Pandemia retarda imunização infantil e afeta 23 milhões de crianças
As 22,7 milhões de crianças que não receberam o DTP no ano passado representam um aumento acentuado em relação às 19 milhões em 2019. Com isso, em números da Organização Mundial da Saúde, o percentual de menores desprotegidos chegou a 17% em todo o mundo, o pior desde 2009.
Em 1980, o percentual era próximo a 80%, embora durante toda aquela década tenha havido uma grande universalização da vacina, de modo que, desde 1990, o índice variou entre 15% e 20%.
O principal fator por trás do declínio nas imunizações foi a pandemia da Covid-19, que paralisou os serviços de vacinação em muitos países, ou fez com que muitas famílias evitassem levar seus filhos para serem imunizados por medo de pegar o coronavírus.
"O mundo priorizou o combate à Covid, mas se não conseguirmos atingir e retomar os programas de vacinação essenciais, há um sério risco de grandes surtos de outras doenças", declarou a diretora do Departamento de Imunização da OMS, Katherine O'Brien.
A pesquisa também mostra um declínio na vacinação contra o sarampo, com a porcentagem de crianças que não receberam pelo menos uma dose no ano passado aumentando de 14% para 16%, enquanto 30% não receberam as duas doses necessárias, muito abaixo da meta universal de 95% necessária para evitar surtos.
"Não podemos saltar de uma crise de saúde para outra, e isso acontecerá se não prestarmos atenção aos avisos e nos comprometermos a imunizar todas as crianças do planeta", completou a diretora, apresentando números de um estudo da OMS e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
O'Brien também alertou que o número de meninas vacinadas contra o papilomavírus humano, uma imunização que pode ajudá-las a evitar formas maduras de câncer cervical, diminuiu. Cerca de 1,6 milhão de garotas não receberam essa vacina em 2020, contra 13 milhões em 2019.
O'Brien frisou que o declínio nas vacinações foi de especial preocupação no Sul da Ásia, no Oriente Médio e nas Américas, onde os programas de imunização também foram minados por "problemas financeiros, desinformação sobre vacinas e instabilidade política".
O país onde a maioria das crianças ficou desprotegida em termos absolutos foi a Índia, com 3,5 milhões de menores perdendo a vacina DTP, seguido pela Nigéria (3,1 milhões) e a República Democrática do Congo (1,5 milhão).
Na América Latina, as interrupções nos programas de imunização causadas pela Covid-19 impediram 650 mil crianças no Brasil e 563 mil no México de serem imunizadas contra difteria, tétano e coqueluche, de acordo com as estatísticas da OMS e do Unicef.
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