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Capitã de navio da Sea Watch é libertada após atracar sem permissão na Itália

Carola Rackete, a capitã do Sea-Watch 3, de 31 anos, é escoltada do navio pela polícia e levada para interrogatório em Lampedusa, na Itália - REUTERS/Guglielmo Mangiapane
Carola Rackete, a capitã do Sea-Watch 3, de 31 anos, é escoltada do navio pela polícia e levada para interrogatório em Lampedusa, na Itália Imagem: REUTERS/Guglielmo Mangiapane

02/07/2019 19h04

A capitã do navio da ONG alemã Sea Watch, Carola Rackete, detida na Itália por levar sem permissão 40 imigrantes à ilha de Lampedusa, no sul da Itália, foi libertada nesta terça-feira, segundo informou a própria organização.

A ativista, de 31 anos, foi detida na madrugada de sábado, após atracar sem autorização em Lampedusa para desembarcar 40 imigrantes resgatados no dia 12 de junho no Mediterrâneo central e que estavam há 17 dias no mar esperando um porto.

Rackete foi acusada dos crimes de resistência ou violência contra embarcação de guerra e de tentativa de naufrágio por ter se chocado contra uma patrulha da Guarda de Finanças (polícia de fronteiras italiana) durante a operação de atraque, quando levou os imigrantes à terra.

A juíza da província de Agrigento, Alessandra Vella, negou os crimes e argumentou que Rackete cumpriu "um dever", o de salvar vidas no mar, segundo a imprensa local. Essa decisão gerou imediatamente a ira do ministro do Interior, Matteo Salvini, autor da política de portos fechados às embarcações das ONGs e que pedia a prisão da ativista.

No dia 12 de junho, a Sea Watch resgatou 53 imigrantes em frente às águas de Líbia, dos quais 13 foram desembarcados dias depois por razões médicas.

Como nenhum território com saída para o mar abriu as portas ao navio, no dia 26 de junho a capitã decidiu entrar sem permissão em águas de Lampedusa, da Itália, violando a proibição de Salvini, mas não chegou à terra porque foi interceptada primeiro pela Guarda de Finanças italiana.

Três dias depois, na noite de 29 de junho, a capitã chegou sem permissão ao porto dessa ilha, apesar da proibição dos agentes, e atracou em um dos píeres, batendo levemente em uma embarcação policial durante a manobra.

A ativista foi detida e, durante o interrogatório, justificou que entrou por necessidade, já que a situação que se vivia a bordo era insustentável, e que não queria se chocar com o navio da Guarda de Finanças.

Luigi Patronaggio, promotor de Agrigento, declarou que a colisão foi "voluntária", que os imigrantes aparentavam boas condições e que a capitã poderia ter esperado a Itália aprovar o atraque, já que há um acordo para a distribuição dos imigrantes na Europa.

Logo após saber da libertação, Salvini fez uma crítica velada à justiça e pediu a expulsão da ativista por considerá-la "perigosa para a segurança nacional".

"Para a justiça italiana, ignorar as leis e bater em uma embarcação da Guarda de Finanças não são motivos suficientes para ir à prisão. Nenhum problema. Tenho uma ordem preparada para expulsar a comandante criminosa ao seu país", avisou o ministro.

"Voltará à sua Alemanha, onde não seriam tão tolerantes com uma italiana que atenta contra a vida de policiais alemães. A Itália levantou a cabeça, estamos orgulhosos de defender o nosso país e de ser diferentes de outros líderes europeus que acham que podem nos tratar como uma colônia", acrescentou.

O Ministério do Interior detalhou que o governador da província de Agrigento já pediu que Rackete seja expulsa da Itália, sendo acompanhada até a fronteira, uma medida que ainda deve ser aprovada pelas autoridades judiciais.

Essa ordem não poderá ser executada antes de 9 de julho, data na qual a ativista será interrogada como parte da investigação do crime de favorecer a imigração irregular.

A própria organização humanitária expressou, através das redes sociais, o alívio pela libertação da capitã.

"Não havia motivos para a sua detenção, já que aqui a única irregularidade era cumprir os direitos humanos no Mediterrâneo e assumir a responsabilidade no lugar dos governos europeus", declarou a Sea Watch.