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Políticas de Bolsonaro ameaçam arqueologia no Brasil, dizem arqueólogos

Arqueólogos descobrem cemitério indígena de 500 anos na Amazônia - Divulgação/Instituto Mamirauá
Arqueólogos descobrem cemitério indígena de 500 anos na Amazônia Imagem: Divulgação/Instituto Mamirauá

Do UOL, em São Paulo

26/11/2019 09h49

Resumo da notícia

  • Arqueólogos que trabalham na região amazônica estão preocupados com a manutenção de suas atividades no governo de Jair Bolsonaro
  • "Nós precisamos de mais estudantes, mais pesquisadores, mais dinheiro. E agora, com o governo que temos...", comentou Eduardo Kazuo
  • Para Jennifer Watling, arqueóloga da USP, cortes de orçamento podem causar uma "geração perdida" de cientistas brasileiros

Arqueólogos que trabalham na região amazônica estão preocupados com a manutenção de suas atividades no governo de Jair Bolsonaro. Em matéria para o jornal britânico The Guardian, vários profissionais que buscam desvendar o passado da floresta falaram sobre o tema.

"Nós precisamos de mais estudantes, mais pesquisadores, mais dinheiro. E agora, com o governo que temos...", comentou Eduardo Kazuo, que no ano passado encontrou, ao lado da colega Márjorie Lima, um "cemitério indígena" de mais de 500 anos na região de Tauary, no Amazonas.

Eduardo Neves, professor da USP (Universidade de São Paulo), ecoou o sentimento de Kazuo. "É um momento incrível para a arqueologia no Brasil [com as novas descobertas], mas estamos ameaçados. A ciência e a educação superior como um todo estão sob uma nuvem sombria", definiu.

Uma política específica do governo criticada pelos arqueólogos na matéria é a proposta de retirar a obrigatoriedade de escavações arqueológicas antes da construção de obras como represas na região amazônica.

Eduardo Bespalez, que comanda com Silvana Zuse uma escavação perto de onde ficará a represa hidrelétrica de Santo Antônio, condenou a proposta: "Se eles mudarem a lei desta forma, a arqueologia está acabada no Brasil".

Outro aspecto do governo alfinetado na matéria são os cortes de orçamento no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, 87%) e na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (Capes, 50%), entre outros órgãos do governo.

Para Jennifer Watling, arqueóloga da USP, os cortes podem causar uma "geração perdida" de cientistas brasileiros. Já para Márjorie Lima, o objetivo é "descreditar a ciência" que contradiz a ideia da Amazônia como "uma região selvagem a ser explorada".

Eduardo Neves resumiu suas preocupações: "A Amazônia precisa ser protegida não só porque é natural, mas porque representa um sistema muito sofisticado de conhecimento, que se desenvolveu através de milênios. Ainda não temos ideia de tudo o que podemos aprender".