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Merkel admite que terá que dialogar com Talibã para salvar vidas

"Talibãs receberam mais apoio do que gostaríamos", acrescentou Angela Merkel, chanceler da Alemanha - Pool/Getty Images
"Talibãs receberam mais apoio do que gostaríamos", acrescentou Angela Merkel, chanceler da Alemanha Imagem: Pool/Getty Images

20/08/2021 18h46Atualizada em 20/08/2021 18h56

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, admitiu nesta sexta-feira (20), após se reunir com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que precisará dialogar com os talibãs para salvar vidas no Afeganistão.

"Agora será necessário dialogar com os talibãs e tentar salvar aqueles cuja vida está ameaçada, para que possam abandonar o país. Os talibãs receberam mais apoio do que gostaríamos", disse a governante em entrevista coletiva conjunta no Kremlin.

Merkel insistiu que a prioridade de seu governo é ajudar aqueles que cooperaram com a Alemanha durante 20 anos de operações da Otan no país centro-asiático.

"Vamos dar refúgio a eles na Alemanha e tirar o maior número de pessoas possível nos próximos dias", anunciou.

A chanceler recordou também os acontecimentos de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, que levaram ao início da luta contra o terrorismo e da operação aliada no solo afegão.

"A situação com o terrorismo no Afeganistão tem piorado desde então. Mas a comunidade internacional deve combater o renascimento do terrorismo", argumentou.

Entretanto, Putin pediu a prevenção da desintegração do Estado afegão após a chegada dos talibãs ao poder, mas advertiu contra a interferência externa.

"O movimento talibã controla hoje em dia praticamente todo o território do país, incluindo a capital. Esta é a realidade. E devemos começar por aí, sem permitir, sem dúvida, a desintegração do Estado afegão", declarou.

Putin foi altamente crítico em relação à imposição de valores democráticos do Ocidente a outros países, política que considera "irresponsável" porque ignora as tradições desses povos.

"Vimos o que aconteceu no período conhecido como a Primavera Árabe, agora no Afeganistão. Todos os nossos parceiros devem tornar esta regra universal: tratem os parceiros com respeito e sejam pacientes se gostarem ou não de alguma coisa. Dar às pessoas o direito de decidir por si mesmas o seu destino, não importa quanto tempo demorem para percorrer o caminho da democratização", disse.

O mandatário russo lembrou que Moscou, referindo-se à invasão soviética do Afeganistão (1979-89), sabe em primeira mão como pode ser contraproducente tentar impor um sistema político estrangeiro, experiências que, segundo ele, "nunca" tiveram sucesso e só levam à desintegração dos Estados.

Por isso, Putin pediu para que EUA e União Europeia para "unam forças" com a Rússia para normalizar a situação no Afeganistão, inclusive com a ajuda humanitária.

De acordo com Putin, a presença ocidental no Afeganistão "não pode ser considerada um sucesso", mas Moscou não quer se contentar com este fracasso, uma vez que é de seu interesse a estabilidade na Ásia Central.