Número de jornalistas assassinados por seu trabalho dobra em 2018
Nova York, 19 dez (EFE).- O Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ, na sigla em inglês) denunciou nesta quarta-feira o aumento do número de profissionais da informação assassinados em 2018 - 53 no total - e destacou que a quantidade de assassinados em represália por seu trabalho praticamente dobrou.
"O número de jornalistas assassinados em represália por seu trabalho praticamente dobrou em 2018 em comparação com o ano passado, o que elevou o número total de jornalistas assassinados em seu trabalho", indicou o CPJ em um relatório no qual denuncia especialmente a execução em um consulado da Arábia Saudita na Turquia do jornalista saudita estabelecido nos Estados Unidos, Jamal Khashoggi.
Até o dia 15 de dezembro, foram registradas 53 mortes de jornalistas no total, enquanto em 2017 o número foi de 47 e em 2016 de 50.
Entre essas mortes, pelo menos 34 foram assassinatos premeditados de jornalistas como vingança por seu trabalho, enquanto em 2017 o número de profissionais mortos pelo mesmo motivo foi de 17.
O CPJ citou o Afeganistão como o país com mais mortes de profissionais da informação devido ao "aumento dos ataques deliberados contra jornalistas cometidos por extremistas".
Apenas no país asiático 13 jornalistas morreram, nove deles no dia 30 de abril em um duplo ataque suicida cuja autoria foi assumida pelo grupo terrorista Estado Islâmico (EI).
A ONG também destacou a morte de quatro jornalistas no México, que no ano passado liderou a lista com pelo menos seis profissionais assassinados.
Além disso, o CPJ lembrou os assassinatos de outros quatro repórteres nos Estados Unidos, cometidos por uma pessoa que tinha denunciado sem sucesso o veículo no qual trabalhavam, no estado de Maryland, por uma suposta difamação.
Segundo a ONG, esse foi "o ataque individual mais mortal contra a imprensa na história recente dos Estados Unidos".
No total, o CPJ assinalou que 34 repórteres foram assassinados em represália por seu trabalho, 11 morreram em fogo cruzado em conflitos armados, e outros oito em missões perigosas, como protestos violentos.
Para o Comitê, o aumento de mortes acontece em um momento no qual "o encarceramento de jornalistas alcançou um alto número, aumentando a profunda crise mundial da liberdade de imprensa".
Em seu relatório, a organização vincula esta crise às mudanças na tecnologia que, segundo o CPJ, permitiram que mais pessoas exerçam o jornalismo e, por outro lado, favoreceram grupos políticos e criminosos, que não precisam mais dos jornalistas para divulgar sua mensagem.
Além disso, o CPJ insiste que há "uma falta de liderança internacional sobre os direitos e a segurança dos repórteres".
A ONG, cuja sede fica em Nova York, também dedicou parte de seu dossiê para denunciar o assassinato na Turquia por agentes sauditas do jornalista saudita estabelecido nos Estados Unidos, Jamal Khashoggi, um caso que destacou como ilustrativo da mencionada "falta de liderança".
"A Casa Branca, tradicionalmente um forte defensor da liberdade de imprensa em nível global, foi ambígua na hora de denunciar o assassinato de Khashoggi, apesar de que, segundo o jornal 'Washington Post', as conclusões da CIA asseguram que só o príncipe herdeiro (Mohammed bin Salman) poderia ter ordenado uma operação daquele tipo", segundo o CPJ.
Nesse sentido, a ONG lembrou as declarações do presidente americano, Donald Trump, que, ao ser perguntado sobre o tema, ressaltou que, "em todo o caso", a Casa Branca "tem a intenção de continuar sendo um parceiro sólido da Arábia Saudita".
"Essencialmente, Trump afirmou que os países que fazem negócios com os Estados Unidos estão livres para assassinar jornalistas, sem consequências", denunciou o CPJ.
O relatório também menciona o caso do jornalista tcheco Jan Kuciak, que foi assassinado em fevereiro.
Para o CPJ, essa morte, junto com a da jornalista do "Malta Times" Daphne Caruana Galizi em 2017, que "continuam sem solução", favorecem "um estado de impunidade que (...) perpetua uma maior violência".
Por outro lado, nas zonas de conflito, como Iêmen e Síria, o CPJ assinalou que as mortes de jornalistas em fogo cruzado tiveram o nível mais baixo desde 2011, devido à redução "de acesso nesses lugares", somadas ao exílio, ao abandono da profissão e à percepção de um risco alto demais por parte dos profissionais da informação.
Além dessas mortes, a ONG investiga o falecimento de outros 23 jornalistas para determinar sua origem.
Por sua vez, a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) também denunciou em seu relatório anual divulgado na última segunda-feira a deterioração da liberdade de imprensa e assinalou que 63 funcionários de meios de comunicação foram assassinados no mundo em 2018, o número mais alto em três anos. EFE
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