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Pandemia retarda imunização infantil e afeta 23 milhões de crianças

15/07/2021 01h42

Genebra, 15 jul (EFE).- Quase 23 milhões de crianças em todo o mundo não receberam em 2020 uma das vacinas mais comuns, a DTP, contra difteria, tétano e coqueluche, um número que representa um retrocesso de dez anos nos programas globais de vacinação e que teve como principal causa a pandemia da Covid-19.

As 22,7 milhões de crianças que não receberam o DTP no ano passado representam um aumento acentuado em relação às 19 milhões em 2019. Com isso, em números da Organização Mundial da Saúde, o percentual de menores desprotegidos chegou a 17% em todo o mundo, o pior desde 2009.

Em 1980, o percentual era próximo a 80%, embora durante toda aquela década tenha havido uma grande universalização da vacina, de modo que, desde 1990, o índice variou entre 15% e 20%.

O principal fator por trás do declínio nas imunizações foi a pandemia da Covid-19, que paralisou os serviços de vacinação em muitos países, ou fez com que muitas famílias evitassem levar seus filhos para serem imunizados por medo de pegar o coronavírus.

"O mundo priorizou o combate à Covid, mas se não conseguirmos atingir e retomar os programas de vacinação essenciais, há um sério risco de grandes surtos de outras doenças", declarou a diretora do Departamento de Imunização da OMS, Katherine O'Brien.

A pesquisa também mostra um declínio na vacinação contra o sarampo, com a porcentagem de crianças que não receberam pelo menos uma dose no ano passado aumentando de 14% para 16%, enquanto 30% não receberam as duas doses necessárias, muito abaixo da meta universal de 95% necessária para evitar surtos.

"Não podemos saltar de uma crise de saúde para outra, e isso acontecerá se não prestarmos atenção aos avisos e nos comprometermos a imunizar todas as crianças do planeta", completou a diretora, apresentando números de um estudo da OMS e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

O'Brien também alertou que o número de meninas vacinadas contra o papilomavírus humano, uma imunização que pode ajudá-las a evitar formas maduras de câncer cervical, diminuiu. Cerca de 1,6 milhão de garotas não receberam essa vacina em 2020, contra 13 milhões em 2019.

O'Brien frisou que o declínio nas vacinações foi de especial preocupação no Sul da Ásia, no Oriente Médio e nas Américas, onde os programas de imunização também foram minados por "problemas financeiros, desinformação sobre vacinas e instabilidade política".

O país onde a maioria das crianças ficou desprotegida em termos absolutos foi a Índia, com 3,5 milhões de menores perdendo a vacina DTP, seguido pela Nigéria (3,1 milhões) e a República Democrática do Congo (1,5 milhão).

Na América Latina, as interrupções nos programas de imunização causadas pela Covid-19 impediram 650 mil crianças no Brasil e 563 mil no México de serem imunizadas contra difteria, tétano e coqueluche, de acordo com as estatísticas da OMS e do Unicef.