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Potências advertem para riscos do movimento unilateral de Trump no Golã

27/03/2019 21h22

Mario Villar.

Nações Unidas, 27 mar (EFE).- As potências internacionais reforçaram nesta quarta-feira sua rejeição à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de reconhecer a soberania de Israel sobre as ocupadas Colinas do Golã e advertiram para os riscos deste movimento unilateral.

O Conselho de Segurança da ONU discutiu a declaração aprovada nesta segunda-feira por Trump em reunião de emergência, na qual Washington defendeu que este passo pode ajudar a acalmar o Oriente Médio.

"A decisão é de importância estratégica e de segurança crítica para o Estado de Israel e os Estados Unidos acreditam que podem contribuir para a estabilidade", assegurou Rodney Hunter, coordenador político da missão americana nas Nações Unidas.

No entanto, um a um, os membros do Conselho de Segurança rejeitaram o movimento, que vai explicitamente contra resoluções aprovadas no passado pelo órgão.

Rússia, China, França e Reino Unido - os quatro membros permanentes do Conselho junto aos Estados Unidos - foram todos claros em sua oposição à decisão americana.

As críticas mais duras, como é habitual, vieram de Moscou, o grande aliado do governo sírio, que salientou que Washington está pondo em perigo a relativa calma que reina nesse enclave estratégico.

"É inaceitável", lamentou o representante russo na reunião, Vladimir Safronkov, que acusou os EUA de darem "passos unilaterais que minam as tendências positivas" no terreno.

Além disso, Safronkov disse que o reconhecimento da soberania israelense nas Colinas do Golã complica a situação na Síria e as possibilidades de normalizar relações entre Israel e os países árabes.

O diplomata russo garantiu que a decisão confirma a aposta americana pelo unilateralismo no Oriente Médio, após a transferência da sua embaixada em Israel para Jerusalém e sua retirada do acordo nuclear com o Irã.

O Reino Unido e a França, dois dos principais parceiros dos EUA no Conselho de Segurança, também deixaram clara sua oposição, lembrando que a anexação de territórios pela força está proibida sob as normas internacionais e que esse reconhecimento mina a efetividade desse sistema legal.

"Toda tentativa de afastar-se do direito internacional e das resoluções deste Conselho para substituí-las por decisões unilaterais está condenada ao fracasso", disse a diplomata francesa Anne Gueguen.

Segundo insistiu, o enfoque dos EUA não só não levará a paz na região, como também fragiliza a ordem jurídica internacional.

A Alemanha, que como os demais países europeus rejeita a medida de Trump, utilizou parte de seu discurso, no entanto, para denunciar a "hipocrisia" do governo sírio por recorrer à ONU para denunciar o que considera uma "violação da lei internacional", quando está há anos cometendo graves crimes contra sua própria população.

A atitude do regime de Bashar al Assad e sua cooperação com o Irã e o movimento libanês Hezbollah é um dos argumentos utilizados pelos Estados Unidos para justificar seu movimento.

"Quem diz que a Síria deve controlar o Golã está tomando uma posição que não está baseada na realidade. Permitir que o Golã esteja controlado pelo regime de Assad e os seus apoios iranianos ignoraria as atrocidades cometidas e ignoraria a ameaça muito real à existência de Israel", defendeu através das redes sociais nesta quarta-feira o enviado americano para o Oriente Médio, Jason Greenblatt.

O mesmo enfoque foi o defendido na reunião do Conselho de Segurança pelo embaixador israelense, Danny Danon, que insistiu que a segurança do seu país está em jogo nas Colinas do Golã.

Apesar da ampla rejeição à decisão de Trump, fontes diplomáticas admitem que não se espera nenhuma medida concreta em resposta por parte do Conselho de Segurança, uma vez que os EUA têm poder de veto. EFE