Macron, o anticorpo do sistema contra Le Pen
Enrique Rubio.
Paris, 21 abr (EFE).- A ascensão do jovem candidato Emmanuel Macron na política francesa se assemelha à de um anticorpo gerado pelo sistema como vacina contra o perigo existencial que paira sobre ele: a ultradireitista Marine Le Pen.
Na lógica de um modelo eleitoral que propicia a bipolaridade, somente um proclamado antissistema como Macron - profundamente identificado com a mesma elite que pretende reformar - podia desafiar de frente a mulher que quer chegar ao topo da V República francesa.
Jovem, bonito e inteligente, com aspecto de genro perfeito e de primeiro da classe, o ex-ministro de Economia se transformou, com seus 39 anos, no favorito para presidir a França durante os próximos cinco anos, segundo as pesquisas.
Seria preciso investigar muito para encontrar precedentes do fenômeno "macronista" nas democracias ocidentais.
Há um ano era ainda um quase desconhecido ministro de Economia que tinha conseguido desenvolver apenas uma tímida lei liberalizadora e que se distinguia mais por suas saídas de tom que por sua influência sobre os cofres do país.
Se Macron buscava alguma coisa desde sua entrada no governo socialista, em agosto de 2014, foi ter uma voz própria.
Isso lhe permitiu discordar em assuntos centrais como a reforma da Constituição impulsionada pelo presidente François Hollande - e que encalhou no parlamento - para retirar a nacionalidade francesa dos condenados por terrorismo.
A contínua procura por um perfil diferenciado, à direita do Partido Socialista, mas com preocupações sociais e cosmopolitas que o afastam dos conservadores, converteu Macron em uma entidade estranha na política francesa: um liberal.
E assim, de passagem, se erigiu na nêmesis quase perfeita de Le Pen. Dois "intrusos" com visões opostas. Protecionismo e recolhimento frente a multiculturalismo e abertura.
Filho de dois médicos de Amiens, no norte do país, Macron se formou no grande reduto gaulês de cargos públicos, a ENA (Escola Nacional de Administração), onde coincidiu com uma geração que hoje ocupa importantes cargos estatais.
Após completar seus estudos, ele começou a trabalhar como inspetor de finanças, antes de desembarcar no banco de investimentos Rothschild em 2008, do qual chegou a ser sócio.
Esse trabalho lhe valeu o rótulo de "amigo das finanças" entre seus rivais, apesar dele insistir que é precisamente isso o que lhe distingue dos políticos profissionais que viveram toda sua vida do dinheiro público.
"Não quero fazer carreira política, não estarei aqui por 15 anos", disse em um recente encontro em Paris com mulheres.
Como banqueiro, já conciliou seu trabalho com a colaboração com o então candidato à presidência François Hollande.
Convencido de que "a política é uma droga dura", entrou no Palácio do Eliseu em 2012 junto a Hollande como secretário-geral adjunto, onde foi o arquiteto das primeiras reformas econômicas impulsionadas pelo presidente socialista.
Seu pecado original, não ter sido nunca eleito para um cargo em eleições, lhe privou de ser ministro do Orçamento no primeiro gabinete de Manuel Valls, em março de 2014, mas não foi assim no segundo, cinco meses depois, quando assumiu a pasta da Economia das mãos do esquerdista Arnaud Montebourg.
Sua intenção de rumar solitário ficou clara há um ano com o nascimento do movimento político "Em Marcha", plataforma inspirada na campanha de Barack Obama nos Estados Unidos, após sair do governo em agosto.
Músico talentoso (ganhou prêmios como pianista no conservatório de Amiens) e leitor de filosofia, sua presença na mídia francesa se estendeu aos tabloides pela peculiar história de amor que lhe une com sua esposa, Brigitte Trogneux, sua antiga professora no colégio e 24 anos mais velha que ele.
Os mais próximos a Macron reconhecem a enorme influência que Trogneux exerce sobre o candidato e o ativo papel que esta tem na tomada de decisões sobre sua exposição midiática.
O aparecimento de ambos na capa da revista "Paris Match", apenas uma semana depois que o então ministro lançasse o "Em Marcha", encheu de maldade os comentários sobre o casal.
"A vida política é muito violenta para o entorno. Os prazeres narcisistas frequentemente são solitários, mas as dificuldades são compartilhadas", refletiu Macron no mesmo ato com mulheres, antes de proclamar que, "quando for eleito, Brigitte terá seu lugar, não atrás nem escondida, senão a meu lado, onde sempre esteve".
Paris, 21 abr (EFE).- A ascensão do jovem candidato Emmanuel Macron na política francesa se assemelha à de um anticorpo gerado pelo sistema como vacina contra o perigo existencial que paira sobre ele: a ultradireitista Marine Le Pen.
Na lógica de um modelo eleitoral que propicia a bipolaridade, somente um proclamado antissistema como Macron - profundamente identificado com a mesma elite que pretende reformar - podia desafiar de frente a mulher que quer chegar ao topo da V República francesa.
Jovem, bonito e inteligente, com aspecto de genro perfeito e de primeiro da classe, o ex-ministro de Economia se transformou, com seus 39 anos, no favorito para presidir a França durante os próximos cinco anos, segundo as pesquisas.
Seria preciso investigar muito para encontrar precedentes do fenômeno "macronista" nas democracias ocidentais.
Há um ano era ainda um quase desconhecido ministro de Economia que tinha conseguido desenvolver apenas uma tímida lei liberalizadora e que se distinguia mais por suas saídas de tom que por sua influência sobre os cofres do país.
Se Macron buscava alguma coisa desde sua entrada no governo socialista, em agosto de 2014, foi ter uma voz própria.
Isso lhe permitiu discordar em assuntos centrais como a reforma da Constituição impulsionada pelo presidente François Hollande - e que encalhou no parlamento - para retirar a nacionalidade francesa dos condenados por terrorismo.
A contínua procura por um perfil diferenciado, à direita do Partido Socialista, mas com preocupações sociais e cosmopolitas que o afastam dos conservadores, converteu Macron em uma entidade estranha na política francesa: um liberal.
E assim, de passagem, se erigiu na nêmesis quase perfeita de Le Pen. Dois "intrusos" com visões opostas. Protecionismo e recolhimento frente a multiculturalismo e abertura.
Filho de dois médicos de Amiens, no norte do país, Macron se formou no grande reduto gaulês de cargos públicos, a ENA (Escola Nacional de Administração), onde coincidiu com uma geração que hoje ocupa importantes cargos estatais.
Após completar seus estudos, ele começou a trabalhar como inspetor de finanças, antes de desembarcar no banco de investimentos Rothschild em 2008, do qual chegou a ser sócio.
Esse trabalho lhe valeu o rótulo de "amigo das finanças" entre seus rivais, apesar dele insistir que é precisamente isso o que lhe distingue dos políticos profissionais que viveram toda sua vida do dinheiro público.
"Não quero fazer carreira política, não estarei aqui por 15 anos", disse em um recente encontro em Paris com mulheres.
Como banqueiro, já conciliou seu trabalho com a colaboração com o então candidato à presidência François Hollande.
Convencido de que "a política é uma droga dura", entrou no Palácio do Eliseu em 2012 junto a Hollande como secretário-geral adjunto, onde foi o arquiteto das primeiras reformas econômicas impulsionadas pelo presidente socialista.
Seu pecado original, não ter sido nunca eleito para um cargo em eleições, lhe privou de ser ministro do Orçamento no primeiro gabinete de Manuel Valls, em março de 2014, mas não foi assim no segundo, cinco meses depois, quando assumiu a pasta da Economia das mãos do esquerdista Arnaud Montebourg.
Sua intenção de rumar solitário ficou clara há um ano com o nascimento do movimento político "Em Marcha", plataforma inspirada na campanha de Barack Obama nos Estados Unidos, após sair do governo em agosto.
Músico talentoso (ganhou prêmios como pianista no conservatório de Amiens) e leitor de filosofia, sua presença na mídia francesa se estendeu aos tabloides pela peculiar história de amor que lhe une com sua esposa, Brigitte Trogneux, sua antiga professora no colégio e 24 anos mais velha que ele.
Os mais próximos a Macron reconhecem a enorme influência que Trogneux exerce sobre o candidato e o ativo papel que esta tem na tomada de decisões sobre sua exposição midiática.
O aparecimento de ambos na capa da revista "Paris Match", apenas uma semana depois que o então ministro lançasse o "Em Marcha", encheu de maldade os comentários sobre o casal.
"A vida política é muito violenta para o entorno. Os prazeres narcisistas frequentemente são solitários, mas as dificuldades são compartilhadas", refletiu Macron no mesmo ato com mulheres, antes de proclamar que, "quando for eleito, Brigitte terá seu lugar, não atrás nem escondida, senão a meu lado, onde sempre esteve".
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