Fantasmas de Le Pen e Mélenchon trazem inquietação a investidores
Ángel Calvo.
Paris, 21 abr (EFE).- A hipótese improvável, mas não impossível, de que o próximo presidente de França seja a candidata da extrema-direita Marine Le Pen ou o radical de esquerda Jean-Luc Mélenchon está trazendo inquietação aos mercados, como ficou evidente após cada mudança significativa nas pesquisas de intenção de voto.
O principal indicador que tem sido utilizado como referência para avaliar esses vaivéns é o prêmio de risco, diferença de rentabilidade dos títulos da dívida pública francesa com vencimento em dez anos em comparação com os equivalentes da Alemanha, que servem como referência nos mercados.
O prêmio de risco teve um aumento significativo (de menos de 50 para quase 80 pontos básicos) no início de fevereiro, quando as pesquisas começaram a mostrar a queda nas intenções de voto do candidato conservador François Fillon.
Ele era o favorito indiscutível desde que ganhou as primárias da direita em novembro de 2016 com um programa abertamente liberal no campo econômico, despencou com as revelações sobre os supostos empregos fictícios que atribuiu durante anos a sua mulher e a dois de seus filhos com dinheiro público.
Depois que a tensão diminuiu em março, a situação voltou a piorar para o conservador em 9 de abril, com uma rodada de pesquisas que constatavam o crescimento de Mélenchon, até o ponto de situá-lo à frente de Fillon.
O prêmio de risco voltou a superar então o limite simbólico dos 75 pontos. Em resposta ao nervosismo gerado por este ambiente nos investidores, os escritórios de estudos financeiros multiplicaram as notas e análises nos últimos dias para tentar esclarecer os cenários possíveis e suas consequências.
Tanto o banco francês Société Générale como o alemão Deutsche Bank indicaram que, embora exista uma diferença significativa entre os dois favoritos para o primeiro turno (Le Pen e o sócio-liberal Emmanuel Macron) e Mélenchon, se este último continuar sua ascensão, as coisas poderiam mudar e ficarem preocupantes.
Enquanto um triunfo final de Macron ou de Fillon, segundo o Deutsche Bank, reduziria o prêmio de risco francês para entre 20 e 30 pontos, o cenário de um segundo turno entre Le Pen e Mélenchon causa calafrios ao setor financeiro.
Para o banco alemão, se a líder da extrema-direita chegar ao Palácio do Eliseu, as taxas de juros que países como Espanha e Itália pagam por suas dívidas poderiam subir para níveis similares aos momentos culminantes da crise do euro em 2011, as bolsas cairiam cerca de 10%, e o euro perderia terreno frente ao dólar, ao franco suíço e ao iene.
Uma das principais promessas de Le Pen é negociar a saída do país da zona do euro, pois ela acredita que a divisa comum representa perda de competitividade para a França, algo que os especialistas coincidem que teria como consequência a desvalorização da nova moeda, que poderia ser de entre 30% e 40%.
Para se proteger, até a imprensa econômica francesa fez recomendações a seus leitores mais ricos, e o produto principal são os contratos de investimento domiciliados em Luxemburgo.
Ao mensurar em valores a ameaça do abandono da moeda única, o presidente do Banco da França, François Villeroy de Galhau, estimou em fevereiro que o financiamento da dívida pública custaria ao país pelo menos 30 bilhões de euros suplementares em juros.
Isso sem contar com os possíveis processos que muitos possuidores de títulos da dívida, sobretudo estrangeiros, estariam tentados a abrir - como aconteceu na Argentina no início do século - para impedir que seus contratos se convertessem em "novos francos".
Em março, o Centro de Estudos Prospectivos e Informações Internacionais (CEPII) considerou em um estudo que uma saída da França da zona do euro implicaria um reajuste dos tipos de câmbio com os outros países-membros, com o novo franco se desvalorizando em relação à Irlanda, Alemanha, Holanda e Luxemburgo, e se apreciando frente ao resto.
Em termos de comércio exterior, a França seria prejudicada porque enquanto 45% de suas exportações dentro da zona do euro estão destinadas ao primeiro grupo (Irlanda, Alemanha, Holanda e Luxemburgo), 55% vão para o segundo (os países do sul e do centro de Europa).
O CEPII também acrescentou que, devido à posição devedora dos bancos franceses frente a entidades de países como Alemanha, Suíça e Estados Unidos, "é quase certo que a volta do franco levaria a uma crise bancária" até o ponto em que "instaurar controles de capitais seria uma necessidade".
Paris, 21 abr (EFE).- A hipótese improvável, mas não impossível, de que o próximo presidente de França seja a candidata da extrema-direita Marine Le Pen ou o radical de esquerda Jean-Luc Mélenchon está trazendo inquietação aos mercados, como ficou evidente após cada mudança significativa nas pesquisas de intenção de voto.
O principal indicador que tem sido utilizado como referência para avaliar esses vaivéns é o prêmio de risco, diferença de rentabilidade dos títulos da dívida pública francesa com vencimento em dez anos em comparação com os equivalentes da Alemanha, que servem como referência nos mercados.
O prêmio de risco teve um aumento significativo (de menos de 50 para quase 80 pontos básicos) no início de fevereiro, quando as pesquisas começaram a mostrar a queda nas intenções de voto do candidato conservador François Fillon.
Ele era o favorito indiscutível desde que ganhou as primárias da direita em novembro de 2016 com um programa abertamente liberal no campo econômico, despencou com as revelações sobre os supostos empregos fictícios que atribuiu durante anos a sua mulher e a dois de seus filhos com dinheiro público.
Depois que a tensão diminuiu em março, a situação voltou a piorar para o conservador em 9 de abril, com uma rodada de pesquisas que constatavam o crescimento de Mélenchon, até o ponto de situá-lo à frente de Fillon.
O prêmio de risco voltou a superar então o limite simbólico dos 75 pontos. Em resposta ao nervosismo gerado por este ambiente nos investidores, os escritórios de estudos financeiros multiplicaram as notas e análises nos últimos dias para tentar esclarecer os cenários possíveis e suas consequências.
Tanto o banco francês Société Générale como o alemão Deutsche Bank indicaram que, embora exista uma diferença significativa entre os dois favoritos para o primeiro turno (Le Pen e o sócio-liberal Emmanuel Macron) e Mélenchon, se este último continuar sua ascensão, as coisas poderiam mudar e ficarem preocupantes.
Enquanto um triunfo final de Macron ou de Fillon, segundo o Deutsche Bank, reduziria o prêmio de risco francês para entre 20 e 30 pontos, o cenário de um segundo turno entre Le Pen e Mélenchon causa calafrios ao setor financeiro.
Para o banco alemão, se a líder da extrema-direita chegar ao Palácio do Eliseu, as taxas de juros que países como Espanha e Itália pagam por suas dívidas poderiam subir para níveis similares aos momentos culminantes da crise do euro em 2011, as bolsas cairiam cerca de 10%, e o euro perderia terreno frente ao dólar, ao franco suíço e ao iene.
Uma das principais promessas de Le Pen é negociar a saída do país da zona do euro, pois ela acredita que a divisa comum representa perda de competitividade para a França, algo que os especialistas coincidem que teria como consequência a desvalorização da nova moeda, que poderia ser de entre 30% e 40%.
Para se proteger, até a imprensa econômica francesa fez recomendações a seus leitores mais ricos, e o produto principal são os contratos de investimento domiciliados em Luxemburgo.
Ao mensurar em valores a ameaça do abandono da moeda única, o presidente do Banco da França, François Villeroy de Galhau, estimou em fevereiro que o financiamento da dívida pública custaria ao país pelo menos 30 bilhões de euros suplementares em juros.
Isso sem contar com os possíveis processos que muitos possuidores de títulos da dívida, sobretudo estrangeiros, estariam tentados a abrir - como aconteceu na Argentina no início do século - para impedir que seus contratos se convertessem em "novos francos".
Em março, o Centro de Estudos Prospectivos e Informações Internacionais (CEPII) considerou em um estudo que uma saída da França da zona do euro implicaria um reajuste dos tipos de câmbio com os outros países-membros, com o novo franco se desvalorizando em relação à Irlanda, Alemanha, Holanda e Luxemburgo, e se apreciando frente ao resto.
Em termos de comércio exterior, a França seria prejudicada porque enquanto 45% de suas exportações dentro da zona do euro estão destinadas ao primeiro grupo (Irlanda, Alemanha, Holanda e Luxemburgo), 55% vão para o segundo (os países do sul e do centro de Europa).
O CEPII também acrescentou que, devido à posição devedora dos bancos franceses frente a entidades de países como Alemanha, Suíça e Estados Unidos, "é quase certo que a volta do franco levaria a uma crise bancária" até o ponto em que "instaurar controles de capitais seria uma necessidade".
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