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Sem aval da PGR, ex-presidente da OAS cancela depoimento a promotores do Peru

25/04/2019 21h23

Lima, 25 abr (EFE).- O empresário José Aldemário Pinheiro Neto, o Léo Pinheiro, ex-presidente da construtora brasileira OAS, decidiu cancelar nesta quinta-feira o depoimento que prestaria à equipe de promotores que investiga a Lava Jato no Peru após consulta feita à Procuradoria-Geral da República (PGR).

Segundo o coordenador da equipe de promotores peruanos, Rafael Vela, que voltou a Lima após viagem ao Brasil para ouvir Pinheiro e Jorge Barata, ex-diretor da Odebrecht no Peru, o acordo de delação premiada do ex-presidente da OAS com a PGR ainda não foi homologado. Por isso, a defesa do executivo preferiu cancelar o depoimento.

Os promotores queriam perguntar a Pinheiro sobre o financiamento da campanha contra o impeachment de Susana Villarán, ex-prefeita de Lima (2011-2014), e sobre as propinas pagas para vencer a licitação para construir uma via expressa na capital peruana durante o governo de Luis Castañeda (2015-2018).

"Os advogados do ex-presidente da OAS determinaram que, por enquanto, ele não deve dar declarações à Justiça do Peru, apesar da ata assinada com um acordo de colaboração", disse Vela.

"Ao consultar a procuradoria federal em Brasília, ouviram que não seria conveniente e prudente que ele se submetesse a um interrogatório dentro de uma colaboração eficaz porque a delação dele ainda está pendente no Supremo Tribunal Federal (STF)", completou o coordenador da Lava Jato no Ministério Público do Peru.

Apesar da recusa inicial, Vela espera que a defesa de Leo Pinheiro possa reconsiderar a decisão nos próximos dias, já que o promotor peruano Germán Juárez permanecerá no Brasil até sábado.

"No entanto, isso não depende exclusivamente de nós", afirmou.

Os promotores conseguiram ouvir Jorge Barata, que confirmou que a Odebrecht pagou propinas aos ex-presidentes peruanos Alejandro Toledo, Alan García, Ollanta Humala e Pedro Pablo Kuczynski. A empresa também contribuiu para as campanhas de Lourdes Flores e Keiko Fujimori para a presidência do país.

Questionado sobre os efeitos da delação premiada de Barata para solucionar o escândalo da Odebrecht, Vela destacou que o Ministério Público trabalha com as ferramentas autorizadas pela Constituição.

Vela aproveitou a oportunidade para defender a independência da Justiça para investigar a corrupção no país.

"Qualquer intromissão no nosso trabalho sempre tem efeito preocupante por representar um menosprezo à garantia de independência no exercício da função jurisdicional ou à autonomia do Ministério Público", afirmou o promotor. EFE