Comediante muçulmana satiriza radicalismo islâmico em shows na Indonésia
Ricardo Pérez-Solero.
Jacarta, 30 nov (EFE).- A comediante Sakdiyah Ma'ruf utiliza o humor para falar do radicalismo islâmico e dos direitos da mulher na Indonésia, o país com a maior população muçulmana do mundo e que pune a blasfêmia com até cinco anos de prisão.
"Os terroristas se parecem muito mais com a Kim Kardashian do que com qualquer muçulmano, publicam vídeos na internet e estão desesperados por chamar a atenção", diz ela, vestida com o véu islâmico, durante uma de suas apresentações.
Brincadeiras como esta arrancam gargalhadas e geram a empatia de milhares de fãs e seguidores, mas também a colocam em uma posição complicada para conseguir equilibrar o humor, a religião, o gênero e sua origem, que é em uma conservadora família árabe da ilha de Java.
Ao todo, 88% dos mais de 260 milhões de habitantes da Indonésia professam o islã, a maioria de forma moderada. No entanto, após a transição democrática, que aconteceu com a queda do regime do ex-presidente Hadji Mohamed Suharto, em 1998, a influência dos grupos extremistas aumentou de forma progressiva.
Durante uma conversa com a Agência Efe em um café de Jacarta, Sakdiyah, que é considerada a primeira comediante muçulmana da Indonésia, admite que o que mais a preocupa não é a crescente intolerância de grupos extremistas no país, mas alguns de seus familiares.
"Infelizmente, um de meus maiores oponentes é uma pessoa que era muito próxima de mim: a minha irmã, que acaba de se juntar a um desses grupos fundamentalistas. Ela disse: 'pelo amor de Deus, por favor, não use o fundamentalismo e o extremismo nos seus shows e jogue fora todos esses livros feministas'", contou a artista, de 36 anos, casada e mãe de uma menina de sete meses, que fica com o marido no camarim enquanto ela trabalha.
Em 2015, Sakdiyah recebeu o prêmio internacional Václav Havel de Desafio Criativo, mas rejeita o título de "corajosa", já que "acaba legitimando o estereótipo de que as muçulmanas são tão reprimidas que você tem que dar um prêmio a uma muçulmana só porque ela faz monólogos".
Mesmo assim, a pressão social na Indonésia, aliada às leis contra a ofensa a uma divindade e contra Informação e Transações Eletrônicas (ITE), que geram penas de até cinco e seis anos de prisão, respectivamente, tornam perigoso brincar com assuntos relacionados à religião.
Sakdiyah disse que durante o regime de Suharto, entre 1967 e 1998, quando os grupos radicais foram reprimidos, os humoristas sabiam que enfrentavam o governo, mas agora a pressão é exercida através da "mão invisível" que leva à autocensura.
Além disso, Sakdiyah esclarece que suas piadas não são sobre o islã, mas "sobre muçulmanos e a maneira com que praticam o islã", e que "nunca ridicularizaria o Corão ou a mensagem do profeta".
Depois de ter a filha, a artista resolveu focar suas apresentações mais nas mulheres.
"Em parte por causa da pressão para a autocensura e em parte porque percebi que desde o começo fiz isso para as mulheres", explicou.
O medo, admitiu, faz parte da profissão quando ela recebe mensagens que desejam o mal da criança, mas também quando pensa em de que forma Deus enxerga o seu trabalho.
"Estou com medo de ir contra Deus, mas não podemos perguntar a ele, né?", comentou, em um dos poucos momentos em que não brinca.
Apesar de o marido dizer que "a veia cômica é uma missão", ela tenta minimizar a imagem de rebeldia e garante que sua intenção é ter "uma conversa amorosa" com a família.
"Sempre fui uma pessoa com dificuldade para me expressar e tentava encontrar maneiras de sair do lugar. Agora, aos 36 anos, percebo que, na verdade, eu sonhava era em encontrar uma maneira de entrar", resumiu.
Jacarta, 30 nov (EFE).- A comediante Sakdiyah Ma'ruf utiliza o humor para falar do radicalismo islâmico e dos direitos da mulher na Indonésia, o país com a maior população muçulmana do mundo e que pune a blasfêmia com até cinco anos de prisão.
"Os terroristas se parecem muito mais com a Kim Kardashian do que com qualquer muçulmano, publicam vídeos na internet e estão desesperados por chamar a atenção", diz ela, vestida com o véu islâmico, durante uma de suas apresentações.
Brincadeiras como esta arrancam gargalhadas e geram a empatia de milhares de fãs e seguidores, mas também a colocam em uma posição complicada para conseguir equilibrar o humor, a religião, o gênero e sua origem, que é em uma conservadora família árabe da ilha de Java.
Ao todo, 88% dos mais de 260 milhões de habitantes da Indonésia professam o islã, a maioria de forma moderada. No entanto, após a transição democrática, que aconteceu com a queda do regime do ex-presidente Hadji Mohamed Suharto, em 1998, a influência dos grupos extremistas aumentou de forma progressiva.
Durante uma conversa com a Agência Efe em um café de Jacarta, Sakdiyah, que é considerada a primeira comediante muçulmana da Indonésia, admite que o que mais a preocupa não é a crescente intolerância de grupos extremistas no país, mas alguns de seus familiares.
"Infelizmente, um de meus maiores oponentes é uma pessoa que era muito próxima de mim: a minha irmã, que acaba de se juntar a um desses grupos fundamentalistas. Ela disse: 'pelo amor de Deus, por favor, não use o fundamentalismo e o extremismo nos seus shows e jogue fora todos esses livros feministas'", contou a artista, de 36 anos, casada e mãe de uma menina de sete meses, que fica com o marido no camarim enquanto ela trabalha.
Em 2015, Sakdiyah recebeu o prêmio internacional Václav Havel de Desafio Criativo, mas rejeita o título de "corajosa", já que "acaba legitimando o estereótipo de que as muçulmanas são tão reprimidas que você tem que dar um prêmio a uma muçulmana só porque ela faz monólogos".
Mesmo assim, a pressão social na Indonésia, aliada às leis contra a ofensa a uma divindade e contra Informação e Transações Eletrônicas (ITE), que geram penas de até cinco e seis anos de prisão, respectivamente, tornam perigoso brincar com assuntos relacionados à religião.
Sakdiyah disse que durante o regime de Suharto, entre 1967 e 1998, quando os grupos radicais foram reprimidos, os humoristas sabiam que enfrentavam o governo, mas agora a pressão é exercida através da "mão invisível" que leva à autocensura.
Além disso, Sakdiyah esclarece que suas piadas não são sobre o islã, mas "sobre muçulmanos e a maneira com que praticam o islã", e que "nunca ridicularizaria o Corão ou a mensagem do profeta".
Depois de ter a filha, a artista resolveu focar suas apresentações mais nas mulheres.
"Em parte por causa da pressão para a autocensura e em parte porque percebi que desde o começo fiz isso para as mulheres", explicou.
O medo, admitiu, faz parte da profissão quando ela recebe mensagens que desejam o mal da criança, mas também quando pensa em de que forma Deus enxerga o seu trabalho.
"Estou com medo de ir contra Deus, mas não podemos perguntar a ele, né?", comentou, em um dos poucos momentos em que não brinca.
Apesar de o marido dizer que "a veia cômica é uma missão", ela tenta minimizar a imagem de rebeldia e garante que sua intenção é ter "uma conversa amorosa" com a família.
"Sempre fui uma pessoa com dificuldade para me expressar e tentava encontrar maneiras de sair do lugar. Agora, aos 36 anos, percebo que, na verdade, eu sonhava era em encontrar uma maneira de entrar", resumiu.
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