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Da favela à Copa: por que um negro de cabelo descolorido incomoda?

Gabriel Bouys/AFP
Imagem: Gabriel Bouys/AFP

Colaboração para o UOL, de São Paulo

16/12/2022 11h14

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O "loiro pivete" faz parte de um ritual masculino, preto e periférico desde os anos 1990, sobretudo com a chegada do verão ou em momentos de celebração. No jogo entre Brasil e Croácia, pelas quartas de finais na Copa do Mundo, não foi diferente: uma série de homens negros com cabelos loiros se misturavam entre as quatro linhas.

Após a derrota, no entanto, o estilo dos jogadores foi tratado como vaidade. Os críticos também apontaram que a coloração capilar influenciou na derrota por "tirar o foco dos jogadores" da competição. Mas será que foi isso mesmo?

Para Maxwell Andrade, artista nascido da favela da Rocinha, a resposta é não. Pois, "[para] o povo preto, platinar o cabelo é um movimento de celebração, brincadeira e beleza".

Descolorir o cabelo é uma afirmação de rebeldia, empoderamento e liberdade diante de qualquer estrutura discreta e indiscreta de aprisionamento do corpo negro. É desafiar a estrutura racista que rege o país. É mais uma coisa que não 'devíamos' ter: cabelo loiro. Aí isso vira símbolo de todas as coisas que foram negadas: nossos próprios corpos, autoestima, vaidade, dinheiro."
Maxwell Andrade, artista plástico

Para o artista plástico, pessoas negras serem vaidosas significa resistência. "Os pretos precisam ter o direito de decidir que tipo de rico querem ser. Falo isso porque essas críticas sobre a estética se estendem para nossas posses, dinheiro ou qualquer outro tipo de propriedade e decisão nesse sentido", diz.

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PROTAGONISTA... A nova novela das 19h da TV Globo será protagonizada por um homem negro. Samuel de Assis será um advogado idealista e sonhador. Em Splash, ele conta a importância de ter atores negros em narrativas bem-sucedidas.

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RACISMO CIENTÍFICO...
Já ouviu falar neste termo? Em Ecoa, a socióloga Letícia Ferreira explica seu surgimento e como ele pode impactar as populações negras no Brasil e no mundo.

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DANDO A LETRA

O Brasil deve voltar a ser um país com compromisso com a defesa dos direitos humanos, pois defender os direitos humanos da nossa população é defender uma vida digna para todas e todos nós."
Anielle Franco, colunista do UOL

A jornalista Anielle Franco. - Divulgação - Divulgação
A jornalista Anielle Franco.
Imagem: Divulgação

Em Ecoa, Anielle Franco pega carona no Dia dos Direitos Humanos e fala sobre os desafios do novo governo Lula e Eduardo Carvalho bate um papo com o escritor André Carvalhal, autor do livro "Como libertar o presente - Cocriação de novas narrativas", que reflete sobre sustentabilidade, saúde mental e autoconhecimento.

O samba tem nos ensinado sobre a História do Brasil enquanto intérprete coletivo de nossas experiências sociais. Observamos sentidos que convergem demonstrando como a experiência negra se construiu e ainda se constrói contrapondo impedimentos e tentativas de silenciamento."
Fernanda Oliveira, colunista do UOL

Em Presença Histórica, Fernanda Oliveira conta como o samba é uma manifestação cultural negra e coletiva que ensina sobre a história do Brasil em seus versos e trajetória de resistência.

Em VivaBem, Larissa Cassiano explica o que é placenta prévia, condição diagnosticada pela influencer Gabi Brandt, grávida do seu terceiro filho.

Em Esportes, Rodolfo Rodrigues entra no clima da final da Copa do Mundo entre França e Argentina e destaca a trajetória do técnico da seleção francesa, Didier Deschamps, que é o 6º técnico a chegar em duas finais da Copa.

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PEGA A VISÃO

Foram relatadas significativas discrepâncias entre a autodeclaração e a heteroidentificação racial dos candidatos, bem como um elevado número de alterações da autodeclaração em comparação com as declarações feitas nas eleições anteriores."
Trecho da PL nº 2697/2022

Áurea Carolina (PSOL), Talíria Petrone (PSOL), Benedita da Silva (PT), entre outros parlamentares, apresentaram um projeto de lei para tornar mais rígidos os mecanismos de identificação racial dos candidatos e impedir que brancos usem verba eleitoral destinada aos negros. A proposta prevê a aplicação do processo de heteroidentificação racial para todos os candidatos que visam receber valores das cotas do Fundo Eleitoral.

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SELO PLURAL

Papo Preto - Arte UOL - Arte UOL
Papo Preto
Imagem: Arte UOL

No episódio #109 de Papo Preto, o clima da Copa do Mundo abre espaço para o tema do racismo no futebol. A podcaster Stela Diogo recebe Marcelo Carvalho, idealizador e diretor do Observatório do Racismo no Futebol, iniciativa que monitora e divulga casos de racismo, além de promover ações educativas.