ONU, UE e União Africana pedem maior compromisso na luta contra o terrorismo
Patricia Martínez.
Nairóbi, 10 jul (EFE).- O secretário-geral da ONU, António Guterres e representantes da União Europeia (UE) e da União Africana (UA) pediram nesta quarta-feira à comunidade internacional um maior compromisso para prevenir e lutar contra o terrorismo durante uma conferência no Quênia.
"É hora de a comunidade internacional dar um passo adiante e proporcionar os recursos financeiros e técnicos necessários para respaldar um enfoque ético na luta contra o terrorismo, que respeite plenamente os direitos humanos, o Estado de direito e as considerações de gênero", afirmou Guterres em Nairóbi.
O secretário-geral da ONU fez essa declaração em uma conferência regional africana organizada na capital do Quênia pelo Escritório de Antiterrorismo das Nações Unidas.
"Lutar contra o terrorismo e prevenir o extremismo violento são prioridades fundamentais para a União Africana, a ONU, a África e o mundo", destacou Guterres diante dos jornalistas durante o primeiro dia deste fórum que terminará amanhã.
Por sua vez, o presidente da Comissão da UA, Moussa Faki Mahamat, descreveu o jugo que qualquer ameaça terrorista representa para países já empobrecidos e afetados pela crise climática como o Níger, de onde retornou ontem após participar de uma cúpula extraordinária da União Africana.
"O Níger encarna o paradoxo de muitos países do Sahel, obrigados a dedicar mais de um terço de seus orçamentos nacionais a lutar contra o terrorismo às custas de seu desenvolvimento", lamentou Mahamat, ao elogiar o trabalho da Força Conjunta do G5 Sahel.
Integrado por cerca de cinco mil soldados de Mali, Níger, Mauritânia, Burkina Faso e Chade, este grupo formado em 2014, mas que até 2017 não contava de forma oficial com uma unidade antiterrorista, é o encarregado de combater o extremismo jihadista no Sahel.
Além disso, Mahamat ressaltou os avanços realizados graças à UA e seus Estados-membros no Lago Chade, onde forças de Nigéria, Níger, Camarões e do próprio Chade permanecem mobilizadas desde 2015 a fim de resistir aos ataques do grupo jihadista Boko Haram.
Em representação da UE, o comissário europeu de Interior e Imigração, Dimitris Avramopoulos, destacou que "o terrorismo é uma ameaça transnacional que não pode ser derrotada por um único governo ou organização".
"Vamos reforçar nossa cooperação com a ONU e a União Africana para combater esta ameaça comum", ressaltou Avramopulos, acrescentando que "o futuro da Europa e da África estão vinculados" e que "agora é o momento de unir forças" para acabar com esse problema.
Já o anfitrião da conferência e presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, reconheceu o grande papel da África na hora de combater organizações terroristas como o grupo Al Shabab, que em janeiro atentou contra um complexo hoteleiro em Nairóbi e deixou 21 mortos de diversas nacionalidades.
Com relação a isso, o coordenador de Antiterrorismo do Departamento de Estado dos EUA, Nathan Sales, indicou que o "Al Shabab segue planejando e lançando ataques que matam inocentes e ameaçam países em toda a região".
Sales lembrou que seu país destinou nos últimos dois anos US$ 280 milhões para o apoio aos países africanos na luta contra o terrorismo, a fim de ajudá-los para que "possam derrotar as ameaças terroristas que enfrentam".
Por sua vez, Kenyatta enfatizou também a necessidade de uma "resposta pan-africana" a esta ameaça global que envolva governos, sociedade civil, serviços de inteligência, meios de comunicação e as instituições religiosas.
Todos os presentes na conferência classificaram, além disso, como crucial o fato não só de combater a ameaça jihadista, mas de prevenir que mais pessoas no mundo todo se somem a essa ideologia, sobretudo os jovens, pela falta de esperança de um futuro melhor.
"É fundamental para prevenir o extremismo violento criar as condições necessárias para que os jovens possam participar plenamente das nossas sociedades e no mercado de trabalho. A criação de emprego é uma prioridade absoluta para se sentirem envolvidos na esfera política e social", lembrou Guterres.
Nesta linha, a embaixadora de Juventude da UA, Aya Chebbi, pediu o fim da narrativa que só retrata os jovens africanos como delinquentes, imigrantes e desempregados e que se dê mais voz e espaço àqueles que a cada dia trabalham a favor da paz e da construção da "África que todos queremos".
"Muitos jovens interiorizaram a ideia de serem seres marginalizados que carecem de voz. Passemos a considerar a juventude africana como um ator coletivo positivo", sugeriu Chebbi.
Guterres também apontou para a urgência de reconhecer o papel da mulher, frequentemente uma das primeiras vítimas de grupos terroristas, como "as melhores mediadoras e elementos de coesão da nossa sociedade".
"É a nossa obrigação criar consciência entre a comunidade internacional e fazê-la entender que prevenir o extremismo violento na África e combatê-lo de forma efetiva não é só do interesse dos africanos, mas uma questão de segurança global", ressaltou.
"Manter a paz e a segurança na África é a melhor maneira de preservar a paz e a segurança no mundo", sentenciou o secretário-geral. EFE
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