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Renúncia de Mattis provoca ansiedade e dúvidas entre aliados dos EUA

21/12/2018 18h19

Beatriz Pascual Macías.

Washington, 21 dez (EFE).- A renúncia de James Mattis como secretário de Defesa dos Estados Unidos provocou grande ansiedade e incerteza dentro do país e entre aliados da Casa Branca, que temem que a saída do general do governo possa permitir que o presidente do país, Donald Trump, ponha em prática seus piores instintos.

A Casa Branca afirmou hoje por meio de sua porta-voz, Sarah Sanders, que Mattis fez o "certo" ao apresentar a renúncia ontem, um dia depois de Trump anunciar a saída das tropas americanas da Síria.

"Se o secretário Mattis sente que não é a pessoa correta para ocupar o cargo, acho que o correto e honrável é o que ele fez, deixá-lo de lado", disse Sanders em entrevista à "Fox".

A notícia repercutiu mal entre os aliados dos EUA no mundo.

O presidente da Comissão de Relações Exteriores do parlamento da Alemanha, Norbert Röttgen, afirmou no Twitter que o mundo deve se preparar para "políticas ainda mais desenfreadas" de Trump.

"O que separa os EUA de outros países é sua estreita rede de alianças e a lealdade dos seus amigos. O general Mattis entendia isso. Trump não, como mostra a retirada das tropas da Síria. Com Mattis, a última voz racional deixa o governo", afirmou o parlamentar, aliado da chanceler da Alemanha, Angela Merkel.

Na carta de renúncia, Mattis fez uma firme defesa do sistema de alianças dos EUA no mundo e afirmou que a Casa Branca deve ser "decidida e inequívoca" na forma como lida com seus competidores, entre os quais citou a China e a Rússia.

Já o governo da França, muito ativo no conflito da Síria, lamentou a saída de Mattis e questionou as declarações de Trump sobre a derrota do grupo Estado Islâmico (EI) no país.

O presidente americano decretou o fim do grupo terrorista na Síria nesta semana para justificar a decisão de tirar suas tropas do país, mas, segundo a ministra de Defesa da França, Florence Parly, nem todos compartilham essa "interpretação" de Trump.

"Não concordamos com a análise que o califado territorial foi aniquilado. A decisão é extremamente grave e devemos terminar o trabalho", analisou a ministra francesa.

Mattis foi um grande defensor da aliança dos EUA com a Europa. Em várias ocasiões, o general defendeu a importância da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar que foi criticada por Trump porque alguns países europeus, como a Alemanha, não cumprem com o compromisso orçamentário em matéria de defesa.

A porta-voz da Otan, Oana Lungescu, afirmou que Mattis contribuiu decisivamente para manter a aliança forte e preparada para enfrentar grandes desafios de segurança. Além disso, ressaltou que o general é amplamente respeitado como militar e diplomata.

Dentro dos EUA, a saída de Mattis do governo também provocou consternação, especialmente pelo fato de o secretário deixar claro na carta de renúncia que deixaria o cargo por discordar de Trump.

Outros integrantes da Casa Branca, como o chefe de gabinete, John Kelly, que abandona o atual posto em janeiro, saíram indicando que a mudança era uma tentativa de remodelar o governo. Até então, eles preferiram minimizar os desacordos evidentes com o presidente.

Segundo o jornal "The New York Times", que cita funcionários do Departamento de Defesa, Mattis foi à Casa Branca ontem para apresentar a renúncia a Trump. De volta ao Pentágono, pediu que seus assessores imprimissem 50 cópias da carta que entregou ao presidente para que ela fosse distribuída dentro do órgão.

Um dos senadores que mais rápido reagiu à renúncia de Mattis foi o republicano Bob Corker, que disse que o general sempre colocou o país acima de seus interesses pessoais.

Em uma declaração que ficou famosa, feita em novembro do ano passado, Corker afirmou que só três integrantes do governo Trump "separavam os EUA do caos": Kelly, Mattis e o ex-secretário de Estado Rex Tillerson, que deixou o cargo em março deste ano.

Kelly entrega o posto de chefe de gabinete em 1º de janeiro. Já Mattis segue no comando do Pentágono até 28 de fevereiro. EFE