enormes antenas colocadas em suas fronteiras, nas emissões radiofônicas estrangeiras e, inclusive, os "smartphones" em posse de um número cada vez maior de cidadãos servem apenas para navegar pela rede "Kwangmyon" ("Luz" em coreano), na realidade uma intranet controlada pelo regime.
"Em lugares como Europa e Japão, é muito importante saber quem ocupa a Casa Branca, pois existe uma relação bilateral. Em nosso caso, os Estados Unidos são um inimigo com o qual não mantemos laços diplomáticos", afirmou à Agência Efe Ju Jong-hyok, diretor-gerente de uma operadora de turismo norte-coreana.
"Dá no mesmo para nós se é Obama, Bush ou este tal de Trump. Todos são igualmente ruins", comentou outro guia de sobrenome Yu, que, por outro lado, revelou enorme interesse e surpresa quando soube dos detalhes sobre o recente caso de corrupção que abalou a Coreia do Sul, a presidente do país e o gigante conglomerado empresarial Samsung.
Ainda mais amplo é o blecaute informativo em torno de Kim Jong-nam, o irmão do líder que foi assassinado no último dia 13 de fevereiro na Malásia e cuja existência nunca foi notificada publicamente pelos veículos de imprensa estatais.
Até o dia 23 de fevereiro, dez dias depois do ocorrido, a agência de notícias "KCNA" não havia feito menção ao caso e, quando o fez, falou somente de "um cidadão da República Popular Democrática de Coreia (RPDC, nome oficial da Coreia do Norte) em posse de um passaporte diplomático".
Apesar de ter sido cogitado como substituto de seu pai, Kim Jong-nam, fruto da relação entre Kim Jong-il - que liderou o país de 1994 a 2011 - e sua primeira concubina, sempre foi invisível para os norte-coreanos, assim como acontece com a maioria de irmãos, amantes e filhos dos líderes da dinastia Kim.
"Quando vivia no norte, sabia da existência de Kim Jong-nam, mas só porque meu avô - que era cientista e viajava ao exterior - me falou sobre os filhos de Kim Jong-il que estudavam fora (os cinco frequentaram colégios e universidades em Suíça e França)", contou em Seul Angella Kim.
Angella, que nasceu em Wonsan, na costa leste da Coreia do Norte, e fugiu do país para se refugiar na Coreia do Sul em 2008, garante que as "pessoas comuns" desconhecem a existência de todos esses descendentes e, em geral, não sabem de quase nada que "acontece fora do país".
Pyongyang, 26 fev (EFE).- O desconhecimento entre os norte-coreanos sobre o assassinato do irmão mais velho do líder Kim Jong-un e, inclusive, sobre o polêmico presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, são uma amostra da rigorosa censura informativa que o regime comunista ainda mantém em plena era digital.
Enquanto a novelesca trama em torno da morte de Kim Jong-nam e os supostos contatos dos assessores do novo presidente dos Estados Unidos com a inteligência russa estampavam as manchetes em meio mundo, no mesmo dia, o fechado país abriu os noticiários com a visita do líder supremo a um centro de piscicultura.
"Como se chama este novo presidente dos Estados Unidos?", foi a pergunta de um dos guias estatais, de sobrenome Baek, responsável por acompanhar um grupo de jornalistas estrangeiros em visita à Coreia do Norte.
Apesar de ter vivido vários anos fora de seu país para aprender idiomas, residir em Pyongyang - onde moram os mais privilegiados da Coreia do Norte - e de ter contato regular com estrangeiros, Baek ouviu apenas uma ou duas vezes o nome de Trump na imprensa norte-coreana, que, por aparente prudência, ainda não avaliou nenhuma de suas ações.
Por isso, Baek não sabe nada sobre as declarações ofensivas de Trump em relação às mulheres, de seu plano de construir um muro na fronteira com o México, e do veto que assinou para impedir a entrada nos EUA de cidadãos procedentes de sete países muçulmanos.
Assim é o universo paralelo norte-coreano: um buraco negro informativo que protege a ideologia stalinista nacional do contágio exterior e que sobrevive em pleno auge da internet 2.0.
Isto deixa o país no penúltimo lugar - o de número 179, atrás apenas da Eritreia - no ranking mundial sobre liberdade de imprensa que é elaborado a cada ano pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
Apesar da porosidade desta "Cortina de Ferro" ter aumentado recentemente pelo tráfico de pendrives e DVDs vindos da China, e de uma maior permissividade para certos conteúdos, como os personagens da Disney, por exemplo, a maioria dos norte-coreanos só tem acesso a informações do exterior através do filtro realizado pelo monopólio dos meios de comunicação estatais.
Há décadas o país interfere, com enormes antenas colocadas em suas fronteiras, nas emissões radiofônicas estrangeiras e, inclusive, os "smartphones" em posse de um número cada vez maior de cidadãos servem apenas para navegar pela rede "Kwangmyon" ("Luz" em coreano), na realidade uma intranet controlada pelo regime.
"Em lugares como Europa e Japão, é muito importante saber quem ocupa a Casa Branca, pois existe uma relação bilateral. Em nosso caso, os Estados Unidos são um inimigo com o qual não mantemos laços diplomáticos", afirmou à Agência Efe Ju Jong-hyok, diretor-gerente de uma operadora de turismo norte-coreana.
"Dá no mesmo para nós se é Obama, Bush ou este tal de Trump. Todos são igualmente ruins", comentou outro guia de sobrenome Yu, que, por outro lado, revelou enorme interesse e surpresa quando soube dos detalhes sobre o recente caso de corrupção que abalou a Coreia do Sul, a presidente do país e o gigante conglomerado empresarial Samsung.
Ainda mais amplo é o blecaute informativo em torno de Kim Jong-nam, o irmão do líder que foi assassinado no último dia 13 de fevereiro na Malásia e cuja existência nunca foi notificada publicamente pelos veículos de imprensa estatais.
Até o dia 23 de fevereiro, dez dias depois do ocorrido, a agência de notícias "KCNA" não havia feito menção ao caso e, quando o fez, falou somente de "um cidadão da República Popular Democrática de Coreia (RPDC, nome oficial da Coreia do Norte) em posse de um passaporte diplomático".
Apesar de ter sido cogitado como substituto de seu pai, Kim Jong-nam, fruto da relação entre Kim Jong-il - que liderou o país de 1994 a 2011 - e sua primeira concubina, sempre foi invisível para os norte-coreanos, assim como acontece com a maioria de irmãos, amantes e filhos dos líderes da dinastia Kim.
"Quando vivia no norte, sabia da existência de Kim Jong-nam, mas só porque meu avô - que era cientista e viajava ao exterior - me falou sobre os filhos de Kim Jong-il que estudavam fora (os cinco frequentaram colégios e universidades em Suíça e França)", contou em Seul Angella Kim.
Angella, que nasceu em Wonsan, na costa leste da Coreia do Norte, e fugiu do país para se refugiar na Coreia do Sul em 2008, garante que as "pessoas comuns" desconhecem a existência de todos esses descendentes e, em geral, não sabem de quase nada que "acontece fora do país".
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