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ONU alerta que mercado da droga cresce enquanto surgem novas substâncias

22/06/2017 11h20

Luis Lidón

Viena, 22 jun (EFE).- A ONU divulgou nesta quinta-feira o Relatório Mundial sobre Drogas 2017, que mostra que no mundo há mais tipos de drogas e estas estão mais disponíveis e são mais potentes, enquanto o número de consumidores se mantém estável há cinco anos em 250 milhões de pessoas, 5% da população do planeta.

Este "florescimento" do mercado das drogas é o aspecto mais destacado do relatório, divulgado em Viena, que aponta que 29,5 milhões pessoas têm transtornos graves pelo consumo dessas substâncias.

Só uma em cada seis pessoas que precisam de tratamento por estes transtornos recebe assistência, a maioria nos países desenvolvidos, critica o documento.

"Aumentou a situação de risco para a saúde pela diversificação e a potência de novas substâncias", explicou Angela Me, coordenadora do relatório, em uma coletiva de imprensa em Viena.

A especialista usou como exemplo o fentanil, um novo analgésico em pó 50 vezes mais potentes que a heroína e que causou numerosas overdoses nos EUA nos últimos anos.

"O mercado das drogas continua evoluindo e o número de substâncias segue aumentando", acrescentou Me, que explicou que a situação muda a uma velocidade tão rápida que é um grande desafio dar uma resposta legal ao mesmo ritmo.

Também surgem novas substâncias psicotrópicas que imitam drogas tradicionais de origem vegetal, como os canabinóides sintéticos, que são um risco, porque são muito mais potentes e sua composição pode ser especialmente nociva.

Entre 2009 e 2016, a ONU contabilizou 739 destas substâncias, que aparecem e desaparecem com muita rapidez e cujos componentes químicos variam muito.

A ONU calcula que em 2015 houve pelo menos 190 mil mortes no mundo por uso de drogas, um cálculo muito conservador se for considerado que só nos EUA morreram neste mesmo ano 52,4 mil pessoas por overdose.

O grupo de drogas mais letais e daninhas são os opioides, como a heroína e os seus análogos sintéticos, que causam, por overdose, a maior parte das mortes.

O seu consumo com seringas é além disso especialmente arriscado porque é mais fácil contrair doenças como hepatite C ou o vírus HIV.

Em 2016, a produção mundial de ópio aumentou 1/3 em comparação com o ano anterior, devido, sobretudo, ao grande crescimento das plantações no Afeganistão.

O México é o terceiro país por superfície de papoula, com 26,1 mil hectares, e a sua produção ilegal abastece o mercado dos EUA.

Quanto à cocaína, ocorreu um aumento da produção, tráfico e consumo no mundo, tanto nas regiões com maior demanda, Europa e América do Norte, como na Ásia, um mercado novo e crescente para esta droga.

"A fabricação mundial de cloridrato puro de cocaína alcançou 1,12 mil toneladas em 2015, o que representa um aumento geral de 25% com relação a 2013", indica o reporte sobre a quantidade de cocaína pura manufaturada.

"É certo que a produção de cocaína aumentou, mas segue sendo menor que há dez anos. Se esta tendência for a longo prazo, é positiva", disse Angela Me.

A ONU fala de dados de análise das águas residuais em certas cidades - detecta assim certos compostos químicos presentes na droga - para indicar que o consumo de cocaína na Europa aumentou pelo menos 30% entre 2011 e 2016.

"O narcotráfico parece ter aumentado ligeiramente em 2015, e os mercados de algumas drogas, especialmente cocaína e substâncias sintéticas, parecem estar prosperando", afirma o relatório.

Perante uma situação que os especialistas da ONU avaliam como sombria, com poucos avanços, Angela Me destacou como aspecto positivo a cooperação internacional e disse que nunca antes tinha sido expropriada tanta droga, que no caso da cocaína chegou a 864 toneladas.

No entanto, estes confiscos também indicam que o mercado das drogas está ascensão.

O relatório aponta que o narcotráfico e as vendas de drogas supõe entre 1/5 e 1/3 dos investimentos de grandes grupos transnacionais de crime organizado.

Entre as novas tendências, que são um desafio para a luta contra o crime, está o crescimento da venda de drogas na rede escura ("dark net") ou internet profunda ("deep web"), onde é preservado o anonimato dos participantes

"As comunicações móveis oferecem novas oportunidades aos traficantes, enquanto 'a rede escura' permite aos usuários comprar drogas e medicamentos sem se idenficar", conclui a ONU.