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Turquia volta a usar refugiados como arma em disputa com a União Europeia

17/03/2017 16h49

Ancara, 17 mar (EFE).- O governo da Turquia voltou a usar os refugiados que fogem da guerra e da miséria como arma política na disputa com a União Europeia (UE) e desta vez foi além do ponto de ameaçar o pacto fechado há um ano, sugerindo que permitirá o envio de 15 mil pessoas por dia para o território do bloco.

"Temos um acordo de readmissão. Se eles querem, cada mês abriremos o caminho para 15 mil refugiados", disse o ministro do Interior da Turquia, Süleyman Soylu, que assumiu os ataques que os políticos turcos estão realizando contra a UE nos últimos dias.

A Turquia ameaça regularmente a UE de suspender o acordo fechado em março de 2016 para receber de volta os refugiados que chegam à Grécia, em troca de auxílios econômicos e a isenção da cobrança de vistos para cidadãos turcos que desejem entrar na Europa.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) reagiu à nova ameaça e pediu ao governo turco que não utilize as crianças, os refugiados e os imigrantes ilegais como "moeda de troca" no conflito da União Europeia.

"As crianças jamais deveriam ser utilizadas como moeda de troca. Os refugiados e os imigrantes não deveriam ser manipulados por razões políticas, em particular os mais vulneráveis", afirmou em entrevista coletiva em Genebra o coordenador do setor de refugiados e imigrantes do Unicef, Lúcio Melandri.

O ministro do Interior da Turquia foi o terceiro integrante do governo, além dos titulares das Relações Exteriores e de Assuntos Europeus, a citar o tema dos refugiados, apesar da ameaça ser recorrente há meses.

A Turquia acusa a União Europeia de não cumprir sua parte do acordo ao não repassar os 3 bilhões de euros prometidos e de manter a obrigatoriedade do visto de turcos que querem viajar ao bloco.

Apesar das ameaças, o governo da Alemanha ressaltou que não tem indícios de que a Turquia vá suspendê-lo. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país reconheceu que a Turquia ameaça ocasionalmente a UE de suspender o tratado, mas ressaltou que o pacto "continua sendo aplicado por ambas as partes.

Outro assunto que passa a fazer parte da pauta do conflito, especialmente com Alemanha e Holanda, é a proibição de atos políticos de ministros turcos nos dois países em apoio à reforma constitucional para transformar a Turquia em uma república presidencialista.

A reforma será decidida no próximo dia 16 de abril em referendo que deve ser bastante disputado.

A Holanda chegou a proibir no sábado que um ministro turco aterrissasse no país e expulsou outro membro do governo que tentou realizar um comício, apesar da proibição expressa das autoridades. Além disso, uma manifestação de turcos que vivem na Holanda foi reprimida pela polícia, que utilizou cachorros e a guarda montada.

A reação turca foi acusar a Alemanha e a Holanda de práticas nazistas e fascistas. Os holandeses também foram acusados de assassinar 8 mil bósnios muçulmanos em 1995 na cidade de Srebenica, um massacre que foi cometido, na verdade, por tropas servo-bósnias.

Um jornal pró-governo turco publicou hoje em sua manchete uma montagem com uma foto da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, com uniforme nazista. Já o jornal "Günes" acusou Merkel de "assumir a liderança dos fascistas" e de utilizar países como Áustria, Holanda e Bélgica para atacar a Turquia.

Não é a primeira vez que um jornal turco usa uma foto da chanceler na capa e a fantasiada de Hitler para acusá-la de atacar a Turquia e o presidente do país, Recep Tayyip Erdogan.

O próprio presidente, que tem discursado frequentemente em público por estar em campanha eleitoral sobre o referendo, pediu aos turcos que vivem na União Europeia para que tenham muitos filhos e afirmou que eles são o futuro da Europa.

"Será a melhor resposta à vulgaridade, ao antagonismo e à injustiça que é cometida contra nós", denunciou.

Erdogan também falou sobre a decisão tomada hoje pelo Tribunal de Justiça da União Europeia de não considerar discriminatório que uma empresa privada proíba seus empregados usar véu islâmico ou o uso visível de qualquer sinal político, filosófico ou religioso.

O presidente turco disse que uma decisão assim só explica porque a Europa lançou uma "cruzada" contra o islã e questionou como uma medida dessa pode ser considerada como liberdade de expressão.

"Proíbam os quipás se puderem", desafiou Erdogan em referência ao acessório usado pelos judeus para cobrir a cabeça.