Marielle vence milicianos e bolsonaristas
As previsões não eram boas. Davam conta de que, mais uma vez, o corporativismo e o reacionarismo da Câmara falaria mais alto para tirar da cadeia o deputado federal Chiquinho Brazão, um dos políticos suspeitos de ligação com as milicias que infestam o Rio de Janeiro.
Por ordem dos Bolsonaros, o PL de Valdemar Costa Neto, o partido de maior bancada da Câmara, faria de tudo para salvar o aliado acusado pelo STF de ser um dos mandantes do brutal assassinato de vereadora Mariellle Franco há seis anos.
Mas, ao final desta última quarta-feira histórica, o Brasil civilizado tinha mais uma vez derrotado o Brasil da barbárie, graças à força da imagem de Marielle, que se tornou um símbolo da luta por justiça dos setores mais vulneráveis da nossa sociedade.
Acusados de ser mandantes e executores do bárbaro crime jamais poderiam imaginar que, tanto tempo depois, a figura altiva e corajosa da vereadora em primeiro mandato, hoje celebrada no mundo inteiro, iria se impor aos pequenos sabujos, aos policiais corruptos, aos mentores do golpismo do 8 de janeiro e ao medo dos parlamentares de associar seus nomes aos assassinos.
"Marielle! Justiça", gritaram os vencedores no plenário ao ser anunciado o resultado, depois de horas de negociação e tensão na Câmara. A diferença foi por apenas 20 votos, mas era o suficiente para impedir um dos maiores vexames da história do nosso Parlamento. A democracia brasileira respirou aliviada.
Não por acaso, o crime ocorreu no ano eleitoral de 2018, quando o Rio estava sob intervenção militar na Segurança Pública, comandada pelo general Braga Netto, que depois iria com Bolsonaro para o governo.
De tudo se fez, em todos os níveis de poder, para abafar o caso e embaralhar as investigações, com a participação direta do próprio chefe da polícia civil, que assumiu o cargo na véspera da morte de Marielle e do motorista Anderson Gomes.
Os nomes Chiquinho e Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas —ambos acusados de mandar matar Marielle —, apareciam e sumiam dos inquéritos como que por encanto. Só foram presos quando a Polícia Federal entrou no caso, já no novo governo, e o inquérito foi mandado ao Supremo Tribunal Federal, aos cuidados do ministro Alexandre de Moraes, sempre ele, o xerife implacável na defesa da democracia.
Por isso mesmo, ele se tornou o principal alvo dos bolsonaristas derrotados e dos Elon Musk da vida, que querem fazer do Brasil uma terra sem lei, uma terra ninguém para os seus negócios e ambições de poder.
A vitória de Marielle na Câmara foi também a vitória da sociedade civil contra o aparato político-militar-miliciano que desgraçou a vida do país durante quatro anos, e ainda não se deu por vencido.
Tanto, que já marcaram uma nova manifestação para a defesa dos golpistas, convocada por Bolsonaro para o próximo dia 21, em Copacabana, no mesmo Rio de Marielle.
Enquanto essa gente toda não fizer companhia aos Brazão, ninguém poderá viver em paz no Rio e no resto do país, hoje dominado, até na Amazônia, pelas milícias do crime organizado e seus representantes nos três Poderes. Marielle acordou o Brasil para os perigos que todos estamos correndo, com essa bandidagem solta por aí, dando as cartas, zombando das instituições democráticas.
Vivemos um grande paradoxo. Enquanto o Brasil civilizado tenta a duras penas reconstruir os órgãos de fiscalização e controle do Estado, desmantelados pelo bolsonarismo, os derrotados de 8 de Janeiro continuam à espreita para solapar a democracia no voto ou na bala, como se pode ver na barbárie cotidiana das milícias digitais fora de controle, agindo a todo vapor para espalhar fake News e ameaças em todas as plataformas.
Ao contrário do que pensavam seus inimigos, ainda falaremos de Marielle Franco por muito tempo, como símbolo de resistência democrática ao poder da força, da ignorância, do atraso e do dinheiro sujo.
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