Êxodos em massa se multiplicam e causam mais tragédias em 2018
Redação Central, 19 dez (EFE).- Eles atravessam mares em embarcações precárias, percorrem milhares de quilômetros sujeitos às mais variadas intempéries, tentam saltar muros em fronteiras, se amontoam em barracas de campanha longe da terra natal. São refugiados, deslocados e migrantes que fogem da violência e da fome para tentar um presente e um futuro melhores.
"Com 68 milhões de pessoas que abandonam seus países e seus lares, é preciso mais asilo, mais solidariedade e, se esta tendência seguir em sentido contrário, para um estreitamento das normas de asilo, corremos o risco de não encontrar soluções na Europa", disse há poucos dias à Agência Efe, em Madri, o titular do Alto Comissariado da Agência da ONU para Refugiados (Acnur), o italiano Filippo Grandi.
Diversos países vivenciaram casos de êxodo em grande escala, alguns em situação urgente.
No Afeganistão, cerca de 3,6 milhões de pessoas estão à beira da crise de fome, uma situação que não é somente consequência do conflito armado que assola o país, mas da pior seca que se viu em mais de uma geração.
"Não só estamos diante de uma situação de pobreza abjeta e de conflito, mas também diante de uma grande seca", disse no final de novembro o coordenador da ONU para a assistência humanitária ao Afeganistão, Toby Lanzer.
Na Etiópia a violência étnica causou o deslocamento de 200 mil pessoas até os campos da Região Somali, no leste, desde julho, o que eleva o número de deslocados nesta região para 1,1 milhão, segundo o Conselho Norueguês de Refugiados.
Nesta região, a maior em tamanho do país, calcula-se que haja 700 mil deslocados que fugiram da violência entre comunidades e etnias, desencadeada sobretudo por conflitos de terra e de poder. Nestes campos não há suficientes agências de cooperação, e as mortes por fome se multiplicam.
No que diz respeito à Somália, a violência em diversas partes do país causou o deslocamento de cerca de 2,6 milhões de pessoas, muitas delas sem acesso à assistência humanitária. No país há lutas entre clãs, mas também há seca.
O conflito nas províncias do nordeste de Kivu do Norte e Ituri é uma das razões para que na República Democrática do Congo não haja acesso a alimentos, com quase 750 mil deslocados nos primeiros oito meses do ano.
Além disso, a recessão das economias locais está também por trás desta crise humanitária, depois que a produção de alimentos básicos como milho, mandioca e arroz caiu em média 39% este ano.
Enquanto isso, no Sudão do Sul, mais de 6 milhões de pessoas, quase 60% da população, sofrem de fome de forma aguda, segundo a ONU.
Em agosto, o governo e os grupos rebeldes assinaram um acordo de paz para tentar pôr fim ao conflito suscitado no final de 2013, dois anos depois da independência do país, que gerou deslocamentos de população e perda de infraestruturas.
Na América Latina, a situação é especialmente complexa no caso da Venezuela, onde, segundo dados da Organização Internacional de Migração (OIM) e do Acnur, quase 2,5 milhões de pessoas deixaram o país nos últimos quatro anos.
Além disso, desde outubro, milhares de centro-americanos atravessam sua região e o México com a intenção de chegar à fronteira com os Estados Unidos e ficar neste país, mesmo diante da rejeição do governo de Donald Trump.
No Iraque, devido à destruição das cidades, 2,9 milhões de pessoas vivem atualmente em campos de deslocados, segundo dados do Acnur.
A mesma Agência da ONU para os Refugiados cifra em 723 mil o número de rohingyas que fugiram da violência em Mianmar há mais de um ano. Agora estão retidos em um longo exílio em Bangladesh após a repatriação fracassada de semanas atrás.
"A responsabilidade para criar as condições para um retorno voluntário é de Mianmar", reforçou em comunicado a agência, que acrescentou que Mianmar deveria permitir que representantes dos rohingyas visitem e comprovem as condições dos lugares onde devem situá-los.
Já no Mediterrâneo, neste ano morreram mais de 1,7 mil pessoas tentando chegar à Europa. Por outro lado, 150.000 solicitantes de asilo e migrantes conseguiram chegar ao continente europeu desde que começou o ano, o que indica que o nível atual é similar ao registrado antes de 2014, quando começou a grande crise de refugiados na Europa. EFE
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