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Talibãs apontam fim da luta no Afeganistão após saída de tropas estrangeiras

30/01/2019 14h46

Cabul, 30 jan (EFE).- Os talibãs afirmaram nesta quarta-feira que deterão a guerra e a luta no Afeganistão se houver a retirada total das tropas estrangeiras, ao mesmo tempo que asseguraram que não buscam o monopólio do poder, mas um governo no qual todos os afegãos sejam representados.

"O Emirado Islâmico (como se autodenominam os talibãs) assegura à nação afegã que depois da retirada das tropas estrangeiras, não haverá guerra e nem luta pela nossa parte" no Afeganistão, declarou em entrevista o dirigente talibã Sher Mohammad Abbas Stanekzai, o principal negociador dos insurgentes nas conversas com os Estados Unidos em Catar.

A entrevista, a primeira deste tipo, foi oferecida a uma site afegã favorável aos talibãs, que publica regularmente informação relacionada com a organização insurgente no Afeganistão.

Stanekzai assegurou que sua luta foi declarada contra os invasores estrangeiros, e uma vez que as tropas estrangeiras abandonem o país, os afegãos poderão trabalhar juntos para formar um governo de inclusão que seja aceitável para todo o mundo.

"Não queremos o monopólio do poder (político)", disse o representante talibã, que dirigiu o escritório político do movimento em Catar desde 2015 e foi substituído recentemente pelo mulá Abdul Ghani Baradar, líder adjunto dos talibãs.

"Formaremos um governo no Afeganistão que seja aceitável para a comunidade internacional" e no qual "toda a nação terá sua parte e todas as etnias estarão representadas", afirmou Stanekzai.

O dirigente reiterou que os talibãs não manterão conversas diretas com o Governo afegão, por considerá-lo um regime "imposto pelos Estados Unidos" ao povo afegão.

"Uma vez que asseguramos que os Estados Unidos iniciaram uma retirada honesta, então estaremos prontos para a segunda fase, para nos sentar com os afegãos; os idosos tribais, os líderes políticos e as elites chegarão a um acordo (sobre o futuro governo) antes da completa retirada completa das tropas estrangeiras", um tema que, segundo ele, ambas as partes acordaram nas conversas em Catar na semana passada.

Stanekzai garantiu também que os talibãs e os EUA estão "de acordo com a retirada das tropas e em assegurar que o solo afegão não será utilizado para atacar os EUA", pelo qual as duas partes formarão dois grupos técnicos para finalizar estes dois temas e apresentar suas decisões na próxima rodada de conversas previstas para 25 de fevereiro no Catar.

Ambas as partes, disse, anunciarão oficialmente um acordo sobre a retirada das tropas na próxima rodada, onde as Nações Unidas e a Organização para a Cooperação Islâmica, assim como alguns países, estarão presentes como "fiadores".

A troca de prisioneiros, a anulação da lista "negra" dos líderes talibãs e o reconhecimento de seu escritório político por parte da ONU e dos países serão temas que serão discutidos na próxima conversa, adiantou.

Stanekzai estimou que a retirada das tropas poderia demorar "meses" e incluirá "todas as tropas militares estrangeiras", inclusive a guarda da embaixada americana.

Com relação às próximas eleições presidenciais afegãs, que estão programadas para julho, Stanekzai disse que este pleito é "ilegal" e que o governo que se forme como resultado dos mesmos será "ilegal", pois não representaria toda a nação.

Nos últimos meses, insurgentes e americanos mantiveram várias reuniões nos Emirados Árabes Unidos e Catar, e os talibãs também se reuniram com representantes iranianos em Teerã no final do dezembro. EFE