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Cuba encerra 2018 sem um Castro presidente e com economia em apuros

13.dez.18 - Cubanos fazem fila em frente a uma padaria de Havana, para comprar pão - Yamil Lage/AFP
13.dez.18 - Cubanos fazem fila em frente a uma padaria de Havana, para comprar pão Imagem: Yamil Lage/AFP

Lorena Cantó

Havana

30/12/2018 04h00

Cuba terminará o ano de 2018 governada pela primeira vez em quase 60 anos por um presidente que não tem o sobrenome Castro e imersa na reforma de sua Constituição, um processo com o qual tenta reforçar a tímida abertura econômica dos últimos anos, insuficiente para ativar uma economia em apuros permanentes.

No dia 19 de abril, o general Raúl Castro, no poder desde que seu irmão Fidel adoeceu em 2006, passou o bastão a Miguel Díaz-Canel, um engenheiro eletrônico de 57 anos forjado na base do Partido Comunista de Cuba, iniciando uma largamente anunciada mudança de geração com uma clara mensagem de continuidade, em vez de transição.

Castro seguirá à frente do partido único até 2021, e Díaz-Canel, no primeiro discurso como presidente, dissipou as dúvidas sobre o papel que será exercido até lá pelo dirigente octogenário. "Liderará as decisões de maior transcendência para o presente e o futuro", anunciou.

O novo governante percorreu o país nos primeiros meses para conhecer em primeira mão os muitos problemas que assolam os cubanos, com a preocupação de melhorar a economia nacional e enfrentar a corrupção nos setores estatal e privado.

Homem usa a internet no seu celular em Havana no dia em que Cuba liberou o acesso completo ao serviço, no começo de dezembro - Yamil Lage/AFP - Yamil Lage/AFP
Homem usa a internet no seu celular em Havana no dia em que Cuba liberou o acesso completo ao serviço, no começo de dezembro
Imagem: Yamil Lage/AFP

Com a crise na Venezuela, principal parceiro político e econômico de Cuba, os baixos preços dos minerais e a queda do turismo devido às novas sanções dos Estados Unidos, a economia não crescerá os 2% que o governo previa inicialmente, mas 1% no melhor dos cenários.

Para este cenário crítico ainda contribuiria a entrada em vigor, em dezembro, de novas normas de contenção ao setor privado a fim de "reordenar" o chamado "cuentapropismo" - quando um profissional vive do próprio negócio - após meia década em ebulição.

No entanto, em uma decisão sem precedentes e diante do mal-estar e desânimo que as medidas tinham causado nos profissionais autônomos e na opinião pública, o governo revogou no último minuto as regulações mais polêmicas, como a que só permitia ter uma licença ou a que limitava a capacidade dos restaurantes a 50 assentos.

Esse setor já agrupa quase 600 mil cubanos, gera 13% dos empregos e forneceu 14,6% das receitas do orçamento nacional em 2017.

Além disso, a retirada do Brasil de milhares de médicos cubanos por diferenças com o presidente eleito, Jair Bolsonaro, desferiu outro inesperado golpe nos cofres da ilha.

O tubo de oxigênio para as finanças estatais continua sendo um investimento estrangeiro que ainda não chega no ritmo esperado pela lentidão burocrática com a qual se aplicam as reformas aberturistas impulsionadas sob o mandato de Raúl Castro.

Precisamente para reforçar essas reformas, Cuba atravessa um processo de reforma constitucional em cujos debates participaram quase 9 milhões dos 11,2 milhões de habitantes do país e, pela primeira vez, também os residentes no exterior.

A nova Carta Magna, que não introduz mudanças no sistema político e substituirá a de 1976, será votada em fevereiro e reconhece a propriedade privada, elimina o termo "comunismo", introduz as figuras de presidente da República e primeiro-ministro e abre a porta ao casamento gay.

Este último ponto foi um dos mais discutidos pelos cubanos, que também insistiram na insuficiência dos salários estatais - US$ 30 mensais em média - ou as limitações ao "cuentapropismo".

No cenário internacional, as relações com os Estados Unidos seguiram em vertiginosa deterioração após a freada forte dada pelo presidente Donald Trump na aproximação iniciada por Barack Obama.

Díaz-Canel viajou em setembro ao país vizinho com uma intensa agenda e uma mensagem conciliadora, condicionada como sempre a que Washington não questione a soberania da ilha nem interfira em questões internas.

2.nov.18 - O presidente cubano, Diaz-Canel (esq.), e o presidente russo, Vladimir Putin, durante encontro em Moscou - Alexander Zemlianichenko - Alexander Zemlianichenko
2.nov.18 - O presidente cubano, Diaz-Canel (esq.), e o presidente russo, Vladimir Putin, durante encontro em Moscou
Imagem: Alexander Zemlianichenko

Ao mesmo tempo, as relações políticas e econômicas entre Havana e Moscou tomaram novo fôlego e foram seladas em novembro com uma visita do presidente cubano à Rússia na qual foram assinados vários acordos financeiros e Vladimir Putin prometeu que seu país garantiria a soberania energética cubana.

Depois da Rússia, Díaz-Canel esteve na China, Coreia do Norte, Vietnã e Laos - todos aliados - e depois recebeu o presidente do governo da Espanha, o socialista Pedro Sánchez, na primeira visita oficial de um chefe do Executivo espanhol ao país caribenho em 32 anos.

A visita de Sánchez buscou impulsionar as relações institucionais com Cuba, preparar uma viagem dos reis da Espanha em 2019, promover os investimentos ibéricos na ilha e respaldar os quase 300 empresários espanhóis já presentes e que sofrem problemas de falta de pagamentos.

A ilha, duramente golpeada em 2017 pelo furacão Irma, não teve ciclones neste ano, embora a tempestade subtropical Alberto tenha causado graves danos em maio no centro do país.

Por outro lado, o país ficou de luto pelo acidente aéreo de 18 de maio no qual morreram 112 dos 113 ocupantes de um voo da companhia Cubana de Aviación que caiu pouco depois de decolar do aeroporto de Havana.

Cuba se despedirá do ano aquecendo motores para o 500º aniversário de Havana, e em 1º de janeiro comemorará o 60º aniversário do triunfo da Revolução liderada por Fidel Castro.