Novo presidente se distancia de Correa e precipita fim de uma era no Equador
Daniela Brik.
Quito, 19 dez (EFE).- Lenín Moreno, que ganhou as eleições para a presidência do Equador, não demorou para se distanciar de seu antecessor, Rafael Correa, ao promover um plano de reajuste econômico e uma consulta popular para o começo de 2018, que antecipam o fim de uma era.
No tema político, 2017 começou no país andino com as eleições presidenciais de 19 de fevereiro, que tiveram seu segundo turno em 2 de abril e nas quais Moreno e seu companheiro de chapa Jorge Glas, candidato à vice-presidência, venceram por apenas 200 mil votos, respectivamente, o opositor Guillermo Lasso e Andrés Páez, da coalizão conservadora liberal Creo-Suma.
O triunfo foi acompanhado por suspeitas de fraude eleitoral que se dissiparam com o passar dos meses.
Então, muitos consideraram que o novo presidente eleito, que assumiu o cargo em 24 de maio e tinha sido vice-presidente de Correa entre 2007 e 2013, seria uma figura continuísta.
Mas logo ficou claro que o fim da era Correa, após uma década à frente dos desígnios do país, não representava uma mudança meramente formal, mas também a maneira de fazer política desde Carondelet (sede presidencial em Quito).
Correa se despediu em julho e se mudou para a Bélgica e fez isso, segundo disse, deixando "a mesa servida" e colocando sob dúvidas se seu sucessor e correligionário seguiria seu caminho de revolução popular.
Moreno ordenou a elaboração de um relatório econômico cujos resultados apontaram pouco depois que a dívida do país era muito superior à oficial, de US$ 27,8 bilhões, e já chega a US$ 50 bilhões, em virtude de um cálculo que incluiu as contas pendentes que o Estado tinha com instituições públicas.
Para atenuar esta situação, o presidente apresentou em outubro um plano financeiro que procura incentivar a produção, estimular o emprego, proteger a dolarização e fortalecer os programas sociais, por sua vez ajustando o cinto das despesas supérfluas da Administração.
A política de austeridade de Moreno tenta reduzir o déficit fiscal, que chega a 4,7% do PIB, com o horizonte de que em 2020 será de 1%.
No terreno político, a agenda ficou marcada pelo processo contra Glas, preso preventivamente desde 2 de outubro e sentenciado em 13 de dezembro a 6 anos de prisão por formação de quadrilha na trama de subornos da construtora brasileira Odebretch.
O caso aconteceu depois que Moreno retirou as funções de Glas em agosto por desavenças políticas e quando começavam a surgir as primeiras informações que o vinculavam ao escândalo de corrupção que sacode o continente.
O mesmo escândalo também criou desavenças entre Correa e Moreno, que foram elevando o tom em paralelo à profunda divisão no partido Aliança País (AP) entre os seguidores do atual presidente e os leais ao anterior.
A crise, no começo de outubro, aprofundou raízes quando Moreno anunciou seus planos de convocar uma consulta popular com sete perguntas, entre elas, uma que poderia derrubar uma emenda constitucional que permite a reeleição indefinida.
Essa decisão, acompanhada por um diálogo com todos os setores sociais, reflexiona a vontade aberturista e conciliadora de Moreno frente ao estilo mais dado ao confronto político de Correa, acabou por dividir a Aliança País (AP), o movimento de esquerda que respalda o Governo no poder desde 2007.
Após criticar Moreno por supostamente fraquejar perante a direita, no final de outubro a ala correísta o destituiu como líder da formação oficialista em uma surpreendente reunião do Executivo de AP, decisão que deixou a justiça deixou sem efeito e não foi reconhecida pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
A facção díscola rejeita frontalmente a consulta programada para 4 de fevereiro, que recebeu, no entanto, enorme apoio social e inclui perguntas sobre a luta contra a corrupção, a defesa da natureza, reformas à normativa sobre acréscimo e sobre a proibição para que prescrevam os crimes sexuais contra menores.
A convocação da consulta mediante decreto, pois o presidente não esperou que a Corte Constitucional se pronunciasse sobre a questão sob o argumento de que tinha expirado o prazo precetivo para isso, foi criticada pelos seguidores de Correa.
O ex-governante retornou ao país para participar de uma convenção organizada no começo de dezembro, para supostamente "limpar" a formação perante a "traição" de Moreno e sua consulta, que tachou de "golpe de Estado".
Mas apesar do grande ruído midiático que provocou seu regresso ao Equador, Correa abandonou o país com mais tristeza do que glória. EFE
db/ff/id
Quito, 19 dez (EFE).- Lenín Moreno, que ganhou as eleições para a presidência do Equador, não demorou para se distanciar de seu antecessor, Rafael Correa, ao promover um plano de reajuste econômico e uma consulta popular para o começo de 2018, que antecipam o fim de uma era.
No tema político, 2017 começou no país andino com as eleições presidenciais de 19 de fevereiro, que tiveram seu segundo turno em 2 de abril e nas quais Moreno e seu companheiro de chapa Jorge Glas, candidato à vice-presidência, venceram por apenas 200 mil votos, respectivamente, o opositor Guillermo Lasso e Andrés Páez, da coalizão conservadora liberal Creo-Suma.
O triunfo foi acompanhado por suspeitas de fraude eleitoral que se dissiparam com o passar dos meses.
Então, muitos consideraram que o novo presidente eleito, que assumiu o cargo em 24 de maio e tinha sido vice-presidente de Correa entre 2007 e 2013, seria uma figura continuísta.
Mas logo ficou claro que o fim da era Correa, após uma década à frente dos desígnios do país, não representava uma mudança meramente formal, mas também a maneira de fazer política desde Carondelet (sede presidencial em Quito).
Correa se despediu em julho e se mudou para a Bélgica e fez isso, segundo disse, deixando "a mesa servida" e colocando sob dúvidas se seu sucessor e correligionário seguiria seu caminho de revolução popular.
Moreno ordenou a elaboração de um relatório econômico cujos resultados apontaram pouco depois que a dívida do país era muito superior à oficial, de US$ 27,8 bilhões, e já chega a US$ 50 bilhões, em virtude de um cálculo que incluiu as contas pendentes que o Estado tinha com instituições públicas.
Para atenuar esta situação, o presidente apresentou em outubro um plano financeiro que procura incentivar a produção, estimular o emprego, proteger a dolarização e fortalecer os programas sociais, por sua vez ajustando o cinto das despesas supérfluas da Administração.
A política de austeridade de Moreno tenta reduzir o déficit fiscal, que chega a 4,7% do PIB, com o horizonte de que em 2020 será de 1%.
No terreno político, a agenda ficou marcada pelo processo contra Glas, preso preventivamente desde 2 de outubro e sentenciado em 13 de dezembro a 6 anos de prisão por formação de quadrilha na trama de subornos da construtora brasileira Odebretch.
O caso aconteceu depois que Moreno retirou as funções de Glas em agosto por desavenças políticas e quando começavam a surgir as primeiras informações que o vinculavam ao escândalo de corrupção que sacode o continente.
O mesmo escândalo também criou desavenças entre Correa e Moreno, que foram elevando o tom em paralelo à profunda divisão no partido Aliança País (AP) entre os seguidores do atual presidente e os leais ao anterior.
A crise, no começo de outubro, aprofundou raízes quando Moreno anunciou seus planos de convocar uma consulta popular com sete perguntas, entre elas, uma que poderia derrubar uma emenda constitucional que permite a reeleição indefinida.
Essa decisão, acompanhada por um diálogo com todos os setores sociais, reflexiona a vontade aberturista e conciliadora de Moreno frente ao estilo mais dado ao confronto político de Correa, acabou por dividir a Aliança País (AP), o movimento de esquerda que respalda o Governo no poder desde 2007.
Após criticar Moreno por supostamente fraquejar perante a direita, no final de outubro a ala correísta o destituiu como líder da formação oficialista em uma surpreendente reunião do Executivo de AP, decisão que deixou a justiça deixou sem efeito e não foi reconhecida pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
A facção díscola rejeita frontalmente a consulta programada para 4 de fevereiro, que recebeu, no entanto, enorme apoio social e inclui perguntas sobre a luta contra a corrupção, a defesa da natureza, reformas à normativa sobre acréscimo e sobre a proibição para que prescrevam os crimes sexuais contra menores.
A convocação da consulta mediante decreto, pois o presidente não esperou que a Corte Constitucional se pronunciasse sobre a questão sob o argumento de que tinha expirado o prazo precetivo para isso, foi criticada pelos seguidores de Correa.
O ex-governante retornou ao país para participar de uma convenção organizada no começo de dezembro, para supostamente "limpar" a formação perante a "traição" de Moreno e sua consulta, que tachou de "golpe de Estado".
Mas apesar do grande ruído midiático que provocou seu regresso ao Equador, Correa abandonou o país com mais tristeza do que glória. EFE
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