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Migrantes de primeiras caravanas ainda esperam receber asilo no México

25/01/2019 06h03

Mitzi Fontes.

Tapachula (México), 25 jan (EFE).- Quase quatro meses depois de entrarem ilegalmente no México, dezenas de migrantes das primeiras caravanas que cruzaram a América Central rumo aos Estados Unidos ainda esperam regularizar sua situação com um visto humanitário.

Logo após chegarem ao território mexicano, no ano passado, estes migrantes aderiram ao plano "Está em sua casa", oferecido pelo então presidente do país, Enrique Peña Nieto.

Porém, eles continuam aguardando uma resposta, porque o processo é lento, e a espera os obriga a se manterem longe dos olhos da sociedade a maior parte do tempo.

Desde que saíram de El Salvador, eles permaneceram com medo de serem deportados, como Elena Peña, que migrou com alguns parentes e sente falta do resto da família e do lugar onde nasceu e cresceu.

"É triste deixar sua terra natal, é duro deixar sua família", afirmou ela à Agência Efe, contendo o choro.

Na entrada da Comissão Mexicana de Ajuda a Refugiados (COMAR), Elena contou ter tomado a decisão de deixar o país de origem após um dia ela e sua família terem sido assaltados e ameaçados de morte.

"Deixei minha casa, levaram tudo. Uns rapazes estão incomodando por lá, matando gente. Quando ameaçam alguém, é melhor ir para outro lugar", disse.

Elena tentava ser atendida na primeira vez em que foi ao COMAR, que indicará quais são os trâmites que ela deverá cumprir para ser beneficiada com um visto humanitário.

"Sei que é tarde, tem muita gente esperando, este caminho é mais longo (do que insistir na ilegalidade). Mas prefiro realizar todos os trâmites. Gosto de (o estado de) Chiapas, aqui ficarei", afirmou.

Elena se disse grata a Deus porque ela e os parentes que a acompanham estão bem, e agora espera receber ajuda para cumprir os trâmites e ficar de vez no México.

Ela admitiu que nos primeiros meses em que permaneceu em Chiapas não procurou o serviço de migração por medo de ser deportada. Mas agora se sente confiante em dar o próximo passo.

"Você se sente mal, porque é discriminada, tratada com desconfiança. Deus ajuda, é preciso ter confiança Nele e ter força de vontade", contou.

Por sua vez, Susana Elizabeth Pineda, nora de Elena, afirmou não ser fácil encontrar um emprego digno enquanto se tem status ilegal.

"Os empregadores dão preferência aos mexicanos e aos guatemaltecos, argumentando que os salvadorenhos, hondurenhos e nicaraguense somos pessoas conflituosas e que não se adaptam com os mexicanos", lamentou.

"Perdemos nosso trabalho (quando saíram de El Salvador), e quando encontrávamos algum, nos negavam, diziam que tínhamos que ser mexicanas. Muitas vezes me disseram isso, e me restava ficar em casa, deprimida", acrescentou.

Para muitos migrantes, as novas políticas mexicanas são uma esperança para que deixem de ser alvo de extorsão, de assassinato por quadrilhas ou abusos por parte das autoridades.

"Estamos cansados de que nos vejam como ratos, que nos vejam com desconfiança", disse Elena.

Desde os últimos meses de 2018, chegaram ao México cerca de 11.500 migrantes centro-americanos, principalmente de Guatemala, El Salvador e Honduras, e mais de 10 mil pediram para entrar no país de forma legal, através de um cartão de visitante por razões humanitárias. EFE